Domingo, 11 de agosto de 2013
Alana Gandra, repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O ato promovido hoje (11), na Rocinha, zona sul do
Rio de Janeiro, pela Anistia Internacional, Comissão de Direitos Humanos
da Assembleia Legislativa (Alerj) e pelo grupo Fazer o Certo, em
solidariedade à família do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, teve a
presença de parentes de vítimas da violência policial no estado. Um
deles, a economista Simone Acioli, irmã da juíza Patricia Acioli, morta
por policiais militares porque pediu a prisão de policiais acusados de
envolvimento com traficantes, em Niterói.
“Hoje está completando dois anos que a minha irmã morreu, e a gente
estar aqui para dar solidariedade e apoiar [a família de Amarildo]. Está
todo mundo esperando o Amarildo aparecer. A gente está aqui para
mostrar que apoia o movimento”, disse Simone. O ajudante de pedreiro
desapareceu no dia 14 de julho, quando foi levado por policiais para a
Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, onde mora a família.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado
Marcelo Freixo (PSOL), destacou que se trata de um caso dramático e
sério. Defendeu que o Dia dos Pais deve ser aproveitado para que se
relembre o caso de Amarildo dentro de um “histórico de truculência muito
forte contra as comunidades mais pobres, de tantos desaparecidos sem
resposta, esquecidos e invisíveis”. Freixo acredita que um ato como o
promovido neste domingo reforça a necessidade de as autoridades públicas
prestarem contas do que ocorreu com o ajudante de pedreiro.
Freixo citou o artigo escrito pelo compositor e cantor Caetano
Veloso, publicado no jornal O Globo de hoje, e a manifestação do ator
Wagner Moura, no Festival de Cinema de Gramado (RS), cobrando das
autoridades uma solução para o caso. “Eu acho que esses formadores de
opinião, a sociedade civil organizada, todo mundo tem que trabalhar à
luz do que sociedade quer construir para a gente”. Ele ressaltou que não
se trata mais de uma questão de justiça pessoal da família do ajudante
de pedreiro da Rocinha. “O que está em jogo é a sociedade que a gente
quer”. Nesse sentido, declarou que não se deve deixar o episódio cair no
esquecimento. Aludiu, ainda, à tentativa de criminalização da vítima
para banalizar a denúncia, que qualificou de ato covarde que não deve
ser admitido.
Para o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila
Roque, o caso Amarildo sintetiza décadas de experiência em que os
territórios das favelas foram tratados como territórios de exceção.
“Exceção de direitos, de tratamentos de cidadania equivalentes ao resto
da cidade”. Considerou que a mobilização nacional e internacional, que
já se tem hoje para exigir uma resposta sobre o que ocorreu com o
Amarildo, exerce uma pressão que não será ignorada.
Na quinta-feira passada (8), Roque participou de encontro com os
ministros Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e José
Eduardo Cardozo, da Justiça, juntos com o secretário-geral da Anistia,
Salil Shetty, que estava em missão no Brasil, durante o qual se falou da
necessidade de o governo federal estar atento e, “se necessário,
assumir a responsabilidades sobre o que aconteceu com o Amarildo”.
Roque avaliou que esse é um caso em que “não é possível mais que os
diferentes níveis de governo possam continuar adiando e empurrando um
para o outro a responsabilidade sobre o esclarecimento”. Acrescentou que
não é possível mais “que amarildos se repitam e que o Estado brasileiro
se mantenha quase que indiferente em relação a isso”. Ele definiu o ato
e a mobilização da sociedade civil sobre o caso como de “grande
importância histórica na luta pela democracia e pela justiça e igualdade
no Brasil.
O primo de Amarildo, Willians Roberts, não tem dúvida que ele foi
morto pela polícia. “Ele foi uma vítima. Ele foi morto por esse grupo
militar, mesmo”, disse. Ele espera que a Justiça “mostre trabalho desta
vez”, para solucionar o caso, afastando os maus policiais da comunidade,
embora reconheça que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dá
segurança aos moradores que, ”infelizmente”, ainda têm que conviver com o
tráfico de drogas. Willians presta serviços à prefeitura. “Eu trabalho
como guardião do Rio”.
A atriz Thayla Ayala, do grupo Fazer o Certo, ressaltou que o
desaparecimento de Amarildo é mais um caso. “Tem 5,6 mil pessoas
desaparecidas no Rio de Janeiro, somente este ano. Muitos casos de
Amarildo”. Ela considerou importante atos como o de hoje para mostrar
que a sociedade está atenta. “Na verdade, a gente veio aqui juntar
forças e mostrar que o povo não está tão acomodado nem tão cego assim
com a Justiça”. O grupo se dedica a estudos de política e decidiu se
juntar à Anistia Internacional no ato deste domingo (11), em
solidariedade à família do ajudante de pedreiro. Eles farão uma
intervenção artística na próxima terça-feira (13), em frente à Alerj,
para “aproveitar a nossa força como artistas e fazer o certo”.
A produtora cinematográfica Paula Lavigne também compareceu ao ato,
em apoio ao movimento. “É o mínimo que a gente pode fazer, porque
Amarildo não é o primeiro, nem o único. Mas estamos torcendo para que
seja último”. Ela pretende chamar a atenção para o caso, aproveitando a
visibilidade da classe artística. Destacou que a Rocinha é um lugar
emblemático da cidade “e a gente torce pela UPP e pelo Rio”.
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