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(Millôr Fernandes)

sábado, 21 de setembro de 2013

O PSB e a Bahia

Sábado, 21 de setembro de 2013
Por Ivan de Carvalho
O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, pediu o boné e tirou seu partido do governo petista da presidente Dilma Rousseff.

         Campos, como se divulgou, quer ficar livre para articular sua possível candidatura a presidente da República sem ser atacado pelos petistas de “fisiologismo” e “apego aos cargos”, como já começara a acontecer.

         Essa ofensiva petista para desmoralizar o PSB e seu provável candidato à sucessão de Dilma Rousseff foi, aliás, o fator que apressou a decisão de Eduardo Campos de tirar seu partido do governo federal.

         A ofensiva que buscava caracterizar – aliás, pelos fatos disponíveis, indevida ou precipitadamente –, os socialistas como “fisiológicos” ou apegados a cargos, o que é mais ou menos a mesma coisa, era liderada pelo PT, mas contava com o reforço de outras forças partidárias, interessadas em dividir com o partido de Dilma Rousseff o espaço que, enxotado do governo, o PSB deixaria vazio na administração federal.

         Não esperavam os petistas que se produzisse um desenlace tão rapidamente. Aliados do PT provavelmente queriam que tudo acontecesse o mais depressa possível, porque são fominhas, como sabe toda a nação, mas o PT certamente gostaria de esticar o tempo de cozimento para obter o efeito de desmoralização do PSB, que, como já referido, buscava.

         Ocorreu que o neto de Miguel Arraes parece ser tão matreiro quanto o avô. Eduardo Campos é também ousado e foi mais esperto que os petistas pouquinha coisa. Percebeu a estratégia bem depressa e decidiu que não permitiria que os possíveis futuros adversários nas eleições presidenciais do ano que vem conseguissem manchar com o fisiologismo o PSB e o que a liderança e provável candidatura de Eduardo Campos têm de mais precioso – a idéia de representar “o novo”.

         Não dá para sustentar a imagem de “o novo” com uma imagem “fisiológica”, de apego aos cargos e às benesses do inflado Poder Executivo federal. Então, era mesmo sair logo, deixando o PT e o governo Dilma Rousseff no “ora, veja”, ou ficar protelando o desembarque enquanto vestia a roupa que tantos outros partidos já usam há anos ou mesmo décadas.

         Mas a decisão do comando do PSB, simbolizado pelo comunicado que o presidente nacional do partido, Eduardo Campos, fez à presidente Dilma Rousseff esta semana, tem consequências na Bahia.

         Aqui, a principal liderança do PSB – que não é um partido grande no estado – é a senadora Lídice da Mata, ex-deputada e ex-prefeita de Salvador. Ela é também a presidente (nunca a ouvi reivindicar o título de presidenta, o que é, digamos, meritório e de bom gosto) estadual do partido.

         Mas é por ser a principal liderança e senadora (o que lhe permite concorrer ao cargo de governador em 2014 e, perdendo, continuar no Senado mais quatro anos) que o comando nacional do PSB, mais especialmente o presidente nacional socialista Eduardo Campos, a quer como candidata ao governo baiano. Um objetivo disso é criar um fato que facilite a eleição de deputados (estaduais e, mais importante, federais) do partido na Bahia. E plantar sementes para as eleições municipais de 2016.

         Mas o objetivo principal é criar um palanque expressivo que dê a Eduardo Campos condições de montar, para sua candidatura a presidente, uma campanha eleitoral consistente na Bahia.

         Daí que soa realmente estranha declaração agora atribuída à senadora Lídice da Mata de que – evidentemente tendo o PSB um candidato a presidente da República –, haverá uma candidatura do partido ao governo baiano, seja a dela, seja outra. Outra? Outra qual? Será que a senadora, criativa que é, está pensando na mesma alternativa que eu estou pensando, o deputado Pastor Sargento Isidório? Por que não? Aposto que ele aceita. Há muito aprendeu que soldado no quartel...
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.