Quarta, 4 de junho de 2014
Do Blog Náufrago da UtopiaPor Celso Lungaretti
Os
grãos petistas estão fortemente empenhados em desqualificar os
brasileiros que torcerão (e protestarão) contra nossa seleção durante o
Mundial da Fifa. Consequentemente, instalou-se nas redes
propagandísticas do partido um clima que eu esperava nunca mais
presenciar, o de ame-o ou deixe-o!. Lá no inferno o ditador Médici e o torturador Fleury devem estar eufóricos, convencidos de que riram por último.
Não levo a sério o blablablá daqueles que nunca deram a mínima para o
futebol e agora desandam a escrever besteiras patrioteiras, na suposição
de que uma Copa do Mundo bem sucedida, culminando no hexa, contribuirão
fortemente para a reeleição de Dilma Rousseff; nem as daqueles que
sonham com um fracasso do oficialismo em julho e outubro.
Vejo com muita simpatia uma nova geração começando a protestar contra as
mazelas nacionais. Quem tem alma de revolucionário não pode, JAMAIS!, se colocar contra algo tão auspicioso (a voz das ruas não era ouvida desde o Fora Collor! de
1992) em função de mesquinhos cálculos eleitoreiros e da defesa
incondicional de um governo que está apenas aumentando um pouco a
quantidade de migalhas da mesa dos poderosos que é atirada aos
miseráveis.
O #NãoVaiTerCopa, contudo, me parece um exagero. Apesar das mil e
uma maracutaias por ela propiciadas; da opção velhaca por 12 sedes
quando a Fifa só exigia oito; dos investimentos que não foram feitos em
saúde, educação, transporte coletivo, geração de energia e abastecimento
de água; da arriscadíssima possibilidade de as Forças Armadas serem
incumbidas de tarefas que não lhes são afins, receita certa de
massacres; da indizível vergonha que todos os brasileiros dignos deste
nome sentiremos quando um filhote da ditadura estiver exibindo-se ao
mundo como dirigente máximo do nosso futebol; apesar de tudo isso, os
protestos deveriam voltar-se contra os culpados por tais descalabros e
não contra a realização do Mundial em si.
Mas, mesmo atendo-me aos fatores estritamente futebolísticos, meu coração balança.
Passei a meninice inteira escutando os relatos do meu pai sobre a
frustração que se abateu sobre os brasileiros quando do maracanazo, "a
principal avenida do bairro deserta como um cemitério, em plena noite de
domingo", etc. Não desejo isto para o nosso povo.
Também não desejo um triunfo conquistado da pior maneira possível, com a
cartilha truculenta do técnico Felipão, que sempre encarou o futebol
como guerra e não como esporte.
Os 3x0 sobre a Espanha, na final da Copa das Confederações, teriam sido
verdadeiramente gloriosos se o escrete não houvesse passado a partida
inteira tolhendo o jogo dos adversários com faltas e mais faltas --sem
violência, mas com premeditação.
A deslealdade não pode virar a nossa marca registrada, depois de termos
deslumbrado o mundo com a beleza pura que se irradiava das chuteiras imortais. Terão brotado ervas daninhas à sua sombra (*)?
No último sábado, o treinador fez soar novamente os tambores tribais, ao
cobrar dos seus comandados que fizessem mais faltas --com a maior
sem-cerimônia, como se este fosse um recurso normal, admissível e
desejável.
Consequentemente, contra o patético selecionado do Panamá os brasileiros cometeram O DOBRO
de faltas dos adversários, sem a mínima necessidade, pois não
encontraram resistência nenhuma. Quantas cometerão ao enfrentarem a
Alemanha ou a Argentina? Uma por minuto?!
Quanta estreiteza mental! De que adiantou livrarmo-nos do discípulo Dunga, se o seu substituto acabou sendo o mestre Felipão?
O primeiro, pelo menos, nunca gritou "Pega! Pega! Pega!", mandando seus
jogadores agredirem covardemente um adversário, como o segundo fez numa
final de Paulistão (o obediente Paulo Nunes cumpriu a ordem,
escoiceando Edílson pelas costas).
Infelizmente, um fracasso reforçará nosso complexo de vira-latas; e um triunfo, a síndrome de pitbulls. Qual é pior?
Meu coração balança.