Sábado, 8 de janeiro de 2011
Por Ivan de Carvalho

A surra continua a ser aplicada com as decisões já tomadas para a composição do segundo escalão. As chicotadas mais emblemáticas e doloridas foram aplicadas ao PMDB no Ministério da Saúde, onde, depois de perder para o PT o cargo de ministro, perdeu, com a entrega a petistas, a Secretaria Nacional de Assistência à Saúde e a Funasa.
O PMDB está indignado com essas coisas e reclamou agora de que não está representado no núcleo do governo. Quando este se reuniu, o partido se sentiu constrangido, pois o único peemedebista presente foi seu presidente licenciado Michel Temer, mas não por sua condição de peemedebista e sim por ser o vice-presidente da República.
O cargo de vice, aliás, o obriga (não legalmente, mas politicamente) a estar alinhado com as posições da presidente Dilma Rousseff, de modo que, numa reunião como a que ocorreu, não pode expor livremente eventuais discordâncias, em nome próprio e muito menos em nome do partido, do qual não está ali como representante.
Por enquanto, o PMDB tem malhado em ferro frio. O máximo que conseguiu com o exercício de seu jus esperneandi foi sustar momentaneamente os anúncios de novos nomes para o segundo escalão do governo. Mas não existe qualquer sinal – na verdade, existe a impossibilidade – de que ocorra uma mudança de rumo capaz de atender aos reclamos do PMDB.
Se o PMDB está esperneando, ainda que até o momento inutilmente, os demais partidos da base do governo nem a isto se animam. Em um governo de ampla coalizão partidária, o PT, além do cargo de presidente da República, conseguiu 17 dos 37 cargos do primeiro escalão. Tanto ou mais importante do que esses números é a qualidade de vários desses 17 postos ocupados pelo PT. Na cota petista estão quase todos os postos mais importantes de primeiro escalão.
Mas há um problema. No momento, o governo de Dilma Rousseff tem grande apoio popular, coisa aí de 67 por cento, segundo pesquisa de opinião divulgada. E não existe o menor sinal de que os parceiros do PT na coalizão governista disponham-se a fazer coro com as reclamações do PMDB. Além, disso, o poder presidencial no Brasil é inegavelmente imperial e tem uma capacidade imensa de quebrar resistências políticas até entre oposicionistas, muito mais entre aliados.
A conclusão de tudo isso é óbvia. O PMDB, dentro do cenário político atual, está fazendo um barulho quase inconseqüente. Pode, por causa dele, conseguir um ou dois cargos de segundo escalão a mais do que aqueles que já lhe seriam concedidos. E só. Não tem força para conseguir mais. E não vai retaliar, ainda que esteja insinuando isto.
Outra coisa tenderá a acontecer se o cenário político mudar. Se o governo entrar numa fase de dificuldades financeiras e administrativas e perder substancialmente apoio popular, então o PMDB poderá vir a criar problemas de verdade.
- - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
- - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.