Quinta, 27 de abril de 2017
              Sabrina Craide - da Agência Brasil 
          
  
  
            
    
    
O Tribunal de Contas da União (TCU) vai analisar possíveis 
irregularidades na compra de ações do frigorífico JBS pela BNDES 
Participações (BNDESPar), subsidiária do Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico e Social. Segundo o relatório do ministro 
Augusto Shermann, as ações da JBS, dona da marca Friboi, foram 
adquiridas por um valor acima do que era cotado na bolsa de valores.
O
 valor previsto foi acrescido de um adicional de R$ 0,50 por ação o que,
 segundo o ministro, não se justifica. Cada ação valia R$ 7,65, mas o 
BNDES pagou R$ 8,15 por cada papel.
A área técnica do TCU também 
apontou ausência de demonstração da aplicação dos recursos na finalidade
 para a qual foi repassada, da ordem de US$ 230 a 235 milhões. O aporte,
 de R$ 1,14 bilhões, foi feito em 2007, com o objetivo de apoiar a 
compra do frigorífico americano Swift Foods pela JBS. “Os recursos do 
BNDES são subsidiados, de modo que qualquer recurso adicional que se 
repassa significa uma certa perda para o estado brasileiro”, disse 
Shermann.
Privilégio
 
Outra possível 
irregularidade apontada pelo TCU é o curto prazo de aprovação da 
operação. Sherman disse que o negócio foi aprovado em 22 dias úteis. No 
entanto, análise do TCU mostra que o prazo médio para a aprovação de 
operações como esta é de 116 dias corridos. “Isso mostra que houve sim 
um certo descompasso entre o prazo com que essa operação foi analisada, 
em relação às outras que o BNDES tinha nesse mesmo período de tempo. 
Portanto, há indício que houve certo privilégio ao grupo JBS na análise 
dessa operação”, disse o ministro.
Além da abertura de uma Tomada
 de Contas Especial para apurar os indícios de irregularidades, o 
tribunal vai definir até o dia 10 de maio quais responsáveis serão 
ouvidos para esclarecer o caso. Segundo Shermann, a abertura do processo
 não significa uma condenação do TCU. “É apenas a abertura de um 
processo para que esses indícios possam ser melhor avaliados, a partir 
das oitivas dos responsáveis para que o tribunal venha depois a decidir 
se se eles realmente se confirmam como regularidades e eventualmente 
haver sanções”, disse.
Outro lado
 
Em 
nota, a JBS disse que todos os investimentos do BNDESPar foram 
praticados de acordo com a legislação do mercado de capitais brasileiros
 e com total transparência. “Sendo assim, a companhia não tem o menor 
receio que, ao término do processo, o resultado dele possa afetar os 
negócios ou mesmo a situação patrimonial da companhia. Já houve 
inclusive uma perícia da Polícia Federal informando a inexistência de 
qualquer indício de irregularidades”, diz a empresa.
Luciano Coutinho
 
Por
 meio de nota, o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e 
ex-dirigentes da instituição reafirmaram que a operação de aquisição da 
Swift pela JBS "foi realizada dentro da mais absoluta regularidade, 
tendo sido analisada em todas as instâncias pelas equipes técnicas do 
banco. Todas as regras e procedimentos usuais da instituição em 
operações de renda variável foram observadas, sem qualquer favorecimento
 à JBS".
Conforme a nota, o próprio TCU, em processo de 
auditoria anterior havia concluído “que não foram constatadas evidências
 de irregularidades e/ou favorecimentos nas operações de financiamento 
do BNDES às empresas frigoríficas realizadas entre 2005 e 2009”.
"O
 relatório atual, no qual se baseia a decisão de hoje, utiliza premissas
 inadequadas, típicas de operações de crédito, quando o caso em tela é 
uma operação de mercado de capitais. Como empresas abertas, os atos 
tanto da BNDESPAR quanto da JBS passaram pelo crivo das autoridades de 
mercado", afirmou.
O BNDES ainda não se manifestou sobre a decisão do TCU.
 
 
 
