Domingo, 10 de agosto de 2014
Deu no Portal Notibras
A JBS — mais conhecida pela marca Friboi –, maior
processadora de carnes do mundo e que costuma usar o cantor Roberto Carlos como
garoto-propaganda, é a empresa que mais distribuiu dinheiro a partidos e
candidatos nestas eleições até agora, com R$ 51 milhões em doações, segundo
dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, computados pelo Uol.
Os números referem-se à primeira parcial de doações. Até a
realização do pleito, em 5 de outubro, haverá uma segunda parcial. Os números
consolidados com o total de doações só serão divulgados em novembro, após a
realização do segundo turno.
O montante doado neste ano, entretanto, já supera de longe o
que a JBS distribuiu ao todo em 2010: R$ 30 milhões. Naquele pleito, o grupo já
figurava entre as dez maiores doadoras de campanha.
Os dados do TSE mostram que a JBS não discrimina ao doar: partidos
de diferentes ideologias, governistas, da oposição e até os que se postulam à
terceira via, como o PSB, receberam aportes do grupo.
O mais beneficiado pelo grupo, que tem o cantor Roberto
Carlos e o ator Tony Ramos como garotos-propaganda, foi o PMDB, que recebeu R$
13,6 milhões, dos quais R$ 6,6 milhões foram direcionados ao diretório da sigla
no Rio de Janeiro, que tem Luiz Fernando Pezão como candidato ao governo.
Outros R$ 5 milhões foram doados ao diretório peemedebista no Mato Grosso,
Estado em que Nelson Trad Filho disputa o governo pelo partido.
A trajetória da Friboi, empresa pouco conhecida até meados
da década passada, coincide com a chegada do PT ao poder.
Mais do que mera coincidência, na realidade, o crescimento
do grupo está diretamente relacionado com uma política declarada do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva de eleger “campeãs nacionais”, empresas líderes de
setores considerados estratégicos, e torná-las gigantes internacionalmente,
como ocorreu com a Oi e com as empresas de Eike Batista.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,
banco público cuja finalidade é estimular a infraestrutura do país, foi o
instrumento utilizado para aplicar tal política. Entre 2005 e 2013, a JBS
recebeu empréstimos de R$ 2,1 bilhões do banco, segundo o próprio BNDES.
O valor é equivalente a cinco vezes o que foi emprestado ao
Corinthians para a construção do Itaquerão (R$ 400 milhões).
O maior aporte de recursos do BNDES na JBS, entretanto,
ocorreu por meio da compra de papéis do grupo: R$ 8,5 bilhões. Hoje, o banco
detém 24,6% do capital do grupo. Neste período de parceria com o BNDES, a JBS
tornou-se o maior frigorífico do mundo, comprando mais de 20 grandes empresas
nacionais e internacionais do setor. Em 2013, o volume de vendas da JBS chegou
a R$ 93 bilhões.
A política é criticada por concorrentes da JBS e até pela
CNA (Confederação Nacional da Agricultora e Pecuária), que veem cartel na
prática, embora o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não veja
irregularidades.
Questionada sobre se há conflito ético em receber altas
quantias de um banco público e ser campeã de doações eleitorais, a JBS
respondeu: “Todas as doações são registradas e seguem as regras do TSE, não
havendo por isso qualquer tipo de conflito de interesse.”