Segunda, 28 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

Ele bem sabe que o correto jornalisticamente e
melhor para a sociedade é não haver jornal algum favorável ao governo, da mesma
forma que sabe existirem, infelizmente, numerosos jornais médios e incontáveis
jornais pequenos “a favor”.
Mas deixemos de lado, por
hoje, essa afirmação do ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula. Dirceu
exercita a estratégia partidária de acusar a imprensa de ser contra para ficar
mais fácil passar a idéia de que as denúncias de corrupção e outros malfeitos
no governo são uma “conspiração da mídia”.
Vamos a outro assunto, sem
esquecer Dirceu. No ano 2000, ainda o PT sem o poder federal, Dirceu discursou
em um encontro do partido. “Mais e mais greve, mais e mais mobilização”, grita,
“porque eles têm de apanhar na rua e nas urnas”. O discurso de Dirceu não
cairia no vazio. Dias depois, em maio de 2000, o governador tucano Mário Covas,
de São Paulo, precisou atravessar a Praça da República, centro da capital
paulista e lá havia um acampamento de professores em greve, sob o comando da
Apoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo,
entidade controlada (até hoje) pelo PT.
Mário Covas estava de
câncer, cabelo rarefeito e curto por causa da radioterapia, doença em estágio
irreversível e terminal. Pois barraram-lhe o caminho, houve tentativas de
empurrão e tapa, que a segurança evitou, mas não pôde interceptar laranjas e
pedras, que lhe feriram a cabeça e a boca, o que ele fez questão de mostrar na
hora, como comprova filme posto no Youtube. No filme, também se pode ver uma
cadeira voar, lançada por algum grevista, mas sem atingir o alvo.
No último sábado, o
discurso feito em 2000 por Zé Dirceu continuava a produzir efeitos, “porque
eles têm de apanhar na rua e nas urnas”. De preferência, primeiro, na rua. O
site do PSOL, desde sábado, divulga artigo do secretário-geral do PSOL do
Distrito Federal, Jorge Antunes, maestro e professor aposentado da Universidade
Nacional de Brasília. Ele conta que na manhã de sábado um grupo do PSOL foi
fazer, em ato “Fora Agnelo”, uma panfletagem na Feira de Ceilândia, uma das
cidades-satélites de Brasília.
Agnelo Queiroz é um baiano
eleito governador de Brasília pelo PT, depois de ter pertencido ao PC do B e
ocupado o Ministério do Esporte antes de outro baiano, Orlando Silva, que teve
de deixar o cargo sob pesada carga de denúncias de corrupção e outros malfeitos
na pasta. Agnelo sofre denúncias de ter deixado ao sucessor no ministério uma
considerável herança de malfeitos. No momento, está envolto em denúncias. Então
o PSOL foi distribuir um panfleto em que relatava denúncias divulgadas na mídia
e em apuração na área judicial.
O grupo do PSOL teve que
enfrentar uns cem militantes do PT, devidamente uniformizados com camisas
vermelhas e estrela branca (quando a estrela é vermelha, a camisa é branca),
que de boca própria e também com a ajuda de um carro de som provocavam o grupo
do PSOL, faziam cercos intimidatórios, arrancavam das mãos de seus militantes
maços e maços de panfletos, passaram mesmo a arrancar das mãos das pessoas panfletos
já distribuídos e quando um militante do PSOL foi buscar em um carro mais
panfletos, integrantes da “falange fascista” (foi como o dirigente do PSOL
qualificou ou desqualificou a “militância” do PT) foram junto, e, enquanto uns
o agarravam, outros invadiram o veículo e roubaram os panfletos.
Alguns policiais militares
subordinados ao governo Agnelo apareceram e nada fizeram, exceto o cabo Railson,
que além de tirar o revólver das costas e colocá-lo na cintura, bem na frente,
deu pouco depois um “calço” em Jorge Antunes, o secretário-geral do PSOL do DF.
Falange com apoio
policial... que coisa feia para um sábado – ou para qualquer dia. E qualquer
partido.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Militantes do Psol são cercados pela "falange" do PT na feira da Ceilândia, no sábado.