Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pesquisas e distorções

Sexta, 18 de outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho
Certos erros em pesquisas eleitorais, levando-as a apresentar ao eleitorado e à sociedade resultados distorcidos, podem influenciar os resultados das urnas, a ponto de produzir na votação resultados que ela não teria – e até resultados contrários aos que teria – se não houvesse aquela influência.

            Já tratei deste assunto aqui pelo menos duas vezes depois das eleições de 7 de outubro, referindo-me basicamente a pesquisas eleitorais realizadas pelo Ibope em São Paulo, Manaus, Curitiba e Salvador, os casos mais gritantes, embora vários outros hajam ocorrido.

            Creio que vale insistir no assunto, ante a previsão de que será divulgada hoje, pela TV Bahia, a primeira pesquisa do Ibope realizada no período de campanha para o segundo turno das eleições de prefeito de Salvador, onde o fracasso do Ibope foi tão completo que o próprio instituto – embora resmungando sobre margens de erros que seus erros superaram amplamente (caso dos absurdos resultados da pesquisa de boca de urna, que deu sete pontos percentuais de vantagem ao candidato Pelegrino, quando as urnas apontaram a vitória do candidato ACM Neto por alguns décimos) – se declarou disposto a ter mais cuidado nas pesquisas sobre o segundo turno na capital baiana.

            Resta saber se terá mesmo mais cuidado ou se a promessa é apenas peça de campanha para tentar recuperar a comprometida credibilidade do instituto. Enquanto essa questão não for esclarecida, não somente em Salvador, como também em outras cidades em que o Ibope errou feio no primeiro turno, como as já citadas Manaus, Curitiba e São Paulo (aí, na contramão de pesquisas feitas por outras entidades), a prudência recomenda que seja o que for que digam os resultados do Ibope, eles sejam postos de molho até que as urnas digam o que realmente pretendiam os eleitores.

            A propósito, o deputado Jutahy Júnior, do PSDB e que está apoiando a candidatura de ACM Neto, tem feito esta semana críticas, algumas das quais valem um registro, sobre pesquisas eleitorais do Ibope. Primeiro, fez declarações à imprensa, depois, um discurso na Câmara dos Deputados.

Um trecho do discurso: “Em Salvador, minha cidade, o candidato ACM Neto, que tem nosso apoio, recebeu na véspera da eleição um resultado 6 por cento a menos. Na boca de urna, 7 por cento. No dia da eleição, foi o primeiro colocado. E, em Manaus, houve um caso mais escandaloso. Colocaram um empate de 29 a 29 por cento e, no dia da eleição, foram 40 por cento para Arthur Virgílio (PSDB) e 19 por cento para a senadora Vanessa (PC do B)”. Acrescentou que em São Paulo, quando todos os demais institutos que fizeram pesquisa lá atribuíam ao tucano José Serra uma situação ascendente, o Ibope colocou-o em terceiro lugar.

Serra passou ao segundo turno em primeiro lugar, ainda que agora – pelas pesquisas do Datafolha e Ibope – esteja em acentuada desvantagem. Mas isso não desfaz a distorção verificada nos números do Ibope no primeiro turno no caso paulistano. Mas, voltando ao discurso de Jutahy Júnior, ele vai à conclusão: “A Presidente Dilma e o ex-presidente Lula concentraram suas campanhas em três Estados: São Paulo, Salvador e Manaus. Será que é coincidência, que exatamente nesses três Estados o IBOPE errou da forma mais escandalosa e escancarada? Eu não acredito em coincidência. Essa manipulação dos institutos de pesquisa tem de ter um basta”.

Antes, o deputado acusara manipulação de pesquisas também no interior como um fenômeno que se espalha pelo país. Vale citá-lo: “Agora virou moda, no interior, vários municípios terem institutos localizados que não existem nem de fato. São pesquisas compradas e registradas na tentativa de influenciar o resultado nos pequenos municípios do Brasil”.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.