Segunda, 8 de
outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho
Formando com o prefeito paulistano
Gilberto Kassab a dupla dos principais cofundadores do PSD, o vice-governador
de São Paulo, Guilherme Afif Domingos – referindo-se ao segundo turno das
renhidas eleições na capital do seu estado, mas deixando nas entrelinhas que o
mesmo vale também para outros lugares do país – disse ontem à noite que a
campanha “vai ser politizada”.
O segundo turno em São Paulo será
disputado entre José Serra, do PSDB e Fernando Haddad, do PT, que se
classificaram para o segundo turno com uma diferença de pouco menos de três por
cento dos votos válidos de frente para o tucano. Afif, que apoia Serra, deixou
claro que a politização da campanha se fará predominantemente em cima do
Mensalão, cujo processo está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal “nesta
semana”.
Há várias semanas esse processo está
sendo julgado, mas a semana que passou foi dedicada ao julgamento que envolve o
núcleo de lideranças do PT arrolados como réus e que, na semana passada,
receberam sentenças condenatórias de três dos quatro ministros que votaram.
Esta semana devem ser colhidos os votos dos outros seis ministros da corte
suprema, que, se não houver uma mudança radical da tendência que o tribunal vem
adotando desde o começo do julgamento, deverão determinar a condenação de José
Dirceu (ex-ministro-chefe da Casa Civil no período do Mensalão no primeiro
governo Lula e ainda o mais influente líder petista depois de Lula, José
Genoino, ex-presidente nacional do PT e Delúbio Soares, ex-tesoureiro, na mesma
época).
Certamente o amargo cálice de fel
que Afif está prometendo ao PT na campanha paulistana tende a ser oferecido ao
mesmo partido onde quer que esteja disputando o segundo turno para prefeitos de
capitais e outras das maiores cidades do país. Não há perspectiva de que em
Salvador a campanha de ACM Neto vá poupar a campanha do petista Pelegrino desse
tema tão desagradável ao PT e tão intragável a um grande número de eleitores.
Um sinal da provável politização da
campanha de Neto foram as declarações duras feitas por ele, assinalando que
enfrentou condições muito desiguais no primeiro turno, com um terço do tempo de
propaganda do que teve Pelegrino “e, nos debates, o jogo combinado” de
adversários seus, “mas no segundo turno vou desmascarar o candidato oficial do
governo”. ACM Neto não fez, ontem, qualquer referência ao julgamento do
Mensalão, mas é inevitável que este não seja um dos assuntos importantes que
porá no debate político, entre outros.
Duas coisas marcaram fortemente o
final da campanha e a eleição em Salvador. No final da campanha, a pesquisa do
Ibope divulgada no sábado à noite conferiu uma vantagem de cinco pontos
percentuais (34 a 29) a Pelegrino, sobre ACM Neto. Dias antes, já colocara
Pelegrino com uma vantagem de três pontos percentuais sobre o democrata ACM
Neto (34 contra 31 por cento). O instituto Babesp, vinculado ao governista
presidente da Assembléia Legislativa, deputado Marcelo Nilo, em sua pesquisa
divulgada na sexta-feira, chegou muito mais perto do resultado do que o
grandalhão e supostamente bisonho Ibope, pois deu 30,8 a Pelegrino e 29,1 a ACM
Neto.
Mas espetacular mesmo foi a incompetência
desse extremamente experiente instituto de pesquisas de opinião pública e
especialmente eleitorais ou – a outra hipótese – a decidida atitude de uma
parte importante dos eleitores de Salvador de esconderem dos pesquisadores do
Ibope como eles haviam acabado de votar. A pesquisa de boca de urna do Ibope
deu uma vantagem de sete pontos percentuais ao candidato do PT sobre o
democrata (43 a 36 por cento).
Parece que os eleitores mentiram
feio ao Ibope. Pois na eleição, puseram o democrata ACM Neto em primeiro lugar.
Apertadíssimo, admita-se, mas primeiro.
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Este artigo foi
publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho
é jornalista baiano.
