Terça, 21 de 2012
Anderson Vieira
O grupo chefiado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem
características tipicamente mafiosas de uma quadrilha montada para a
prática de crimes graves, ainda em atuação, e mais lucrativa que uma
grande empresa. A descrição foi feita nesta terça-feira (21) pela
procuradora da República Léa Batista de Oliveira, que ao lado do colega
Daniel de Resende Salgado falou à CPI mista que investiga as relações de
Cachoeira com agentes públicos e privados.
Os dois integrantes do Ministério Público Federal participaram das
investigações relacionadas às operações Vegas e Monte Carlo – a segunda
resultou na prisão do contraventor goiano em 29 de fevereiro passado. Os
procuradores falaram por mais de quatro horas a deputados e senadores.
Daniel Salgado disse que as investigações se restringiram à cooptação
de agentes públicos e admitiu que o caminho do dinheiro movimentado
pela organização criminosa de Carlinhos Cachoeira ainda precisa ser
investigado.
– Não conseguimos completar a investigação em relação ao esquema empresarial e financeira do grupo criminoso – lamentou.
Para a procuradora Léa Batista, o “silêncio orquestrado” pelos
integrantes do bando diante da Justiça Federal, em Goiás, e diante da
própria CPI revela o grau de organização da quadrilha, classificada por
ela de “sofisticada, armada, complexa e ousada”. Segundo ela, se o grupo
não for “sufocado financeiramente”, vai continuar atuando, esteja o
líder preso ou não.
– Ficou clara a estrutura hierárquica com distribuição de renda entre
os membros e a lealdade ao chefe, que cooptou agentes do Estado,
responsáveis por eliminar a concorrência num claro controle territorial –
descreveu a procuradora.
Léa Batista também relatou aos parlamentares as formas de intimidação
utilizadas pelo grupo, como dois e-mails com ameaças, ambos
identificados com origem em Anápolis (GO), cidade usada como base por
Cachoeira. A procuradora também contou que uma mulher tentou invadir sua
residência, em Goiânia, durante a madrugada.
Delta
Os procuradores informaram que as investigações feitas até o momento
não aprofundaram as relações da construtora Delta com o esquema de
Carlinhos Cachoeira. Eles identificaram “sinais de aproximação” entre o
contraventor e Claudio Abreu, representante da construtora Delta no
Centro-Oeste, e também suspeitas de envolvimento da Delta com empresas
de fachada.
A procuradora Léa Batista traçou um histórico da atuação recente do
Ministério Público no combate à exploração de jogos de azar e informou
que o embrião da operação Monte Carlo está em denúncias anônimas
relativas a casas de jogos clandestinas feitas em Valparaíso de Goiás em
2006.
A operação foi iniciada efetivamente em novembro de 2010, quando a
Polícia Federal iniciou o monitoramento telefônico, identificou outras
pessoas envolvidas e a utilização de aparelhos Nextel habilitados no
exterior. Em março de 2011, o caso foi transferido para a Justiça
Federal, em razão do envolvimento de um policial rodoviário federal.
A Operação Monte Carlo culminou na prisão de Carlinhos Cachoeira em
29 de fevereiro. Atualmente, o processo judicial resultante do inquérito
tramita na Justiça Federal de Goiás. Audiências de instrução foram
realizadas em julho, e o Ministério Público apresentou alegações finais
no último dia 8 de agosto. Atualmente corre o prazo para a defesa fazer o
mesmo.
Fonte: Agência Senado