Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Quem somos nós, os idosos acima de 70 anos de idade?

Quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Quem somos nós, os idosos acima de 70 anos de idade?

Por Cida Torneros*
Quando vejo as discussões dos especialistas sobre a necessidade de aplicação de terceira dose de vacinas contra a Covid 19 na população acima da faixa etária dos 70 anos, eu me pergunto quem somos nós, nesse mundo contemporâneo. Na verdade creio que somos uma geração de privilegiados que vieram habitar o planeta depois da descoberta dos antibióticos, do desenvolvimento de inúmeras vacinas e sobrevivemos aos impactos e traumas das duas grandes guerras e dos conflitos como Vietnam, Iraque, Afeganistão e tantos outros pontuais ora no oriente médio, ora em disputas territoriais entre países europeus , africanos e asiáticos.

Também somos testemunhas e/ou participantes de guerras ideológicas ou religiosas, além dos frequentes atritos por questões raciais ou sexuais. No terceiro mundo, provamos o gosto amargo das ditaduras militares. Chegamos aos 70 trazendo bagagem de lutas emocionais intensas, com certeza. Vimos o surgimento das mídias eletrônicas e forçosamente nos adaptamos a elas. Rádio, televisão, cinema mudo e depois falado, um bombardeio de novidades nos trouxeram até o século XXI sem nos dar tempo suficiente para nos defendermos de uma parafernália de tecnologias às quais vamos nos acostumando ou confundindo no universo das senhas e dos algorítimos que nos limitam a tribos onde nos perdemos ou nos encontramos em clima de ondas com altos e baixos. 

Como se não bastasse tanta encrenca nessas décadas ainda precisamos compreender quem somos justo agora quando imaginávamos chegar a uma velhice tranquila e decente. Nossa probabilidade de duração de vida biológica aumentou, é verdade. Em números, temos maiores chances de chegar ao mundo dos centenários, mas me questiono se em qualidade de vida emocional obtivemos reais lucros? Pergunta que não quer calar: que mundo estaremos legando para nossos descendentes? Muita injustiça? Ou teremos que usar duas décadas que nos sobram para corrigir a tremenda desigualdade em que nos metemos, sem esquecer de recuperarmos os estragos ao meio ambiente da Terra? É muita demanda para uma geração só. Contamos com a ajuda das subsequentes. Façam como Malala e Greta. Lutem como uma menina! Cida Torneros

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*Cida Torneros é jornalista aposentada e edita no Rio de Janeiro o Blog Vou de Bolinhas.