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(Millôr Fernandes)

sábado, 12 de novembro de 2011

Estratégia em xeque

Sábado, 12 de novembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
O ex-presidente Lula, que já pacificou o PT em torno da candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, para a prefeitura de São Paulo (praticamente forçou, com apelos irrecusáveis sentimental e politicamente, os demais aspirantes petistas a desistirem), deverá partir agora para tentar levar o PMDB a desistir da candidatura do deputado Gabriel Chalita à sucessão do prefeito Gilberto Kassab.

            Da mesma forma que contou com a ajuda da presidente Dilma Rousseff para afastar os obstáculos petistas à unidade petista em torno de Haddad – um ministro da Educação no mínimo muito polêmico –, o ex-presidente, também ajudado pelo fator emocional criado com o câncer na laringe, poderá contar com o auxílio da presidente Dilma Rousseff no esforço para convencer Chalita e o PMDB.

            Trata-se de um caso em que Dilma Rousseff só pode atuar com extrema cautela, pois não estará se movendo dentro de seu partido, o PT, mas para truncar, mais que um objetivo, uma estratégia do PMDB, principal e mais essencial partido aliado, de ganhar autonomia eleitoral, deixando de ser caudatário. É o que o PMDB tem sido, primeiro do PSDB, nos tempos da presidência de Fernando Henrique Cardoso e depois do PT, sob a presidência de Lula, especialmente em seu segundo mandato. E agora sob o governo Dilma Rousseff.

            Depois da morte do ex-governador e ex-senador Orestes Quércia, que controlava a seção paulista do partido, o PMDB planejou voltar a ser protagonista em São Paulo. Isto pretende ser um dos pontos principais de voltar ao protagonismo (uma das palavras postas em uso pelo PT e adjacências e que peço licença para tomar emprestada), mediante o lançamento de candidatos próprios nas eleições, quando e onde isto for possível.

O PMDB foi tomando gradualmente, desde o início do governo Dilma Rousseff, ou até desde um pouco antes, ao ver o resultado das urnas de 2010, consciência de que continuar caudatário – especialmente do PT, que tem evidentes pretensões hegemônicas – o levará no final da estrada ao mesmo destino do PFL, que se manteve atrelado ao PSDB por demasiado tempo e está, em conseqüência, quase extinto. Essa consciência no PMDB está atualmente já em fase avançada de consolidação.

O PMDB, dando curso à estratégia de retorno ao protagonismo que já teve no passado (embora sem a pretensão da hegemonia de que chegou a desfrutar outrora), marcou a eleição na capital paulista como uma vitrina na qual poderia exibir seus novos propósitos de autonomia eleitoral, de voltar a crescer. No ano que vem, a capital paulista é a melhor vitrina e é também esta a que o PT marcou como sua batalha maior, seu ponto de honra.

            O município de São Paulo tem o terceiro orçamento público do país (atrás apenas da União e do Estado de São Paulo), é a maior cidade, a mais rica e a que tem mais eleitores. E é capital do principal Estado da Federação. Em síntese, é “a vitrina”. Daí que o PMDB foi buscar no prestigiado PSB o deputado Gabriel Chalita, oferecendo-lhe a candidatura a prefeito. Chalita aceitou.

            Lula já mandou avisar que quer conversar com ele sobre as eleições para a prefeitura de São Paulo. Implicitamente, o recado significa que o ex-presidente vai pedir que ele se retire da disputa com o argumento de que é para unificar (em torno de um petista, claro, o ministro Haddad) as forças ligadas ao governo federal contra Kassab (o prefeito fundador do PSD, um partido que se declara independente e não integra formalmente a base do governo federal, mas a este não se tem oposto) e contra o PSDB-DEM.

            Será uma decisão difícil para o PMDB e para Chalita, que certamente tem compromisso com o partido.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.