Sábado, 26 de novembro de 2011
Da Veja
Reportagem em VEJA desta semana mostra que sindicalista ligado ao PT alertou o Palácio do Planalto sobre o esquema de extorsão na pasta há nove meses, mas nada foi feito
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em audiência da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal
(Dida Sampaio / AE)
Nas últimas semanas, o país conheceu a extensa lista de serviços
prestados pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi – não aos brasileiros,
mas ao seu partido, o PDT. A edição de VEJA que chega às bancas neste
sábado acrescenta à relação mais uma traficância em curso na pasta: um
esquema de extorsão envolvendo assessores de confiança do ministro que
cobram propina para emitir o registro sindical. O governo foi alertado
para o caso há nove meses por sindicalistas ligados ao PT, mas nada foi
feito a respeito.
Irmar Batista: registro negado por se recusar a pagar propina
Quem relata o caso é o mecânico Irmar Silva Batista, que foi pego na
engrenagem quando tentava criar o Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo
(Sirvesp). Em 2008, o então secretário de Relações do Trabalho, Luiz
Antonio de Medeiros, o apresentou a um assessor, Eudes Carneiro, que lhe
pediu 1 milhão de reais para liberar o registro. Irmar se recusou a
pagar e o registro não saiu até hoje.
Em fevereiro deste ano, Irmar enviou por e-mail uma carta para a
presidente Dilma Rousseff e para o secretário-geral da Presidência,
Gilberto Carvalho. No documento, ele narra o caso e pede providências. O
Palácio do Planalto acusou o recebimento da carta em 9 de março, mas na
semana passada a assessoria de imprensa da Presidência informou que não
foi possível fazer nada. Por motivos técnicos: o trecho que narrava a
denúncia, estranhamente, teria chegado cortado na mensagem recebida.
Ouvidos por VEJA, todos os citados por Irmar Batista negaram o pedido de
propina.
Em entrevista à reportagem, Irmar Batista contou em detalhes o pedido
de propina. Confira a seguir duas das respostas publicadas por VEJA:
O senhor foi achacado no Ministério do Trabalho? No fim de 2008, fui a Brasília reclamar da demora para registrar o sindicato. Procurei o Medeiros (Luiz Antonio de Medeiros, então secretário de Relação do Trabalho), que me levou a uma sala ao lado e disse: "O que o Eudes acertar, está acertado". Então ficamos a sós com o Eudes Carneiro (assessor do ministério).
Antes da reunião, o Eudes mandou a gente desligar os celulares.
Sentamos à mesa e veio a proposta indecente: eles pediram 1 milhão de
reais para liberar o registro do sindicato.
O senhor fala em esquema, o que sugere que seu caso não foi o único.
Vários sindicatos foram extorquidos, mas o pessoal tem medo de
aparecer. Há outros sindicatos que também foram vítimas disso que
aceitaram pagar propina.