Sábado, 12 de novembro de 2011
Tico Santa Cruz. Foto: Google
O outro lado da USP
Seja bem vindo.
Primeiro quero deixar claro que antes de escrever este texto
pesquisei sobre a questão da ocupação da Reitoria da USP, por entender
que as notícias que estavam sendo passadas, assim como as mensagens
enviadas nas Redes Sociais não faziam qualquer sentido…
Acreditar que alunos de uma das Faculdades mais importantes do país,
se mobilizaram numa ação que ganhou tamanha proporção, por desejarem
usufruir do direito ainda ILEGAL de fazer uso de MACONHA dentro do
Campus, me parecia inconcebível.
Perdi minha ingenuidade há tempos e sou muito curioso, de modo que
entendo o papel da imprensa, sou TOTALMENTE A FAVOR DA SUA LIBERDADE DE
ATUAÇÃO, mas reconheço que existe por trás de grande parte dos veículos
de comunicação de massa, interesses políticos e variáveis que me fazem
sempre questionar “A QUEM INTERESSA DETERMINADA NOTÍCIA”.
Sendo assim, baseei minha pesquisa em Blogs, textos de docentes da
Universidade, alunos ( contra e a favor ) e jornalistas que buscaram uma
visão imparcial, para que realmente não cometesse o equívoco da
preguiça e julgasse de forma superficial uma questão tão discutida nos
últimos dias.
Não entrarei no mérito infantil, relacionado a qual classe social
pertencem os alunos que invadiram a Reitoria, tendo em vista que na
busca por não ser injusto, precisaria pesquisar se as mensagens contra
os “Filhinhos de papais e Playboys rebeldes” estariam sendo enviadas de
computadores populares ou Máquinas de alto valor no mercado e isso me
desviaria do foco.
Então, vamos aos fatos.
A invasão a Reitoria, não esta relacionada apenas com a prisão de
TRÊS jovens que estariam fazendo uso de Maconha no Campus. Com um pouco
de boa vontade, torna-se possível entender que a presença da PM no local
não tem por intenção a mera e importante razão da Segurança. Para
entender, é preciso que você perceba que existem motivações de ordem
política nessa decisão.
Durante a gestão do Governador José Serra (2006-2010) , o nome do
atual Reitor – João Grandino Rodas – foi escolhido através de um DECRETO
publicado no dia 13 de Novembro de 2009. Seu nome era o segundo
colocado numa lista de 3 indicações. O que quer dizer que RODAS não foi
eleito pela comunidade acadêmica. Pelo histórico deste Homem, que já
fora diretor da Faculdade de Direito, pode-se perceber que sua relação
com a democracia no Campus, não é das mais amistosas. Recomendo a
leitura COMPLETA deste artigo – http://altamiroborges.blogspot.com/2011/11/quem-sao-os-vandalos-da-usp.html?spref=tw – onde se encontra o título “A Face autoritária do Reitor da USP” – Trechos como este, poderão lhe ajudar a entender melhor –
“Na gestão de Rodas, estudantes têm sido processados
administrativamente pela Universidade com base em dispositivos
instituídos no período militar. Num dos processos, consta que uma aluna —
cujo nome ficará em sigilo — agiu contra a moral e os bons costumes.
Dispositivos como estes foram resgatados pela USP.”
“O reitor também recebeu o título de persona non grata por
unanimidade na Faculdade de Direito, que apresenta uma série de
denúncias contra a gestão do ex-diretor, acusando-o de improbidade
administrativa, entre outros crimes.”
(Autora Ana Paula Salviatti, publicado no sítio Outras Palavras)
(Autora Ana Paula Salviatti, publicado no sítio Outras Palavras)
Neste mesmo Blog, encontra-se a Nota da Congregação da FFLCH –
Responsável pelo questionamento da presença da PM da forma como esta
sendo feita.
Uma outra leitura importante, para entender o que se passa, é a do
texto de Raquel Rolnik – Muito além da presença ou não da PM no campus
da USP (http://raquelrolnik.wordpress.com/2011/11/04/muito-alem-da-polemica-sobre-a-presenca-ou-nao-da-pm-no-campus-da-usp/)
. Raquel é Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo. ** Alguém que, em tese, tem condições de
abordar o assunto com propriedade.
“Para além da polêmica em torno da ocupação da Reitoria, me parece
que estão em jogo nessa questão três aspectos que têm sido muito pouco
abordados. O primeiro refere-se à estrutura de gestão dos processos
decisórios dentro da USP: quem e em que circunstâncias decide os rumos
da universidade? Não apenas com relação à presença da Polícia Militar ou
não, mas com relação à existência de uma estação de metrô dentro do
campus ou não, ou da própria política de ensino e pesquisa da
universidade e sua relação com a sociedade. A gestão da USP e de seus
processos decisórios é absolutamente estruturada em torno da hierarquia
da carreira acadêmica.
Há muito tempo está claro que esse modelo não tem capacidade de
expressar e representar os distintos segmentos que compõem a
universidade, nem de lidar com os conflitos, movimentos e experiências
sociopolíticas que dela emergem. O fato é que a direção da USP não se
contaminou positivamente pelas experiências de gestão democrática,
compartilhada e participativa vividas em vários âmbitos e níveis da
gestão pública no Brasil. Enfim, a Universidade de São Paulo não se
democratizou.”
Estas e outras PARTES contidas no texto, são fundamentais para uma avaliação da crise.
No site do DCE livre da USP – http://www.dceusp.org.br/2011/10/souto-maior-ninguem-esta-acima-da-lei-mas-quem-e-ninguem-o-que-e-a-lei/#.TrHaGdvbJas.facebook
– há uma abordagem interessante, escrita pelo Professor da Faculdade de
DIREITO da USP – Jorge Luiz Souto Maior – a respeito da Declaração do
atual Governador de SP, Geraldo Alckmim, “Ninguém está acima da lei”.
Levando o questionamento as questões Republicanas, pelas quais são
baseados nosso regime democrático.
“Ninguém está acima da lei”, traduz um preceito republicano, pelo
qual, historicamente, se fixou a conquista de que o poder pertence ao
povo e que, portanto, o governante não detém o poder por si, mas em nome
do povo, exercendo-o nos limites por leis, democraticamente,
estatuídas. O “Ninguém está acima da lei” é uma conquista do povo em
face dos governos autoritários. O “ninguém” da expressão, por
conseguinte, é o governante, jamais o povo. Claro que nenhum do povo
está acima da lei, mas a expressão não se destina a essa obviedade e sim
a consignar algo mais relevante, advindo da luta republicana, isto é,
do povo, para evitar a deturpação do poder.”
E continua, mostrando que há algo ALÉM DA MACONHA.
“E, ademais, qual é a verdade da situação? A grande verdade é que os
alunos da USP não estão querendo um tratamento especial diante da lei.
Não estão pretendendo uma espécie da vácuo legal, para benefício
pessoal. Para ser completamente, claro, não estão querendo fumar maconha
no Campus sem serem incomodados pela lei. Querem, isto sim, manifestar,
democraticamente, sua contrariedade à presença da PM no Campus
universitário, não pelo fato de que a presença da polícia lhes obsta a
prática de atos ilícitos, mas porque o ambiente escolar não é, por si,
um caso de polícia.”
A presença da PM no ambiente acadêmico, inibe manifestações
políticas, e cria constrangimentos aos movimentos reivindicatórios que
são naturais num local onde existem centenas de pessoas convivendo
democraticamente.
Se não é da natureza do cidadão em geral, se envolver em questões
relacionadas a política e ao que é público no Brasil, o erro esta no
DESINTERESSE DO POVO, e não nas Ações de quem decide exercer o livre
direito de contestação de alguma lei ou regra vigente.
Nessa parte, usarei como referencia o ótimo texto do Jornalista André Forastieri – http://bubot.com/a4504 – “O choque na USP e a militarização de São Paulo”.
Onde o jornalista faz uma excelente analogia a quem acha que pelo
simples fato de algo ser LEI, não possa vir a ser QUESTIONADO e até
mesmo não comprido.
“Os argumentos contra os ocupantes da Reitoria da USP são Pífios.
Eles quebraram A lei? Primeiro, se quebram, não importa; Leis não
existem para serem obedecidas cegamente: A lei é para ser desobedecida e
QUESTIONADA abertamente quando INJUSTA. Não é Possível aplaudir as
rebeliões contra Mubarak e Kaddafi, ou a ocupação de Wall Street e
recriminar os Uspianos por não seguir a lei.”
Colocação perfeita a meu ver.
Colocação perfeita a meu ver.
O Brasileiro esta tão condicionado a viver como um Gado, com alguém
lhe dizendo o que fazer e como se comportar, que não se identifica com
aqueles que se voltam contra determinadas injustiças. É por isso também
que aplaudimos o que se faz lá fora e recriminamos quando é feito por
gente nossa.
Marcelo Rubens Paiva, faz um excelente artigo para o ESTADÃO, quando
aborda os resquícios da ditadura envolvidos na cortina de fumaça da
MACONHA no Campus da USP – http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/posse-de-maconha-nao-e-crime/
Aborda a questão do abuso de autoridade por parte dos policiais e da
insistência em abordagens direcionais em busca de entorpecentes e de
quebra ainda nos brinda com um pouco de conhecimento CONSTITUCIONAL –
com o artigo 11.343/06 – que trata da posse de ENTORPECENTES.
O BLOGUEIRO – Pablo Ortellado – http://www.gpopai.org/ortellado/
– no texto – “A cortina de fumaça na segurança da USP” menciona alguns
equívocos praticados pela Força policial no Campus e levanta mais uma
vez a questão do VERDADEIRO OBJETIVO do convênio assinado em Reitoria e a
PM ( Governo do Estado ) no intuito de reprimir os movimentos
estudantis e movimentos sindicais.
Ou seja amigos, como apostava, a questão da Invasão não esta ligada
apenas aos “MACONHEIROS” e “Playboys” e “Filhinhos de papai” que estudam
na USP. Se o acesso a universidades no Brasil esta ligado ao fator
FINANCEIRO, isso é mais um ponto critico que deveríamos questionar em
nosso sistema.
Apenas 4% da população desse país chega numa universidade, isso é uma
VERGONHA NACIONAL. Desses 4%, transforme em 100% e descubra quem apenas
uma MINORIA consegue concluir o ensino. Ainda com um diploma na mão,
existe um índice altíssimo de desemprego e pior, de ANALFABETOS
FUNCIONAIS vagando pelo nosso território.
Não usarei este espaço para defender a desordem e nem a depredação do
Patrimônio PÚBLICO, mas é engraçado ver gente que é INDIFERENTE A
CORRUPÇÃO e ao Vandalismo POLÍTICO praticado por políticos que assaltam
há séculos nossos cofres PÚBLICOS e a condenação IMEDIATA E INSTANTÂNEA
dos alunos por conta de um episódio nublado e mal noticiado.
No mais, como pessoa pública e artista que se sente no direito de
observar e decupar os acontecimentos desse país, em meio a tantos
julgamentos e tanta besteira ESCRITA em redes sociais, me senti no dever
de pesquisar e buscar entender o que está de fato acontecendo na USP.
Não sou paulista e nem estudante universitário, mas também não sou
IDIOTA e nem ingênuo para acreditar dessa DEMONIZAÇÃO do movimento
praticado pelos alunos.
O objetivo é claro amigos – INTIMIDAR E associar qualquer mobilização
que contenha um pouco mais de energia e força – a RÓTULOS que inibam
outras frentes de ATUAÇÃO e enfrentamento do ESTADO. É o jogo fácil de
vender as idéias sem que os CONSUMIDORES se dêem conta do que estão
CONSUMINDO.
De fato, foi trabalhoso fazer a pesquisa e escrever este texto.
Mas, me sinto menos ESTÚPIDO ao não repetir o PARADIGMA da preguiça que tanto nos corrói.
Mais uma vez estamos sendo jogados UNS CONTRA OS OUTROS, enquanto so verdadeiros BANDIDOS se mantém inatingíveis.
Por fim, não se pode mandar nenhum dos estudantes para a
PENITENCIÁRIA, como foi noticiado por alguns jornais, porque para chegar
a uma PENITENCIÁRIA é preciso ser JULGADO E CONDENADO. Mais uma
intimidação patética que vários engoliram sem perceber.
Se você chegou até aqui e leu os artigos, tire suas conclusões, só
não me espere alguém lhe explicar essa questão em 140 caracteres.
Deixo outras fontes de pesquisa:
http://www.twitlonger.com/show/e1ihbmhttp://br.noticias.yahoo.com/blogs/on-the-rocks/ordem-%C3%BCber-alles-154621229.html
http://www.twitlonger.com/show/e1iemf
Boa leitura.
Tico Sta Cruz