Sexta, 15 de agosto de 2014
Incêndio destruiu o Acampamento Kenon, situado na região de Planaltina
Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil
Um incêndio destruiu o Acampamento Kenon, do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST), no Distrito Federal. Segundo a integrante da
coordenação do MST no Distrito Federal, Petra Magalhães, os acampados suspeitam
que o incidente tenha sido criminoso. Ela informou que os cerca de 200 barracos
armados no local foram perdidos.
Petra Magalhães conta que, por volta das 11h de ontem (14),
cerca de 100 famílias estavam no acampamento, às margens da Rodovia BR-020, na
região de Planaltina. “Três carros estavam parados à beira da rodovia e
estávamos em atividade no acampamento, e de repente surgiu o fogo lá em cima
[próximo à rodovia]. Pegou fogo em um barraco próximo e não conseguimos mais
controlar, incendiou o acampamento todo”, disse ela. O incêndio só terminou por
volta das 15h.
“Nós estamos em uma área de conflito, que ocupamos há menos
de um mês. É uma área grilada. Também teve um incêndio em outro acampamento, o
8 de Março. Então, é muito estranho. Não vamos incriminar ninguém, mas dentro
da nossa luta, vivemos em conflito com a grilagem de terra”, disse Magalhães.
Segundo a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), a área ocupada faz
parte da Fazenda Toca da Raposa, pertencente à estatal, que move ação de
reintegração de posse contra o invasor, Mario Zanatta, e os sem-terra.
A coordenadora disse que o MST reivindica a área de
298 hectares para reforma agrária. “A área já está sub judice, mas vamos manter
a resistência e dar andamento ao processo. Vamos tentar marcar uma reunião com
o governo e saber qual a proposta para resolver a situação. Ele [o agricultor
que planta na área] produz milho e soja, mas sabemos que é monocultivo. O que
queremos é trabalhar com agricultura familiar, com produtos orgânicos, sem
agrotóxicos”, explicou.
Petra Magalhães ainda acusa o Corpo de Bombeiros de não
haver atendido propositalmente aos chamados dos acampados para combater o fogo.
Segundo ela, uma apoiadora do grupo, defensora dos direitos humanos, foi ao
comando do quartel de Planaltina e soube que havia um relatório para que o
acampamento não fosse atendido.
“Tivemos um outro incêndio, há mais ou menos 15 dias,
chamamos os bombeiros, a viatura veio, mas não nos atendeu, foi para o milharal
do fazendeiro, e quem controlou o fogo fomos nós. As famílias ficaram bem
revoltadas e foram pra cima. Mas não fizemos nada com ninguém e nem depredamos
a viatura, apenas um companheiro estava com uma enxada e bateu na lanterna,
pela revolta da população. Isso não significa que eles têm que deixar de nos
atender”, disse Petra.
O chefe do Centro de Comunicação do Corpo de Bombeiros,
tenente-coronel William Bomfim, desconhece que haja esse relatório e vai apurar
o que ocorreu, porque, quando uma ocorrência oferece algum risco do tipo, os
bombeiros devem solicitar a presença da Polícia Militar para acompanhar o
atendimento. Até a publicação desta matéria, a Agência Brasil não recebeu
resposta.