Domingo, 26 de outubro de 2014
Fonte: PCB
Ivan Pinheiro
Secretário Geral do PCB
Camaradas:
Senti necessidade de escrever essas modestas linhas, diante da
surpreendente repercussão da Nota Política do PCB, indicando o voto nulo
no segundo turno das eleições presidenciais de 2014.
Uma decisão corajosa como esta, que condicionou a tática à estratégia
socialista da revolução brasileira, reiterada pelo recente XV Congresso
Nacional do Partido, provocou esta saudável polêmica, exatamente porque
questiona o ritual que se repete nas últimas eleições, às vésperas das
quais o PT tem uma recaída de discurso à esquerda, levantando o fantasma
do golpe de direita, como se o capital quisesse derrubar o governo que
lhe deu lucros “como nunca antes na história deste país”.
O debate em geral tem sido num nível elevado, apesar de algumas
posturas passionais, ao sabor das pesquisas eleitorais, em função do
risco de o PT perder as eleições para si próprio.
O voto nulo não é uma questão de princípio para os comunistas, mas
uma posição política que exigimos seja respeitada. Se fossemos
bolivianos, não teríamos dúvidas de recomendar com entusiasmo o voto em
Evo Morales que, é bom lembrar, nunca correu risco de perder as recentes
eleições, porque efetivamente promoveu mudanças no sentido dos
interesses populares. Convocou uma Constituinte soberana logo no início
de seu primeiro mandato, estatizou os setores estratégicos da economia,
inclusive a multinacional Petrobrás, e desenvolveu uma política
anti-imperialista.
Hugo Chávez e Evo Morales, que adotaram medidas contrárias aos
interesses do imperialismo e das oligarquias locais, estes sim,
enfrentaram e venceram várias tentativas de golpes de estado, com o
decisivo apoio das massas, politizadas e radicalizadas pela disputa
ideológica desses processos de mudança.
Reparem que o CC do PCB teve o cuidado de registrar que “respeitamos
aqueles companheiros de esquerda que consideram que as diferenças entre
o PSDB e o PT ainda são relevantes e que votarão em Dilma como um mal
menor” e que “contamos com esses companheiros nas acirradas lutas que se aproximam”.
Fica claro, portanto, que nosso diálogo é com aqueles que querem
superar o capitalismo e não com os que querem humanizá-lo, como se isso
fosse possível.
Pretendo aqui privilegiar o tema mais citado como motivo do “voto
útil” em Dilma: o mito da política externa “progressista” ou
“anti-imperialista” dos governos petistas, o que positivamente delimita
nosso debate ao campo político internacionalista.
Quero começar lembrando que nenhum partido ou governo tem uma
política externa contrária à sua política interna ou incompatível com
sua base de sustentação política. E a política interna e externa dos
governos petistas é a prioridade absoluta no desenvolvimento do
capitalismo brasileiro, em âmbito nacional, regional e internacional,
com vistas à sua ascensão na pirâmide imperialista.