Quarta, 16 de março de 2016
Fontes: Por DIEGO ESCOSTEGUY - Tevista Época //// Blog do Sombra
A revista ÉPOCA obteve acesso aos papéis, apreendidos em operação da
PF. Conta foi citada por Delcídio do Amaral, na delação homologada no
STF, e está sendo investigada pela PGR na Lava Jato - anos atrás, MP
chegou a arquivar o caso, sem apurá-lo. ...
Na manhã do dia oito de fevereiro de 2007, um comboio da Polícia
Federal atravessou sem alarde a avenida Rui Barbosa, no Flamengo, na
Zona Sul do Rio de Janeiro. Estacionou próximo ao portão de abóboda
dourada do edifício residencial Murça, no número 460. Desembarcaram dos
carros agentes da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, a unidade
da PF encarregada de investigar esquemas de lavagem de dinheiro.
Bateram à porta de um dos confortáveis apartamentos do décimo-terceiro
andar. Um casal de senhores atendeu, atônito. Não havia engano: era
atrás deles que a PF estava. O octogenário Norbert Muller e sua mulher,
Christine Puschmann, eram suspeitos de comandar uma das mais secretas e
rentáveis “centrais bancárias clandestinas” do país. Vendiam aos seus
clientes um serviço que, por aqui, só eles podiam oferecer: a criação e
manutenção, no mais absoluto sigilo, de contas bancárias no LGT Bank,
sediado no principado de Liechtenstein, o mais fechado de todos os
paraísos fiscais do mundo. Naquela manhã de fevereiro, tanto no
apartamento do casal Muller quanto no escritório deles, os agentes e
delegados da PF encontraram as provas de que precisavam.
Graças à organização minuciosa de Norbert Muller, havia pastas
separadas para cada um dos clientes – apenas nos arquivos do
apartamento, a PF localizou 75 nomes. Cada pasta apreendida continha
extratos bancários de contas, procurações, cópias de passaporte do
cliente, contratos, correspondências de Muller com o banco LGT,
anotações de valores. ÉPOCA obteve cópia – na íntegra e com
exclusividade – dos papéis apreendidos e da investigação da PF. Havia
ali pastas com nomes de advogados, médicos, empresários, socialites,
funcionários públicos, um ex-deputado e até um desembargador do Rio
recém-aposentado. Havia ali, especialmente, uma pasta-arquivo amarela,
identificada pela PF nos autos de busca e apreensão pelo número 41.
Nela, o doleiro Muller escrevera, a lápis, a identificação “Bogart e
Taylor”. Era o nome escolhido por Inês Maria Neves Faria, mãe e sócia do
senador Aécio Neves, do PSDB de Minas, então presidente da Câmara dos
Deputados, para batizar a fundação que, a partir de maio de 2001,
administraria o dinheiro da conta secreta 0027.277 no LGT.