Domingo, 17 de agosto de 2014
Por
Siro Darlan,
desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da
Associação Juízes para a Democracia.
Quase duzentos anos
após a Imperatriz Leopoldina ser a primeira mulher a exercer o poder político
no Brasil, novamente uma mulher está nos governando. Esse é um registro muito
importante para o poder feminino, mas é bom que se diga que foi a Marquesa de
Santos quem inaugurou a prática de corrupção em nosso país. Por suas mãos e
pernas passavam a escolha de ministros, desembargadores, negócios e
concessionários do Império, tudo mediante a histórica e culturalmente
consagrada “comissão de intermediário”. A nossa madame “Pompadour” não tinha
limites, intermediava liberação de cargas retidas no porto, nomeava servidores e
enriquecia sem qualquer controle ou qualquer tipo de fiscalização.
Pela intermediação de
Domitila de Castro, segundo os historiadores, o Imperador utilizava-se de meios
de transportes, ontem barcos, hoje helicópteros e aviões, sob o olhar
compassivo dos agentes de fiscalização. Esse costume monárquico não foi abolido
com a proclamação da república e nós assistimos sua reiteração nas práticas
públicas. D. Pedro, a pedido de sua amante, mandou sumir processos que
investigavam mortes e atos de corrupção e o poder moderador e fiscalizador
então dominado pelo Monarca era o que prevalecia.
A lamentável morte de
um postulante à presidência da república deu-se numa aeronave cedida por
empresários, um helicóptero particular caiu no governo estadual passado
ceifando várias vidas, o veículo oficial do governo servia para transportar
convidados particulares, familiares e até o cão de estimação e nada ficou
apurado. Essa chaga que acompanha a república precisa ser combatida com
veemência, mas quem o fará? A quem cabe fazer? Ninguém desconhece a influência
política de uma primeira dama na escolha de determinados cargos públicos de
eleição do governo, e é comum nessas ocasiões o beija-mão da “imperatriz”.
Enquanto a ação de
Leopoldina foi de muita importância para a conquista da independência do
Brasil, através de sua cultura refinada, sua formação nobre e religiosa, mostra
o quanto deixou de herança positiva sua disposição para servir as boas causas,
para proteger e ajudar os mais pobres e oprimidos. Quanta vez interferiu para
que escravos não fossem açoitados, interferiu para corrigir injustiças,
enquanto a amante oficial do Imperador conspirava contra os bons costumes,
vendia a coisa pública como se privada fosse e interferia nos negócios do
estado como uma advogada que usava a máquina do Império em proveito pessoal.
Pena que essa semente
tenha crescido tanto e não a plantada por Leopoldina, e hoje ainda assistimos,
impunemente os crimes praticados contra o Tesouro Público à luz do dia como se
essa fosse uma ação aceitável, enquanto toda máquina é movimentada para impedir
que o povo se manifeste e o apartheid social continue mandando para o sistema
penitenciário os pobres, negros e indesejáveis do sistema dominante. A lei
muitas vezes é usada como uma espada para cortar na carne todo aquele que ousa
denunciar essa incúria com o bem público e a conivência de algumas
instituições.
Fonte: Blog do Siro Darlan