Sábado, 3 de abril de 2015
Da Tribuna da Imprensa
Helio Fernandes
Ontem, comemoração
(?) dos 51 anos da ditadura de 64. Como sempre repetiram a farsa e a
mistificação; “Salvamos o Brasil da invasão vermelha”. Esqueceram de recordar,
que milhares de oficiais, que eram contra o golpe, foram expulsos do Exercito
em vários anos.
Os comunistas que
dominaram a Rússia, transformada em união Soviética durante 74 anos, não
resistiram. Voltou a ser Rússia, deixou de ser potencia. Nem em 1917, quando
chegou ao poder, nem durante esses 74 anos, ameaçou o mundo.
Só aqui no Brasil,
esses militares “salvaram o país, protegidos pelos EUA”. Documentos oficiais
mostram a participação americana no Brasil, Chile e Argentina.
Nesses três países, a
ditadura foi cruel e devastadora. Quem sempre teve razão foi Mitterrand. 14
anos presidente da França (de 1981 a 1995, ia conquistar mais sete anos, veio o
câncer, invencível) dizia e repetia: “Tenho horror aos comunistas, nunca fui a
Moscou”.
Era
Socialista-Democrata legítimo. Em 1974, foi derrotado pelo conservador Giscard
Destaing, esperou, em 1981 ganhou dele. E em 1988 de Chirac. Os militares
golpistas deviam deixar de desonrar o Clube Militar com uma grande e
democrática participação na História do Brasil.
Ibope-Dilma
Mais desastroso que o
Datafolha, logo depois da reeleição. 77 por cento responderam que “Dilma mentiu
na campanha”. Completados três meses não de governo mas de permanência no
Planalto-Alvorada, aos 73 por cento que diziam que o governo dela, era “bom ou
ótimo”, agora são 79 por cento “ruim ou péssimo”.
Em todos os itens a
deformação de Dona Dilma é total. Impossível cair mais, também só existem dois
institutos de pesquisa. Assim que saiu o levantamento do Ibope, Dona Dilma
disparou: “Farei todo possível para aprovar o ajuste fiscal”. Deixa com o
Ministro Levy, ele mesmo não está convencido, mas com a senhora participando,
“ai a derrota é certa”.
Maioridade penal
É um assunto tão
importante que deveria ser tratado com extrema e total seriedade. Os que
votaram pela redução da criminalidade para 16 anos, consideram que reduzirão
automaticamente essa mesma criminalidade. Nada ver.
Estão discutindo (e
ás vezes se hostilizando) se a proposta é constitucional ou não, o que afinal
terá que ser resolvido no Supremo Tribunal Federal. Mas a questão está muito além desse aspecto. É necessário estudar, analisar, e consolidar a certeza de
que essa providencia, terá efeito visível na queda do número de crimes. Está
longe disso.
O Brasil não tem o
mínimo de condição de manter adultos presos, quanto mais os jovens encarcerados,
sem a menor atenção.
Quando Bernard Shaw
escreveu, “numa penitenciária o homem mais angustiado é o seu diretor”, estava
na certa pesando na forja de criminosos nos cárceres do Brasil.
Por enquanto, só uma
votação. Mas na excelente foto de Ailton de Freitas, os vencedores às
gargalhadas, braços para o alto, como estivessem festejando a vitória num
Fla-Flu. Não têm a menor seriedade para decidir uma questão como essa.
Lula e Dilma
Desde janeiro quando
começou a derrocada da presidente reeleita, o ex-presidente sentiu-se atingido
pela impopularidade da companheira que colocou no seu lugar. Só que apesar da
segunda vitória e dos 42 milhões de votos, Dilma se projetou na ribanceira
política e eleitoral, aguçando apetites nada institucionais ou democráticos.
Como se passaram
apenas três meses da reeleição, e ainda faltam outros 45 até que se chegue a
2018 e a nova consulta popular, tentam abreviar o mandato dela e empossar um
outro, não importa a forma de tira-la ou o nome que derem ao substituto.
Na História brasileira
tem havido muitos golpes civis e militares, apenas um impeachment. Os políticos
do PMDB preferem esta formula. Na hierarquia surrealista da derrubada, têm três
nomes supostos ou prováveis, pretendem insistir. Mas não devem esquecer o que
já lembrei aqui sobre golpes: “Os manipuladores não são sempre os vencedores”.
Escrevendo sobre o
possível ou até previsível golpe do impeachment, alertei o ex-presidente
Lula, não como um favor mas como resultado de analise jornalística: “O
senhor terá chances de se candidatar e até de se eleger em 2018, aos 73 anos,
se não houver tumulto ou sobressalto, Dona Dilma estiver no Poder”.
O comentário deste
repórter totalmente isento, foi debatido no seu Instituto. E ontem, o
ex-presidente colocou a questão em termos límpidos: “O sucesso da Dilma é o meu
sucesso”. Está correto, na linha da minha interpretação. Mas preferia que ele
tivesse dito: “A permanência da presidente Dilma é a relevância da minha
candidatura”.
Petrobras
Anteontem se
completaram 60 dias (40 pregoes) com as ações da empresa oscilando entre 6,20 e
9,48. Não caíam abaixo de 8, não subiam acima de 10.
Ontem, com grande
volume negociado, as ordinárias fecharam a 10,24, as nominativas, 10,32.
Ninguém sabe o que é isso, mas Dona Dilma afirmou ontem publicamente: “até o
fim de abril os problemas da Petrobras estarão resolvidos”.
Resposta
Prazer enorme ler o
teu texto, Narcizo Villar Martins, melhor ainda as informações sobre o BNDES.
Na segunda feira, Luciano Coutinho, ainda presidente, apresentou o balanço e
comentou: “O prejuízo de 2 bilhões e 600 milhões é por causa da desvalorização
das ações da Petrobras”. Para que essa tentativa de justificativa fosse válida,
o banco deveria ter comprado 10 bilhões de reais das ações e acima de 40 reais.
Na verdade, como você mostrou lucidamente, o prejuízo vem dos empréstimos
favorecidos e privilegiados. E esses empréstimos já foram “tomados” a 3 e 4%,
conforme o economista Carlos Lessa (então presidente do BNDES), contou ao
próprio Lula, que 1 mês depois assinou sua demissão.
Um dos que abusou da
generosidade presidencial, foi Eike Batista, que enganou até Bradesco, Itaú,
Santander, HSBC. Seria ótimo poder ler tuas matérias assiduamente.
PS- A publicação dos
escândalos e das roubalheiras no mais alto órgão de arrecadação do “imposto de
renda”, surpreendeu muita gente. Esse órgão, e a cúpula, o CARF, eram tidos e
havidos acima de qualquer suspeita. Balela.
PS2- Vou mostrar que
os 19 bilhões roubados e denunciados agora pelo Ministério Público, fazem parte
da rotina da administração pública. Durante a ditadura, perseguiram a Tribuna
da Imprensa de todas as maneiras.
PS3- além de prisões,
perseguições, confinamentos, cassações, a devassa feita pela Receita Federal.
Seu diretor Geral, Orlando Travancas, ia pessoalmente com uma equipe nas
empresas privadas que anunciavam no jornal. (As empresas estatais, que
anunciavam na véspera, foram proibidas de publicar qualquer anuncio).
PS4- Intimidava as
empresas, mostrava a Tribuna com o anuncio, o empresário perguntava:” Não pode
anunciar na Tribuna?”. Travancas respondia: “Se não anunciarem mais vou embora
e não voltaremos nunca”. Todos deixaram de anunciar, ninguém é de ferro.
PS5- Não conseguiram
nada contra a Tribuna nem contra mim pessoalmente. A roubalheira estava “dentro
de casa”. Algum tempo depois, esse Travancas, (que pelo nome não se perca) foi
apanhado em alta corrupção, exatamente como os dirigentes do Carf de agora.
PS6- Iam demitir esse
corrupto da Receita, alguém considerou que a repercussão seria desastrosa para
os generais torturadores. Foi aposentado com todos os vencimentos. Estas
lembranças para alertar os incautos, que diante de qualquer problema mais
grave, gritam “pela volta dos militares”.