Sexta, 22 de agosto de 2014
Do Observatórioda Imprensa
Por
Elizabeth Lorenzotti em 19/08/2014 na edição 812
Prefácio do e-book Jornalismo século XXI – O modelo #MídiaNINJA,
de Elizabeth Lorenzotti; intertítulos do OI
“A Mídia Ninja, tal como as Jornadas de Junho, é um
fenômeno – e os fenômenos precisam ser observados, comparados, referenciados,
discutidos. Sobretudo aproveitados.” (Alberto
Dines, jornalista e escritor, fundador do Observatório da Imprensa)
“No futuro, os manuais de Teoria da Comunicação e de
Ciências Sociais vão se referir a junho de 2013 como o importante momento em
que as grandes empresas de mídia deixaram de pautar a agenda do debate público
do País. E quando a mídia de massa e sua lógica centralizadora foram superadas
pelas redes digitais, pela cultura colaborativa e sua lógica descentralizada.”
(Massimo di Felice,
professor da USP, especialista em mídias digitais)
“Jornalistas têm de ter lado, e o lado dos jornalistas têm
de ser o lado dos que mais sofrem. Se me mandassem cobrir o tráfico de escravos
no século 18, eu jamais daria destaque, no que escrevesse, à opinião do capitão
do navio mercador de escravos. Se me mandassem cobrir a libertação num campo de
concentração nazista, eu não entrevistaria o porta-voz da SS”. (Robert Fisk, jornalista, The Independent)
“A transparência é a nova objetividade.” (Pierre Lévy, filósofo francês,
pesquisador da cultura virtual)
Este livro se refere a fatos ocorridos entre 18 de junho e
7 de setembro de 2013: oitenta e dois dias que sacudiram o País. Foi em junho
que explodiram as jornadas de protesto, inicialmente contra os preços das
passagens do transporte público nas principais capitais, convocadas pelo
Movimento Passe Livre, tomando de surpresa o establishment.
A repressão violenta promovida pelas polícias militares
estaduais levou grande parte da população- e inicialmente a mídia, que de um
dia para o outro, literalmente, mudou de posição – a apoiar as manifestações, e
ganhou repercussão internacional. Novos atos revelavam uma polissemia, uma
multiplicidade de temas, como gastos do governo em grandes eventos esportivos,
má qualidade dos serviços públicos, indignação com tantas coisas.
Tratou-se de uma propagação viral, e a exemplo do ocorrido
no mundo árabe, no Occupy Wall Street, entre outros, as manifestações foram
chamadas pelas redes sociais.
Naquele início de junho entrei no Twitter e li esta frase:
“Não precisamos de mídia partidarista, temos celulares!”. Algo diferente
acontecia e não demorei muito a entender. As coisas acontecem muito rapidamente
no século XXI, e caminharam mais ainda naqueles dias de junho. A tuitada
daquele garoto, descobri em seguida, foi uma síntese perfeita dos novos tempos
na comunicação, para os quais a compreensão de muitos, por enquanto, ainda é
difícil.
Alguns dias depois, entendi perfeitamente, assistindo à
Globo News: “Estamos aqui, do alto deste edifício”, diziam os repórteres
sitiados em razão da fúria dos manifestantes, que expulsavam jornalistas da mídia
tradicional das ruas e agrediam viaturas de emissoras de TV.
Mas quem quer ver manifestação do alto de edifícios? Eu me
perguntei. E fui à internet onde encontrei, por meio de chamadas no Facebook, a
página N.I.N.J.A. (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação) https://www.facebook.com/midiaNINJA?fref=ts.
E vi, em www.postv.org,
na noite/madrugada de terça-feira, 18 de junho, uma cobertura documentando ao vivo,
em São Paulo, durante horas e sem edição, os embates entre manifestantes e a
tropa de choque da Polícia Militar, desde a prefeitura, onde houve incidentes,
à Praça da Sé, da Rua Augusta à Avenida Paulista.
Fenômeno parecido
A Mídia Ninja não nasceu agora, mas há um ano e meio, e
está ancorada no movimento nacional Fora do Eixo (http://foradoeixo.org.br). Nas
manifestações que tomaram as ruas de várias capitais, ganhou maior visibilidade
e chegou a picos de audiência de mais de 120 mil espectadores. O que significa
uma marca de 1,2 dos ibopes oficiais – e não é pouco, pois muitos programas da
TV aberta não o atingem.
E desde junho, em seis meses, chegaram a 5 milhões de
visualizações no ranking dos principais canais do Twitcasting, um aplicativo/
plataforma gratuita de transmissões ao vivo para celular usado pela Mídia
Ninja. Eles também utilizam outras plataformas como Google Hangout, Twitcam,
Livestream, Ustream, adptando-se sempre às condições que cada uma oferece e
fazendo uso da que mais se encaixa a realidade de cada transmissão.
Nesses tempos fora do eixo e de paradigmas, enxerguei este
fato como o embrião da nova mídia do futuro que já é hoje – uma pós-TV feita
por pós-jornalistas, para pós-telespectadores.
Com seus smartphones, eles protagonizaram a grande
novidade na cobertura das Jornadas de Junho e na alternativa à mídia
tradicional.
A performance da Mídia Ninja rendeu, além do New York Times, matérias no Wall Street Journal, El Pais, Le Monde, The
Guardian e até hoje, muitas
outras.
Mas no dia 22 de julho, quando estavam em meio ao furacão, numa manifestação nos arredores do Palácio da Guanabara, dois ninjas foram presos por “incitar a violência” transmitindo ao vivo as manifestações”: Filipe Peçanha e Filipe Gonçalves.
Nunca vi tal solidariedade em relação a qualquer veículo de comunicação em que eu tenha ou não trabalhado (e foram muitos.). Em uma era de crise de representatividade, naqueles momentos e em outros, nas transmissões, ouvia-se: “Mídia Ninja me representa”. Na página deles no Facebook, escreveu um comentarista: “Eu sou eles”.
Mas no dia 22 de julho, quando estavam em meio ao furacão, numa manifestação nos arredores do Palácio da Guanabara, dois ninjas foram presos por “incitar a violência” transmitindo ao vivo as manifestações”: Filipe Peçanha e Filipe Gonçalves.
Nunca vi tal solidariedade em relação a qualquer veículo de comunicação em que eu tenha ou não trabalhado (e foram muitos.). Em uma era de crise de representatividade, naqueles momentos e em outros, nas transmissões, ouvia-se: “Mídia Ninja me representa”. Na página deles no Facebook, escreveu um comentarista: “Eu sou eles”.
Há muito para ser escrito e debatido sobre a Mídia Ninja,
sobre o midialivrismo, termo novo ainda não encontrado nos dicionários.
Midialivrismo refere-se a cidadãos multimídia, que atuam em iniciativas
inspiradas na dinâmica do compartilhamento e na construção da cultura do comum:
internet, fanzines comunitários, rádios comunitárias e etc..
Os midialivristas costumam autodenominar-se comunicadores
independentes. Do modelo analógico, ligado à lógica do líder de opinião, o
mediador, emitindo do centro para a periferia –a mídia de massa– passa-se ao
digital – a massa de mídias, a construção colaborativa de narrativas e
conteúdos feitos por muitos atores que resulta em uma pluralidade de pontos de
vista, como nos explica ao longo deste livro, entre outros, o professor da
ECA-USP Massimo di Felice.
Jornalismo é, e sempre foi, a prática de produzir e
divulgar notícias. O jornalismo é a síntese do espírito moderno. E entre todas
as transformações pelas quais passou, esta – advinda da informatização, da
cibernética, das redes – é a maior desde a revolucionária invenção de
Gutenberg.
Jornalismo é história contada cotidianamente pelo jornal.
Hierarquizado, reportando o fato de fora, pregando a improvável isenção,
exigindo grandes investimentos, instalações dispendiosas, enfim, uma empresa
nos moldes do século XX.
Alguns especialistas consideram redutor qualificar de
jornalismo o que fazem os midialivristas. Outros julgam exatamente o contrário.
Em um dos capítulos deste livro, um internauta lembra que,
assim como Chico Buarque falou (N. da A.
repercutindo o sociólogo da cultura urbana José Ramos Tinhorão em 2004) sobre o
fim da canção – que seria um fenômeno do século XX, como a ópera foi um
fenômeno do século XIX –, talvez esteja acontecendo o mesmo com o que
conhecemos como jornalismo.
Jeito novo
Este livro registra a trajetória inicial da Mídia Ninja,
que está ligada à dos vários coletivos midialivristas espalhados pelo País e
pelo mundo. Mesmo ainda incipiente , a experiência começou abalando o
establishment da comunicação jornalística.
Por fim, este livro é a favor do jornalismo (e isto não
significa pregar qualquer corporativismo, apenas levar em conta a trajetória de
uma atividade, sua história e seus rumos ), seja a maneira como se realiza,
seja qual venha a ser o seu nome no fim da modernidade, em mais uma etapa da
aventura humana, em um momento de vastas perplexidades e revoluções nas
estruturas de pensamento.
No momento em que escrevo – março de 2014- acredito que os
midialivristas praticam algo muito próximo do que conhecemos por jornalismo, e
fazem do seu jeito, de um novo jeito.
Eles, os midialivristas, são um dos signos do jornalismo
do século 21.
***
Jornalismo Século XXI – O modelo #mídiaNINJA, de Elizabeth Lorenzotti,
acompanha as transmissões das Jornadas de Junho de 2013 e, durante 81 dias, a
trajetória da Mídia Ninja, coletivo midialivrista que provocou polêmica no
establishment da comunicação.
Na era da transição da Mídia de Massa para a Massa de
Mídias, a Mídia Ninja foi a primeira com visibilidade a colocar seu novo
modelo, que despertou interesse também nos mais importantes órgãos da mídia
internacional.
O livro traz um apanhado dos debates, múltiplas opiniões e
análises de especialistas.
Editado pela e-galaxia, estará a venda por R$ 5,90, a
partir de 20 de agosto, nas livrarias Amazon, Apple, Google Play, Livraria
Cultura e Saraiva.
Como comprar
Passo 1: Escolher a livraria de
preferência (quem já comprou em algum desses sites, mesmo que não um
e-book, tem o cadastro pronto).
Passo 2: Entrar no site da livraria e
utilizar a ferramenta de BUSCA. Digitar o título do livro ou o nome do autor
selecionar o item e concluir a compra.
Passo 3: Para ler um e-book, ele deve
ser aberto em um aplicativo Reader (ou seja, um programa para leitura de livros
digitais). Cada livraria tem o seu. É só baixá-lo gratuitamente.
Para ler em tablets ou celulares, vá à loja de APP do
seu aparelho, procure e baixe o aplicativo Reader da livraria (Kindle, iBooks,
Play Books, Kobo LC, Saraiva Reader).
Para leitura em computadores, baixe o aplicativo Reader
diretamente do site da livraria em que realizou a compra.
Passo 4: quando abrir o aplicativo
Reader, insira e-mail e senha idênticos aos utilizados na livraria.
Pronto! O e-book estará disponível
para leitura em alguns minutos
***
Elizabeth Lorenzotti
é jornalista