Sábado, 17 de agosto de 2013
Do Brasil 247
Muito
tem se dito sobre o projeto de transporte coletivo para Brasília. Uma
hora tem metrô, noutra não tem. O Veículo Leve sobre Trilhos – VLT vai e
volta nos planos oficiais, o Veículo Leve sobre Pneus – VLP
desapareceu. Em seu lugar apareceu o BRT que agora foi batizado de
Expresso DF. Para passar a limpo, para ver o que de fato deve ser feito
no Distrito Federal fui beber direto na fonte. Duas horas de conversa
com o secretário de Transportes do DF, José Walter Vasquez.
De
cara, José Walter transmitiu uma notícia, a meu ver, bastante negativa.
As linhas 2 e 3 do Metrô estão fora dos planos do Governo do Distrito
Federal. Se depender da administração Agnelo Queiroz, a linha 2,
denominada Inter-satélites – que interligaria Ceilândia, Samambaia,
Taguatinga Norte, Recanto das Emas, Riacho Fundo 2, Gama e Santa Maria
com interligação com a linha 1 no Setor O de Ceilândia e em Taguatinga,
nas estações Praça do Relógio e Taguatinga Sul, permitindo que todos os
moradores pudessem usufruir da comodidade de um transporte confortável,
seguro e confiável – foi sepultada. Os brasilienses, potenciais usuários
destes trajetos, vão ter que se contentar mesmo é com o velho e
conhecido ônibus.
A
outra linha abandonada, a de número 3, partiria de uma estação comum à
linha 2, na altura do Balão do Periquito, na confluência de Gama,
Recanto das Emas e Riacho Fundo II. Ela atenderia parte do Park Way,
Núcleo Bandeirantes, Candangolândia, Octogonal, SIA, Sudoeste, Cruzeiro,
teria uma integração na Estação Shopping da Linha 1 e, na altura da
antiga rodoferroviária, desceria, pelo Eixo Monumental, até a Praça dos 3
Poderes.
No
governo Agnelo, somente a Linha 1, já existente, ganhará obras de
ampliação. De um lado, se prolongada até o Setor Comercial Norte. Na
outra extremidade, tanto na perna de Samambaia, quanto na da Ceilândia
onde faltam, em cada via, duas estações. A expansão dessas duas linhas
está prevista na verba do PAC da Mobilidade a ser custeado pelo governo
federal.
Entretanto,
o GDF está se propondo a alongar, antes mesmo de concluir o que estava
previsto no trecho já em operação. Projetada nos anos90, aLinha 1 previa
no trecho já construído cinco outras estações que foram parcialmente
executadas nas administrações anteriores. No Plano Piloto, ainda
precisam ser finalizadas três estações: a da 104 Sul, a do Cine
Brasília, na 106 Sul, e do antigo cine Karim, na 110 Sul. No percurso
até Taguatinga também foram abandonadas as estações “Estrada Parque”, em
Águas Claras, próximo à faculdade Processus, e a Oynoyama, no parque
homônimo. Mas a conclusão destas estações que poderiam trazer mais
conforto aos usuários do metrô não está nos planos de Agnelo.
Também
ficará para um futuro governo levar o metrô até o final da Asa Norte
com mais sete estações. Nos sonhos de consumo do secretário dos
Transportes, esta linha do metrô subiria rumo a Sobradinho, até o Balão
do Torto. Estudos foram encomendados à Universidade de Brasília para
avaliar a viabilidade técnica de se vencer o aclive existente entre a
ponte do Bragueto e o Torto. Uma hipótese seria uma linha em zig-zag, o
que poderia beneficiar os moradores do início do Lago Norte e também do
Varjão.
Este
prolongamento do metrô, contudo, é um sonho e nem no papel ele está. Na
verdade, mais plausível, é a opção de se criar um corredor expresso de
ônibus para interligar as regiões de Sobradinho e Planaltina à Asa
Norte.
Como
a área destinada à integração dos serviços de transportes no final da
W.3 Norte foi vendida a um grande supermercado de origem francesa, uma
estação de integração deverá existir ou nas proximidades do Bragueto ou
do Balão do Torto, onde está prevista a Cidade Digital.
Para
tanto, já se estuda a ampliação da Ponte do Bragueto, capacitando-a a
ganhar as faixas de ônibus expresso e, eventualmente, de metrô ou VLT,
dependendo da opção tecnológica a ser adotada, em ambos os sentidos.
VLT
A
novela do VLT, uma espécie de bonde moderno, ganhou mais um capítulo.
Depois de ser enterrado e de o Brasil ter, inclusive comunicado à FIFA,
que esta obra não mais faria parte dos compromissos da cidade sede, o
VLT ressuscitou. Como estão garantidos pelo governo federal os recursos
para a sua execução e a fundo perdido – ou seja, o GDF não precisa pagar
de volta – deve ser construída a linha ligando o Aeroporto à Estação de
Integração ônibus/metrô, no Setor Policial Sul. A obra está orçada em
cerca de R$ 260 milhões, dos quais o GDF teria que entrar com uma
contrapartida de apenas R$ 15 milhões.
A
licitação, no entanto, só deve ser lançada no ano que vem. A obra não
visa mais a Copa do Mundo. A meta seria entregar este corredor de VLT em
2015. O edital de licitação deverá prever a suspensão dos trabalhos nos
períodos dos jogos de futebol, pois o GDF não quer canteiro de obra nas
fotos os turistas que aqui virão.
Com
isso, a chegada dos turistas que chegarem de avião dar-se-á mesmo é de
ônibus, por meio de um corredor expresso até o Setor Policial Sul.
Resultado: a Estrada Parque Aeroporto, aquela que vai do Balão do
Aeroporto – Bambolê da Dona Sarah, como diziam os pioneiros – ao viaduto
do Zoológico, vai ter uma largura semelhante ao do Eixão. O asfalto vai
invadir as laterais da via hoje existente para dar espaço, de cada
lado, ao serviço de ônibus BRT, ou expresso DF, como passou a ser
batizado por Agnelo. Estas faixas serão destinadas também aos ônibus e
delegações que virão às duas Copas. Outra faixa será utilizada pelo VLT e
duas outras para carros.
O
governo federal repassou R$ 100 milhões para as mudanças viárias. A
viabilização dessa obra obrigará a Petrobrás a fazer uma proteção
especial em concreto – envelopar, segundo o termo técnico – ao duto que
leva querosene de aviação e que está hoje enterrado às margens da EPAr.
Também implicará numa autorização especial das autoridades de
meio-ambiente, pois desde os tempos do governador Arruda, os trabalhos
de ampliação lateral estão proibidos, pois ali é uma área de proteção
ambiental.
O
trajeto do VLT não está nem detalhado. Ainda não se sabe se na área do
Aeroporto ele passará pela via já existente, ou se por detrás das
concessionárias. Tudo depende do remanejamento do posto de combustível e
do estacionamento dos taxistas que operam por ali. De lá, irá até a
Estação de Integração no Setor Policia Sul, sem paradas. Por nossa
sugestão, a secretaria vai estudar a possibilidade técnica de existir
uma parada na porta do Jardim Zoológico, até para garantir demanda de
passageiros nos fins de semana e feriados.
No
governo Agnelo, só este trecho do VLT deverá ser executado. A ampliação
até o fim da W.3 Norte ficará para um futuro ainda não definido.
Entretanto, a secretaria estuda duas outras linhas. Uma circular no Eixo
Monumental que teria dois percursos: o longo, circulando num anel que
iria da Praça dos Três Poderes à Rodoferroviária, e um curto,
contornando na Altura do Memorial JK. A segunda linha sairia do Setor de
Indústria e Abastecimento, passaria pelo Octogonal, Sudoeste, Praça do
Buriti, Setor Noroeste e terminando o circuito na Estação de Integração
da Asa Norte, onde metrô, VLT e ônibus se encontrariam, segundo os
projetos.
Apesar
da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste – Sudeco estar
realizando estudos de viabilidade técnica da transformação da linha do
trem Bandeirante em trem regional, pelo menos de Luziânia até Brasília,
José Walter Vasquez não é um grande entusiasta da idéia. Alega que a
linha não tem trajeto adequado e que demandará uma arquitetura de
transporte intermodal muito grande. São ônibus municipais,
intermunicipais e interestaduais, que implicam em muita negociação com
os prefeitos das cidades do Entorno por onde o trem passaria, além do
próprio governo de Goiás. Desta forma, a aposta da administração Agnelo,
segundo seu secretário de Transportes, é mesmo o uso de ônibus comuns e
articulados. Serão três mil ônibus novos, explica José Walter Vasquez.
Vale lembrar que uma composição de metrô equivale a, aproximadamente,
dez ônibus. Mesmo assim, o GDF preferiu abrir mão do transporte sobre
trilhos.
A
licitação de escolha das empresas que irão operar as rotas –
organizadas sob a forma de bacias – está em banho-maria. Uma liminar
obtida pelo grupo Canhedo, da Viplan, não deixa dar continuidade a
escolha dos empresários que irão atuar no sistema. O grupo Canhedo, com
empresas laranja, foi afastado administrativamente do processo
licitatório, mas conseguiu uma decisão temporariamente favorável a seus
interesses. Caberá à Justiça decidir se ele tem idoneidade para
continuar prestar o serviço de transporte na Capital Federal. O
brasiliense corre o risco também de continuar a conviver com empresas de
propriedade do ex-senador Waldir Amaral, da Viva Brasília, e de Nenê
Constantino – que responde processos por homicídio –, patriarca do Grupo
Áurea, uma holding de 38 empresas de transporte terrestre, cobrindo
sete Estados brasileiros e o Distrito Federal, além da Gol e da Webjet.
Os
novos ônibus deverão usar o novo óleo diesel produzido pela Petrobrás
que é menos poluente, mas que, comparado com os padrões europeus,
continuam muito agressivos ao meio-ambiente.
Questionado
por que o GDF não exigiu uma nova fonte energética para este
transporte, tais como gás natural e energia elétrica, José Walter diz
que reconhece que o óleo diesel é uma tecnologia obsoleta e que em 20
anos já não mais deverá existir. Salientou, contudo que, na visão dele,
não haveria garantia de abastecimento de gás natural no DF para os
ônibus e que não há, salvo na China, experiências demonstrando a
eficácia do uso massivo de ônibus elétrico.
Atualmente,
o Distrito Federal é abastecido de gás veicular transportado por meio
de caminhões tanques, mas já foi elaborado um estudo de interligação do
gasoduto que vai da Bolívia a São Paulo, com903 quilômetrosde extensão,
passando pelo Triângulo Mineiro, Anápolis (GO) e Goiânia. O gasoduto
terá capacidade de transporte de 5,57 milhões de metros cúbicos de gás
por dia. Além de ser mais barato do que o óleo diesel, o gás natural é
menos poluente, mesmo assim, nem a título experimental, o GDF previu o
uso deste combustível. Ao ser indagado pelo sistema inglês de ônibus
elétricos do tipo trólebus implantado para as Olimpíadas de Londres, o
secretário desconversa e diz que sete anos após a assinatura do contrato
com as empresas concessionárias, o GDF poderá exigir tecnologias
diferentes, se assim julgar necessário.
TCB de fora
A
companhia de Transportes Coletivos de Brasília, TCB, não irá atuar em
nenhum das novas linhas, nem mesmo como empresa espelho, forçando as
empresas privadas a proverem serviço de qualidade. A presença dela na
licitação, que poderia ser um mecanismo para reduzir custos ou evitar o
famoso “combinemos” entre as empresas interessadas não acontecerá.
Embora
ainda exista formalmente, o GDF de Agnelo não quer uma empresa estatal
atuando efetivamente na capital federal. Para Vasquez, a TCB teria que
contratar pelo menos dois mil novos profissionais e a gestão de recursos
humanos, bem como de manutenção da frota, por meio de uma empresa
estatal é muito complicada.
À
TCB caberia atuar como empresa laboratório, experimentando novas rotas,
novas tecnologias e novos combustíveis. Serviços pouco rentáveis e, por
isso mesmo, rejeitados pelas empresas privadas. Elas não aceitam ser
cobaia de laboratório. Eventualmente, a TCB poderia vir a atuar em
algumas linhas de transporte executivo, como a já existente Aeroporto-
Setor Hoteleiro Sul – e que ainda não é lucrativa – como, por exemplo, a
ligação Águas Claras-Plano Piloto e absorvendo os serviços de
transporte escolar, hoje privatizados. Como empresa pública, a TCB pode
receber recursos que o Ministério da Educação tem distribuído para
compra de ônibus escolares.
Obras físicas e shopping
No
dia 16/10, a Câmara Legislativa do DF aprovou a lei que autoriza a
contratação pelo GDF de empréstimo de R$ 1,08 bilhão junto à Caixa
Econômica Federal. Esses recursos são provenientes do Programa de
Aceleração do Crescimento, o PAC- 2. O valor representa pouco mais da
metade dos R$ 2 bilhões previstos para investimentos no Plano Diretor de
Transporte Urbano (PDTU).
Do
total a ser contraído no empréstimo, segundo matéria do Correio
Braziliense, R$ 561 milhões serão utilizados no que agora está sendo
chamado de Expresso DF, que interligará Gama, Santa Maria, Park Way e o
Plano Piloto. Segundo o secretário de Transportes, José Walter Vasquez,
do Gama e Santa Maria até o início da Asa Sul as obras consumiriam R$
533,619 milhões.
Para
prosseguir até o final da Asa Norte, passando pela Rodoviária a conta
subiria para R$ 785,330 milhões. Nestes custos, estaria a construção de
uma via exclusiva de ônibus entre o viaduto do Jardim Zoológico e o
Eixo, chegando até a Rodoviária. Também prevê a construção de um centro
comercial que funcionária como estação de integração nas proximidades da
Floricultura do Núcleo Bandeirante. Ali o passageiro poderia optar
entre seguir para o Plano Piloto via Epia ou via Aeroporto.
O
centro comercial com uma área estimada de cinco mil metros quadrados é
assunto polêmico entre os moradores do Park Way. Os moradores,
principalmente os que moram na Quadra 14 daquele bairro, são contrários à
idéia de um centro comercial nas imediações. Acreditam que não há
estrutura viária para atrair um fluxo de carros maior e que uma
estação/centro comercial desta natureza iria contribuir para ampliar a
insegurança no Park Way. José Walter afirma que se a pressão dos
moradores vier a atrasar as obras do pistão de ônibus, ela será
descartada.
Outros
R$ 517 milhões deverão ser aplicados nas obras do Projeto Eixo Oeste,
em intervenções nas avenidas Hélio Prates, Comercial, Samdu, no túnel
central, em Taguatinga, no condomínio Sol Nascente e em Ceilândia. Este
túnel, que permitiria a travessia do centro da cidade, desde a saída do
Trevo do Pistão Sul até as imediações do Estádio Serejão é outra obra
polêmica.
Para
muitos técnicos, este túnel consumirá milhões em recursos públicos e
será apenas mais uma obra faraônica e desnecessária. Para os analistas,
ele só iria jogar o engarrafamento para uns dois quilômetros à frente,
tumultuando as já tumultuadas imediações do Estádio, próximo às QNLs e a
via de ligação Taguatinga-Samambaia. O Projeto prevê ainda obras nas
estradas parques Indústrias Gráficas (Epig) e Setor Policial Militar
(Espm), que geram aproximadamente 50% da demanda por transporte público
no DF.
Bilhete Único
Enquanto
nas eleições municipais de São Paulo já se discutiu o bilhete mensal de
ônibus,aqui em Brasília, ainda não vai ser desta vez que o brasiliense
terá direito a usar o bilhete único. Esta modalidade de tarifação,
utilizada em cidades como Goiânia, cobra um único valor
independentemente do número de ônibus e metrô que o passageiro vier a
ser obrigado a pegar para chegar a seu destino.
Segundo
José Walter, o bilhete será integrado. Em outras palavras, o passageiro
pagará pelo maior valor de passagem dos ônibus que vier a pegar num
mesmo trajeto. Exemplificando: se um morador do Gama subir num ônibus
circular local com destino a linha do BRT para o Plano Piloto, ele
passará o seu cartão e terá debitado o valor da passagem do primeiro
trajeto. Ao mudar para o BRT, terá que passar novamente o cartão e, como
este trajeto é mais caro, lhe será debitada a diferença entre o
primeiro e o segundo valor. Se ao chegar ao Plano Piloto, o passageiro
que saiu do Gama precisar ir até Sobradinho, ele passará novamente o
cartão magnético, mas não lhe será nada debitado, segundo garantiu o
secretario de Transportes.
A
diferença entre bilhete único e bilhete integrado é que no primeiro, o
valor é um só, independentemente do valor do trajeto viajado.
A
licitação das empresas que irão operar estes ônibus terá como
referência o valor máximo da remuneração que os empresários receberão.
Eles receberão por passageiro transportado e não por quilômetro rodado. A
segunda metodologia permite que uma linha bastante rentável subsidie
outra mais fraca, ou mesmo os custos em se manter benefícios a
estudantes e idosos. Mas o GDF optou por pagar em passageiro
transportado sob a alegação de que assim os ônibus não boicotarão
passageiros nas paradas.
Na
concorrência, o valor de referência a ser pago aos empresários é fixado
inicialmente em R$ 2,80 por passageiro transportado. Neste valor, as
empresas já teriam uma lucratividade de 12%. Ganhará a empresa
pré-qualificada que propuser o menor valor abaixo deste teto. O valor
final ao passageiro ainda não é conhecido, mas dificilmente irá ser
menor do que o hoje cobrado.
As
obras do BRT do Gama estão com a conclusão previstas para o segundo
semestre do ano que vem, portanto depois da realização da Copa das
Confederações. A entrada em funcionamento dos ônibus neste trecho e na
Estrada Parque Taguatinga, que no governo Arruda foram chamadas Linhas
Verdes e Amarela, é apontada para junho de 2013, isso se não houver mais
imprevistos na licitação das empresas concessionárias.
Fonte: Tribuna de Taguatinga com Brasil 247