Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Vitória do capital

Quarta, 12 de junho de 2013 
Paulo Metri –conselheiro do Clube de Engenharia
As notícias e as correspondentes análises, transmitidas pela mídia composta pelos grandes jornais, a quase totalidade das revistas semanais, as estações de rádio mais ouvidas, as TV abertas e os canais noticiosos da TV paga, fazem parte do ardil do capitalismo para continuar dominando na nossa terra. A manipulação atual de sociedades e países se dá sem exércitos e invasões, com exceção para os casos rebeldes.
Contudo, a violência da fome e da miséria, que a manipulação via mídia acarreta, é semelhante à da devastação de uma invasão. Se o brasileiro vive com o dinheiro apertado, em um país sem grande oferta de empregos de qualidade, se a falta de saneamento está na porta dele, trazendo odor indesejável para sua casa e germes para sua família, se o SUS não o cura nem os seus e assim por diante, é porque ele fez péssimas escolhas nos poucos momentos em que sua opinião poderia mudar o que existe.
E por que ele escolheu mal? O principal instrumento que leva às péssimas escolhas é a descrita mídia do capital, que o deixa mal informado ou desinformado. Nestas duas condições vulneráveis, ele escolhe candidatos com discursos previamente ensaiados por marqueteiros, os quais compõem outro instrumento de manipulação usado pelo capital. Assim, o brasileiro não escolhe os candidatos por temas que poderiam ser julgados como principais e, sim, por temas assessórios.
Um exemplo para tornar mais clara a questão. Um candidato com discurso fluente e eloquente denuncia a homofobia e quer diminuir os casos de mortes por abortos clandestinos, o que qualquer pessoa socialmente comprometida apóia, Entretanto, ele pertence a um partido que apóia a exploração desumana do capital e irá votar nas questões econômicas sempre contra os trabalhadores. Este candidato ilude, por não dizer que votará em temas econômicos contra os interesses da maioria da sociedade.
Já prestaram a atenção para o fato que esta mídia pertencente ao capital divulga ao extremo a Comissão da Verdade relativa à época da ditadura? Aliás, este é um dos poucos pontos positivos dela. Entretanto, é muito negativo ela nunca ter pregado a criação de uma absolutamente necessária Comissão da Verdade relativa ao período neoliberal. Obviamente, porque, nesta Comissão, iriam ser mostrados os danos sociais causados pelo capital. Tenho certeza que o liberalismo extremo, instalado no Brasil a partir da década de 90, já antecipou a morte de maior número de brasileiros do que os 21 anos de ditadura anteciparam.
A pessoa mal informada é detentora de informações erradas, acreditando serem corretas, graças à sempre culpada mídia. É grande a possibilidade de uma pessoa mal informada atuar, com a maior pureza d’alma, como uma estação repetidora dos erros que recebe. Pensa que as informações que recebeu são verdadeiras e não tem tempo, nem condições, de testar a veracidade delas. É triste, mas não há um debate público de idéias, por causa da mesma nefasta mídia. A pessoa desinformada também não está em boa condição, pois, nada sabendo, torna-se um campo fértil para marqueteiros mal intencionados.
Em uma estimativa “por sentimento”, diria que uns 80% da população votante brasileira formam sua opinião graças ao que vêm na TV aberta, ouvem nas rádios e nos bate-papos com amigos também desinformados, uns 15% acrescentam a leitura de grandes jornais e revistas semanais, além de assistirem a programas ditos informativos da TV paga e, finalizando, só uns 5% lêem a única exceção de revista semanal merecedora de leitura, algumas revistas mensais e jornais e sites alternativos. Desta forma, pode-se dizer que, muitas vezes, a maioria do povo brasileiro vota contra si própria, parecendo uma verdadeira boiada dócil, que, alheia, aceita ir para o matadouro.
No dia da recente 11ª rodada de leilões de blocos para a exploração de petróleo, em noticiários noturnos da televisão aberta, a divulgação da rodada, quando existiu, foi pífia. A retirada dos seios da Angelina Jolie ganhou, no mínimo, dez vezes mais tempo do noticiário que a rodada e, com todo respeito ao seu corajoso ato, a rodada tem maiores consequências para a vida do brasileiro que a mastectomia praticada. Aliás, a posição de quase nenhuma divulgação desta rodada, nas TV abertas, ocorreu durante todo o período anterior ao dia do evento. O capital optou, com relação a este tema e nesta mídia de grande alcance, por desinformar principalmente e, em menor escala, por mal informar.
Nos 500 anos do Brasil, os capitais estrangeiros e brasileiros “estão dando de goleada” na sociedade. Contudo, não sugiro o fim do capitalismo já, até porque precisaria existir um ser humano extremamente equilibrado. Mas, gostaria muito de ver rapidamente uma sociedade cultural e politicamente desenvolvida a ponto de rejeitar os abusos do capital, quando o teríamos sob controle. Assim, para iniciar este projeto, como iniciativa imprescindível, a mídia precisa ser pública e estar democratizada. Além disso, a população precisa participar, cada vez mais, de cursos de formação política.
Fonte: http://paulometri.blogspot.com.br