Sábado, 29 de abril de 2017
Da Tribuna da Imprensa
ROGER MCNAUGHT -
A greve geral ocorrida nesta sexta-feira, 28 de abril de
2017 foi marcada por paralisações e manifestações em todo o país. Em algumas cidades, como o Rio de Janeiro,
infelizmente o braço repressor militarizado do Estado conseguiu tornar o
exercício das liberdades constitucionais em um campo de batalha.
Durante a concentração do ato no início da tarde, em frente
à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, indivíduos provocadores
deram o ar de sua (des)graça direitosa para provocar e zombar da mobilização
dos trabalhadores. O primeiro deles, um
famoso humorista carinhosamente chamado pelo público de “seu casseta” foi
incapaz de, após tanto tempo sendo atração em atos de extrema direita, entender
o sentido da fala de um personagem do cinema nacional que diz “cada cão que
lamba sua casseta”.
O dito humorista, após adentrar a concentração do ato forçou
uma interação com os manifestantes, mesmo sendo claro que o mesmo não era bem
vindo até o ponto de chamar um dos manifestantes em tom desafiador, o que
tornou a remoção deste humorista uma prioridade para o prosseguimento tranquilo
da concentração.
Fato curioso foi a total inércia da Polícia Militar enquanto
o indivíduo forçava sua presença em desrespeito a todos os demais presentes, sendo
que uma intervenção neste momento poderia ter evitado muito constrangimento a
todos.
Após o dissabor direitoso o ato se iniciou, sendo que apenas
após andar apenas alguns metros teve início o festival de
bombas e de gás contra os manifestantes que imediatamente buscaram refúgio –
muitos com crianças e idosos – nas ruas menores.
Mesmo com este primeiro ataque, os manifestantes mantiveram
seu ato pacífico em direção agora à Avenida Rio Branco, onde mais bombas de gás
forçaram alguns manifestantes a reagir em autodefesa enquanto se aproximavam da
Cinelândia, seu destino final para se encontrar com a outra manifestação de
mesma pauta.
Porém, ao chegarem à Cinelândia, os policiais militares
iniciaram uma onda de ataques com gás e bombas de efeito (i)moral em meio a
milhares de pessoas, causando correria e pondo em risco a vida dos
trabalhadores que fugiam intoxicados.
Deste ponto em diante, a situação ficou fora de controle e alguns
manifestantes em uma tática de defesa incendiaram alguns veículos enquanto os
demais buscavam rotas para escapar da caçada humana que unidades do batalhão de
choque iniciaram em motocicletas e blindados.
Pessoas detidas, pessoas intoxicadas, pessoas
machucadas. Essa foi a resposta do
governo a um ato que se iniciou de forma pacífica. O dia que não mais protestarem mas partirem
para ações mais contundentes, os que hoje defendem a repressão nada poderão
reclamar.
Quem ignora o sussurro acaba ouvindo gritos.