Terça, 19
de agosto de 2014
Paula Laboissière - Repórter da Agência Brasil
Para 93% da população, os serviços públicos e privados de
saúde são considerados regulares, ruins ou péssimos.
Os serviços públicos e privados de saúde no Brasil são
considerados regulares, ruins ou péssimos por 93% da população. É o que indica
pesquisa do Instituto Datafolha feita a pedido do Conselho Federal de Medicina
(CFM) e da Associação Paulista de Medicina (APM). O levantamento mostra que os
principais problemas enfrentados pelo setor incluem filas de espera, acesso aos
serviços públicos e gestão de recursos. De acordo com o estudo, a saúde é
apontada como a área de maior importância para 87% dos brasileiros. Para 57%, o
tema que deve ser tratado como prioridade pelo governo federal.
A pesquisa foi feita entre os dias 3 e 10 de junho de 2014
e ouviu 2.418 homens e mulheres com idade mínima de 16 anos em todos os estados
brasileiros. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Os dados revelam que, em relação ao Sistema Único de Saúde
(SUS), os pontos mais críticos são os relacionados ao acesso e ao tempo de
espera. Mais da metade dos entrevistados que buscaram atendimento na rede
pública relataram ser difícil ou muito difícil conseguir o serviço pretendido -
sobretudo cirurgias, atendimento domiciliar e procedimentos específicos como
hemodiálise e quimioterapia.
Em relação à qualidade dos serviços, 70% dos que buscaram
o SUS disseram estar insatisfeitos e atribuíram avaliações que variam de
regular a péssimo. A percepção mais negativa está relacionada ao atendimento
nas urgências, emergências e em pronto-socorros.
Entre os entrevistados, pelo menos 30% declararam estar
aguardando ou ter alguém na família aguardando a marcação ou a realização de
algum procedimento na rede pública. Mesmo entre os que possuem plano de saúde,
22% aguardam algum tipo de atendimento no SUS.
Os dados mostram que duas em cada dez pessoas ouvidas
conseguiram ser atendidas no prazo de um mês, enquanto 29% aguarda há mais de
seis meses para ter a demanda atendida. O grupo que passa mais tempo aguardando
atendimento do SUS são as mulheres com idade entre 25 e 55 anos, que concluíram
o ensino fundamental e residem na Região Sudeste.
O presidente do CFM, Roberto Luiz d'Avila, avaliou que o
resultado apontado pela pesquisa é de insatisfação com a saúde como um todo.
"As respostas estão aí para serem analisadas", disse. "Não somos
nós, médicos, que continuamos a dizer que a insatisfação é muito grande. No
nosso meio, temos certeza absoluta de que esse atendimento é insatisfatório. E
eu diria mais: é prejudicial", completou.
Já o vice-presidente do conselho, Carlos Vital,
classificou as dificuldades enfrentadas pelo setor como crônicos. "Vivemos
uma fase de agonização desse problema nos últimos 12 anos", disse.
"Orçamento e administração são os principais problemas. Não podemos
continuar nessa espera. Vidas humanas se perdem nesse processo", concluiu.
O Ministério da Saúde informou que os recursos destinados
à rede pública mais que triplicaram nos últimos 11 anos, passando de R$ 27,2
bilhões em 2003 para R$ 91,6 bilhões em 2014. Esses recursos, segundo a pasta,
garantiram resultados como a cobertura de cerca de 60% da população pelas
equipes de Saúde da Família, com ampliação do acesso a 50 milhões de
brasileiros, atendidos pelos 14,4 mil médicos do Programa Mais Médicos; 75% da
população com acesso ao SAMU; mais de 90% da cobertura vacinal, incorporando
todas as vacinas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde; manutenção do
maior sistema de transplante público do mundo, com 95% do total de transplantes
realizados no SUS; e ampliação, desde 2011, de mais de 16 mil leitos do SUS em
unidades mais próximas da casa do cidadão.
“Importante esclarecer que a gestão e o financiamento do
SUS são compartilhados entre União, estados e municípios”, finalizou o
ministério.