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(Millôr Fernandes)

domingo, 19 de agosto de 2012

Antonio Carlos Biscaia: “Votei pela cassação de José Dirceu”

Domingo, 19 de agosto de 2012
Da Revista Época

Num livro de memórias, o ex-deputado federal diz que considerava o PT o partido da ética – e que começou a se decepcionar no primeiro dia do governo Lula

AVISOS O procurador e ex-deputado Antonio Carlos Biscaia. Ele afirma que alertou José Dirceu sobre Roberto Jefferson e Ricardo Berzoini sobre os aloprados (Foto: Stefano Martini/ÉPOCA)
Antonio Carlos Biscaia surgiu na vida política nacional depois de conduzir, como procurador-geral do Rio de Janeiro, uma investigação que levou à prisão da cúpula do jogo do bicho no Estado. Filiado ao PT a convite do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , foi para a política. Decepcionou-se. Agora Biscaia resolveu contar num livro de memórias, Biscaia (Editora Cássara, 341 páginas, R$ 50), o que viu nos anos em que foi deputado. Nesta entrevista, afirma que alertou o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, sobre um esquema de corrupção na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) do Rio que dizia ser comandado pelo deputado cassado Roberto Jefferson. “Minha advertência foi ignorada.” Posteriormente, o mesmo Jefferson acusou Dirceu de comandar o mensalão. Biscaia contou que votou no plenário da Câmara pela cassação de Dirceu. Ele revelou ainda uma tentativa de suborno quando investigava os bicheiros do Rio. A biografia de Biscaia chegará às livrarias no início do mês que vem. ...
ÉPOCA – O senhor se diz decepcionado com o PT. Em que momento começou essa decepção?
Antonio Carlos Biscaia –
Sempre tive uma visão social da política. Filiei-me ao PT por convite do Lula. Estava encantado com a bandeira ética do partido. Minha decepção começou no dia 1º de janeiro de 2003, dia da posse. Caminhava ao lado do deputado Jaques Wagner, já indicado para ser ministro do Trabalho, para o ato público, meio emocionado. Disse a ele: “Deputado, por favor, veja com atenção a Delegacia Regional do Trabalho do Rio, porque ela é problemática. Há oito anos é controlada pelo Roberto Jefferson. Tem de colocar uma pessoa correta lá”. Ele disse que havia dois candidatos, que achei excelentes. E pediu minha ajuda.

ÉPOCA – O senhor chegou a falar com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, sobre esse assunto?
Biscaia –
Cheguei. Em fevereiro, pedi uma audiência com ele. Lembro até hoje, ele me recebeu às 16h20 e me deu dez minutos. Fui direto ao assunto: “Ministro, nunca nomeei ninguém para o governo. Estou preocupado com a DRT do Rio, queremos moralizar aquilo. É importante que o escolhido seja alguém desvinculado do Roberto Jefferson”. Ele respondeu: “Não é possível. Fiz um acordo político. Política é sustentada na base do compromisso. No segundo turno, fiz um acordo para ele apoiar o Lula”. Nesse acordo, entre outros, estavam o Ministério do Turismo, os Correios e a DRT. Mas ele disse que estava com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e que todo indicado seria “verificado”. Eu disse que não adiantava, pois qualquer indicado pelo Jefferson seria ligado ao esquema. (Ouvida por ÉPOCA, a assessoria de José Dirceu diz que ele não se lembra de uma conversa de dez minutos ocorrida há tanto tempo e afirma que as nomeações para cargos federais “ocorriam dentro da mais estrita normalidade. As indicações feitas pelos partidos atendiam a um acordo político de conhecimento público e de legitimidade inquestionável”.) Minha advertência foi ignorada. E, em 2005, houve aquele escândalo (o delegado da DRT Henrique Barbosa de Pinho e Silva, indicado por Jefferson, foi acusado de prevaricação). Leia a íntegra no Blog do Sombra