Segunda, 2 de junho de 2014
Jornal do Brasil
A denúncia feita pelo jornal britânico Sunday Times,
neste domingo (1), dando conta da existência de um sistema de propina e compra
de votos na eleição do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022, pode provocar
o cancelamento da escolha do país e obrigar a realização de um novo pleito.
As Federações de Austrália e Japão, que tentaram e não
conseguiram o direito de organizar o Mundial, estariam pressionando a Fifa.
A reportagem do Sunday Times apresentou documentos
mostrando que Mohamed Bin Hammam, ex-presidente da Confederação Asiática do
Futebol e membro do Comitê do Catar para a Copa, pagou 3 milhões de euros (R$
11,3 milhões) em subornos a dirigentes da Fifa para contar com seus votos na
eleição para sede do Mundial-2022. Os documentos foram apresentados ao
promotor Michael Garcia, chefe do Comitê de Ética da Fifa, que agora vai
avaliar as denúncias até o dia 9 de junho.
A denúncia traz à tona, mais uma vez, as práticas nebulosas
da Fifa, entidade bilionária e que se vê constantemente envolvida em casos
obscuros. E, em meio a este mar de lama que parece não ter fim, a escolha do
Brasil como sede da Copa de 2014 ganha ares também duvidosos. O
escritor Andrew Jennings, em seu livro Um jogo cada vez mais sujo [leia mais],
relata que Joseph Blatter teria entregado a Copa do Mundo para
Ricardo Teixeira, pelo fato de estar na hora certa de "pagar
favores".
A tudo isso, junta-se o fato de o Brasil, mais
especificamente o Rio de Janeiro, também ter sido escolhido para sediar a
Olimpíada, em 2016. Uma candidatura que custou R$ 100 milhões entre lobbies e
produção para a apresentação da cidade.
O universo de homens engravatados, negociatas, reuniões e
acordos, que toma conta de entidades que comandam o esporte no mundo, parece
estar a uma distância abissal do verdadeiro espírito esportivo, que prega a ética,
o respeito e a dignidade. A Olimpíada e a Copa se distanciaram de suas origens,
deixando evidente que o esporte se transformou num grande negócio. E só.
Por tudo isso, não é de surpreender que os protestos estejam
tomando conta do "país do futebol". A população que vai às ruas em
passeata não está contra o esporte, mas sim contra o que ele se transformou:
uma triste competição entre os mais espertos, mais sujos e mais gananciosos.