Segunda, 14 de julho de 2014
O professor Wagner Iglesias fez um questionamento interessante e ao mesmo tempo assustador sobre as prisões políticas contra manifestantes no Rio no Facebook:
Quero crer (mas não tenho nenhuma certeza disso) que estas prisões sem base legal estão ocorrendo para não "atrapalhar" (desculpe o termo, não encontrei outro menos ruim) a Copa do Mundo, e que depois vão refluir. Mas não tenho certeza. O que te parece?
Ao que respondi:
A intenção do governo no momento é de evitar protestos, mas levando em conta que não é a primeira vez que usam este artifício que basicamente suspende a constituição para certos indivíduos, meu medo é que se torne algo comum. Se funcionar, ou seja, acabar diminuindo a potência dos protestos (mesmo que a prisões nem sejam o fator mais relevante pra isso), temo que vire lugar comum. Não custa nada ao Estado.
Não é a primeira vez
que o governo do Rio, com a anuência do governo federal, age contra
manifestantes com prisões preventivas absolutamente ilegais. E temo que
não será a última.
Até o momento as prisões estão sendo feitas para "garantir" a Copa do
Mundo, para evitar protestos, mas uma vez que estas medidas são vistas
como eficazes (ainda que seja impossível medir, dado que o movimento
#NãoVaiTerCopa, dentre outros, são horizontais), podem vir a se repetir
indefinidamente sempre que um governo - qualquer governo - se sentir
ameaçado ou vir seus interesses ameaçados.
A polícia e o Estado aprenderam com os protestos de junho. Ao invés de
ouvir as ruas, preferiram reprimi-la, e conseguiram em grande medida
fazê-lo. Em Minas cercaram manifestantes impedindo sua locomoção, em
outros estados simplesmente continuaram a abusar da violência cada vez
mais desproporcional. Mas viram que criminalizar, forjar provas e
prender sem qualquer evidência poderia ser ainda mais eficaz.
Sim, há um enorme perigo desta "tática" virar moda. Caso os protestos
continuem (temos olimpíadas pela frente e não nos esqueçamos que a Copa
acabando seus efeitos permanecem), podemos ver mais e mais prisões
arbitrárias "preventivas" ao arrepio da constituição.
Mas, mesmo ilegais, não assustam o poder.
Oras, o executivo de estados e do Estado não teriam chegado a este ponto
sem o apoio não apenas das polícias, sempre interessadas em reprimir,
mas com o apoio do judiciário, capaz de permitir tais operações sem pé
nem cabeça.
Mas ainda pior que estas prisões preventivas (em que pessoas inocentes
são mandadas a presídios pro até 5 dias com provas forjadas apenas para
não poderem protestar), é a possibilidade de que haja uma escalada. De
que as provas forjadas não sejam simplesmente esquecidas depois do
não-protesto passar, mas que sejam usadas para efetivamente enviar para a
cadeia ativistas.
E isso é algo factível. Melhor do que operações envolvendo Estado,
Polícia e Judiciário a cada manifestação, porque não instaurar logo o
Estado de Exceção e, com provas forjadas, enviar de vez para a cadeia
certos elementos causadores de problemas?
Não é a primeira vez, nem a segunda. Mas podemos ver uma escalada no uso deste método contra coletivos sociais.
A certeza neste ponto é a de que teremos uma "militância" petista pronta a silenciar ou mesmo aplaudir e
a mídia corporativa fará o resto do trabalho de convencer a população
de que os presos são terríveis vândalos e não ativistas pelos direitos
humanos criminalizados por governos com interesses escusos.
O circo está montado. Se não resistirmos perderemos o jogo e qualquer
semelhança dos métodos do PTMDB de "controle" de manifestações com a
ditadura não são mera coincidência. Infelizmente aprenderam bem com quem
antes combatiam.