Quarta, 4 junho de 2014
Da
Agência Brasil*
Edição: Nádia Franco
A Justiça argentina irá investigar as declarações feitas em março
deste ano pelo coronel reformado do Exército Paulo Malhães, de 76 anos, à
Comissão da Verdade. Nos depoimentos, Malhães admitiu ter torturado,
matado e ocultado cadáveres de presos políticos durante a ditadura
militar no Brasil, entre as décadas de 60 e 80. Ex-agente do Centro de
Informações do Exército, Malhães morreu um mês depois de falar à
comissão. Ele foi encontrado morto em seu sítio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, após ter a casa invadida por três homens.
No
depoimento prestado em março deste ano, Malhães declarou que militares
brasileiros perseguiram e sequestram militantes políticos na década de
80 e fizeram operações conjuntas com o Batalhão 601, serviço de
inteligência do Exército da Argentina, durante o governo da junta
militar comandada por Leopoldo Galtieri (1981-1982). Como a morte do
coronel ocorreu um mês depois da confissão de tortura, membros da
Comissão da Verdade e movimentos de esquerda levantaram suspeitas de que
tenha havido queima de arquivo.
As declarações do coronel Malhães, morto no dia 25 de abril de ataque cardíaco,
quando supostos ladrões invadiram seu sítio no estado do Rio de
Janeiro, segundo informações da polícia, poderiam ser incluídas como
possíveis provas no julgamento em que o Estado argentino é acusado de
crimes contra a humanidade cometidos no âmbito da Operação Condor, como
foi chamada a colaboração das ditaduras militares no Cone Sul.
Malhães
disse à Comissão da Verdade que havia muitos argentinos “passeando pelo
Rio de Janeiro, desfrutando a vida. Alguns eram exilados políticos da
ONU [Organização das Nações Unidas], outros, não”. Segundo ele, a ordem
na época foi para que todos fossem fotografados.
As
frases do coronel foram divulgadas por meio de texto publicado na
última quinta-feira (29) pela Comissão da Verdade, que investiga as
violações de direitos humanos cometidos durante o período militar
brasileiro.
Em uma outra declaração, o militar informou que, por
ser trabalho, foi condecorado por militares argentinos. “Fiquei
famosíssimo na Argentina. Por isso, me deram uma medalha”, disse.
O
julgamento da atuação do Estado argentino na Operação Condor começou em
março do ano passado e o Tribunal Oral Federal do país julga 24
ex-chefes militares. Os juízes Arián Federico Grunberg, Oscar Ricardo
Amirante, Pablo Laufer e Ricardo Ángel Basílico investigam delitos
contra vítimas do Cone Sul que morreram ou desapareceram no território
argentino.
O debate se divide por etapas, segundo o país de
origem das vítimas ou dos delitos ocorridos. Primeiro, foram as vítimas e
os delitos cometidos no Uruguai. Até julho deste ano, serão julgados os
casos chilenos e, em seguida, os paraguaios, bolivianos e brasileiros.
Na
parte do Brasil, serão analisados três casos de vítimas argentinas que
morreram em território brasileiro. Por fazerem parte do grupo
guerrilheiro argentino Motoneros, integrantes do Batalhão de
Inteligência 601 detiveram Horacio Domingo Campiglia e Mónica Susana
Pinus de Binstock no Rio de Janeiro, quando chegavam de avião do Panamá,
em março de 1980. Ambos foram levados ao campo especial de operações
militares de Buenos Aires, o Campo de Mayo, e nunca mais aparecerem ou
se teve notícias.
A terceira vítima é Norberto Habbegger, sequestrado no Rio de Janeiro em 1978 por uma operação conduzida pelo Batalhão 601.
*Com informações da Télam