por Peter Phillips e Brady Osborne
Publicado em resistir.info
Uma breve história da investigação sobre a elite do poder
americana
Uma longa tradição de investigação sociológica documenta a existência de uma classe dominante nos Estados Unidos, cujos membros traçam directivas e determinam prioridades políticas nacionais. A classe dominante americana é complexa e competitiva, perpetuando-se através da interacção de famílias de alto padrão social com estilos de vida, ligações corporativas e pertença a clubes sociais e escolas privadas semelhantes.
Já foi determinado há muito que a classe dominante americana é sobretudo auto-perpetuante, mantendo sua influência através de instituições elaboradoras de políticas tais como a National Association of Manufacturers, a US Chamber of Commerce, o Business Council, Business Roundtable, o Conference Board, American Enterprise Institute for Public Policy Research, Council on Foreign Relations, e outros grupos de política centrados nos negócios. Estas associações desde há muito dominaram as decisões políticas dentro do governo estado-unidense.
No seu livro de 1956, The Power Elite , C. Wright Mills documentou como a II Guerra Mundial solidificou a trindade de poder nos EUA que compreendia corporações, militares e elites governantes numa estrutura de pode centralizada pelos interesses de classe e a trabalhar em uníssono por todos os "alto círculos" de contacto e acordo. Mills descreveu como a elite do poder eram aqueles "que decidiam tudo o que fosse para ser decidido" com consequências importantes. Estes decisores do círculo mais alto tendiam a estar preocupados com relacionamentos inter-organizacionais e o funcionamento da economia como um todo, ao invés da promoção dos seus interesses corporativos particulares.
As elites políticas do círculo mais alto (higher-circle policy elites, HCPE) constituem um segmento da classe superior americana e são os principais decisores na sociedade. Embora estas elites mostrem alguma noção do "senso de nós" (we-ness"), eles também tendem a ter desacordos contínuos sobre políticas específicas e acções necessárias em várias circunstâncias sócio-políticas. Estes desacordos podem bloquear respostas reaccionárias agressivas a movimentos sociais e distúrbios civis, como no caso do movimento trabalhista na década de 1930 e o movimento de direitos civis na década de 1960. Durante estes dois períodos, os elementos mais liberais das HCPE tendiam a dominar o processo de tomada de decisão e apoiou a aprovação das leis de Relações Trabalhistas Nacionais e de Segurança Social em 1935, bem como as leis de Direitos Civis e Oportunidades Económicas em 1964. Estas peças de legislação eram vistas como concessões aos movimentos sociais em curso e a inquietações civis, e foram implementadas ao invés de instituir políticas mais repressivas.
Entretanto, durante período de ameaças vindas de inimigos externos, como nas I e II Guerras Mundiais, elementos mais conservadores/reaccionários da HCPE avançaram com êxito nas suas agendas. Durante e após a I Guerra Mundial, os Estados Unidos instituíram respostas repressivas a movimentos sociais, como por exemplo através dos Palmer Raids e da aprovação do Espionage Act de 1917 e do Sediction Act de 1918. Após a II Guerra Mundial, a HCPE permitiu e encorajou os ataques da era McCarthy contra liberais e radicais e, em 1947, a aprovação do National Security Act e da lei trabalhista Taft-Hartley. Nos últimos vinte e cinco anos, e especialmente desde os eventos do 11/Set, a HCPE nos EUA tem estado unida no apoio a um império americano de poder militar que mantenha uma guerra repressiva contra grupos de resistência – tipicamente alcunhados como "terroristas" – em todo o mundo. Esta guerra ao terror é muito mais acerca de proteger a globalização transnacionais, a livre movimentação do capital financeiro, a hegemonia do dólar e o acesso ao petróleo do que acerca da repressão ao terrorismo. Cada vez mais, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) é uma associada dos interesses de dominação global dos EUA.
A classe capitalista transnacional (CCT)
Elites do poder capitalista existem em todo o mundo. A globalização do comércio e do capital leva as elites do mundo a relacionamentos cada vez mais interconectados – até o ponto em que sociólogos começaram a teorizar o desenvolvimento de uma classe capitalista transnacional (CCT) (transnational capitalist class). Num dos trabalhos pioneiros neste campo, The Transnational Capitalist Class (2000), Leslie Sklair argumentou que a globalização elevou as corporações transnacionais (TNC) a papéis mais influentes, com o resultado de que nações-estado tornaram-se menos significantes do que acordos internacionais desenvolvidos através da Organização Mundial de Comércio (OMC) e outras instituições internacionais. A emergir destas corporações multinacionais estavam uma classe capitalista transnacional, cujas lealdades e interesses, se bem que ainda enraizadas nas suas corporações, eram cada vez mais de âmbito internacional. Sklair escreveu:
Elites do poder capitalista existem em todo o mundo. A globalização do comércio e do capital leva as elites do mundo a relacionamentos cada vez mais interconectados – até o ponto em que sociólogos começaram a teorizar o desenvolvimento de uma classe capitalista transnacional (CCT) (transnational capitalist class). Num dos trabalhos pioneiros neste campo, The Transnational Capitalist Class (2000), Leslie Sklair argumentou que a globalização elevou as corporações transnacionais (TNC) a papéis mais influentes, com o resultado de que nações-estado tornaram-se menos significantes do que acordos internacionais desenvolvidos através da Organização Mundial de Comércio (OMC) e outras instituições internacionais. A emergir destas corporações multinacionais estavam uma classe capitalista transnacional, cujas lealdades e interesses, se bem que ainda enraizadas nas suas corporações, eram cada vez mais de âmbito internacional. Sklair escreveu:
A classe capitalista transnacional pode ser analiticamente dividida em quatro fracções principais: (i) proprietários e controladores das TNC e suas filiais locais; (ii) burocratas e políticos da globalização; (iii) profissionais da globalização; (iv) elites promotoras do consumo (comerciantes e media). Também é importante notar, naturalmente, que a CCT e cada uma das suas fracções nem sempre está inteiramente sobre todas as questões. No entanto, em conjunto, as pessoas principais nestes grupos constituem uma elite do poder global, a classe dominante ou círculo interno no sentido de que estas expressões têm sido utilizadas para caracterizar as estruturas da classe dominante de países específicos.
Seguiu-se William Robinson em 2004 com o seu livro
A Theory of Global Capitalism: Production, Class, and State in a Transnational
World. Robinson afirmou que 500 anos de capitalismo haviam levado a uma
mudança de época na qual toda actividade humana é
transformada em capital. Deste ponto de vista, o mundo tornou-se um mercado
único
(single market),
o qual privatizou relacionamentos sociais. Ele viu a CCT como a partilhar cada
vez mais estilos de vida, padrões de educação superior e
consumo semelhantes. A circulação global de capital está
no cerne de uma burguesia internacional, a qual opera em grupos
(clusters)
oligopólicos por todo o mundo. Estes grupos de elites formam
alianças transnacionais estratégicas através de
fusões e aquisições com o objectivo de
concentração acrescida da riqueza e do capital. O processo cria
uma poliarquia de elites hegemónicas. A concentração de
riqueza e poder a este nível tende à
super-acumulação, levando a investimentos especulativos e
guerras. A CCT faz esforços para corrigir e proteger seus interesses por
meio de organizações globais como o Banco Mundial, o Fundo
Monetário Internacional, o G20, o Fórum Social Mundial, a
Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, o Banco Internacional de
Pagamentos e outras associações transnacionais. Robinson afirmou
que, dentro deste sistema, nações-estado tornam-se pouco mais do
que zonas de contenção de população e que o poder
real jaz nos decisores que controlam o capital global.