Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 22 de junho de 2013

Nove anos sem Leonel Brizola

Sábado, 22 de junho de 2013
Sérgio Caldieri*
No dia 21 de junho completaram-se nove anos da morte de Leonel Brizola. Um dos poucos políticos brasileiros que sempre defendeu, lutou e sofreu as maiores perseguições por estar ao lado dos fracos e oprimidos deste país.

Brizola foi um grande nacionalista dando muitos exemplos, mas poucos assimilaram as suas intenções, pois a mídia conservadora brasileira procurou  diuturnamente destruir a imagem de um político honesto que  teve a maior boa vontade em melhorar a situação do povo miserável.
Basta lembrar que em 2003, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre as seis mil crianças trabalhando de aviãozinho para os traficantes nos morros da cidade do Rio de Janeiro. Mas na reportagem ninguém lembrou que estas crianças deveriam estar estudando  nos 510 CIEPs construídos na cidade e vários municípios fluminenses.
Se mil crianças tivessem estudado nos 510 Cieps construídos no governo Brizola desde maio de 1985 até hoje, em 28 anos teriam estudado mais de 20 milhões de crianças pobres nos famosos Brizolões idealizados por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro e a bela arquitetura de Oscar Niemeyer.
OS CULPADOS
Ninguém lembrou em responsabilizar os culpados da tragédia ocorrida com as crianças, que foram os ex-governadores Moreira Franco e Marcelo Alencar, que de forma mesquinha inviabilizaram a proposta original dos Cieps.
Do Moreira não poderia se esperar nada, pois sempre foi um lambe botas da ditadura, mas Marcelo Alencar, como advogado, chegou a defender alguns presos políticos. Este senhor, vale também lembrar, participou com o irmão empreiteiro da destruição do jornal Correio da Manhã, isso depois de uma empreitada política mal sucedida de apoiar o então pleiteante à indicação pelos militares para ser presidente, o coronel Mario Andreazza. A sua candidatura não vingou, o Correio da Manhã submergiu, dele restando apenas o esqueleto de suas instalações na Rua Gomes Freire, no bairro carioca da Lapa.
Quando Brizola era governador do Estado do Rio a imprensa foi implacável em todos os sentidos. Com se a violência do capitalismo selvagem e o tráfico de drogas fossem culpa de Brizola. Na ditadura, os agentes da repressão (SNI, Cenimar, Ciexe os gorilas do DOI-Codi) achavam rapidinho os subversivos, os inimigos da pátria, que prendiam, torturavam e matavam. Só tinham competência para prender e torturar, mas atualmente, para achar um grande traficante de drogas ou armas, apesar de seus treinamentos na CIA ou no Mossad nem prendem ladrões de galinhas e traficantes pés de chinelos. Só fazem escutas telefônicas para vender matérias para as revistas.
ARAPONGA…
Mesmo depois de morto, O Globo no ano passado continuou destruindo a imagem de Leonel Brizola. Um araponga desopucado do SNI achou um relatório de um “competentíssimo” agente contando que Brizola teria recebido dinheiro nas empresas de ônibus do Rio, mas na matéria de uma página com manchete de primeira página não tinha uma comprovação real, apenas o agente relatou insinuações.
Uma semana antes da morte de Brizola, o jornalista Ali Kamel, diretor executivo de jornalismo da Rede Globo escreveu artigo em que culpava o ex-governador pela violência no Rio de Janeiro. Há poucas semanas, portanto em 2010, o poeta Ferreira Gullar, um crítico ferrenho do trabalhismo, escrevendo na Folha de S. Paulo, repetiu o que tinha dito Kamel há seis anos, ou seja, de que a culpa da violência no Rio de Janeiro é do Brizola. Não procedeu como um poeta, que poupa os mortos, mesmo sendo eles seus inimigos.  Ferreira Gullar com isso demonstrou que é um intelectual com falta de grandeza e que guarda rancor contra pessoas erradas, mas poupa até políticos reconhecidamente de direita, como demonstrou ao apoiar em 2006 o candidato a Presidente Geraldo Alckmin, do PSDB.
PERSEGUIÇÃO
Recentemente, durante uma reunião do Conselho Deliberativo da Associação Brasileiro de Imprensa (ABI), o ex-editor do caderno cidade de O Globo, Pinheiro Junior, lembrou que diariamente o diretor de redação Evandro Carlos de Andrade cobrava uma matéria contra Brizola: “Geralmente o chefe de reportagem já sabia da política do jornal e tomava providências para sempre haver notícias ou reportagens contra Brizola, principalmente matérias sobre os CIEPs”.
Segundo Pinheiro Junior, quando nada havia de novo, o editor geral cobrava: “Te vira, arranja alguma coisa contra Brizola porque o doutor Roberto Marinho quer”.
Os exemplos de manipulações midiáticas contra Brizola não caberiam neste espaço. Mas vale assinalar que as mentiras e meias verdades das Organizações Globo contra o Governador Leonel Brizola foram uma continuidade histórica dos linchamentos midiáticos contra os Presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. Não se trata de uma simples conjectura, mas uma constatação. E quem tiver dúvidas, por favor, consulte na Biblioteca Nacional o jornal O Globo daqueles anos.
RECONHECIMENTO
Há nove anos, centenas de milhares de cariocas e fluminenses foram ao Palácio Guanabara no velório se despedir de Brizola, numa demonstração inequívoca de reconhecimento a um político que durante toda vida manteve coerência e jamais ”costeou o alambrado”, para usar uma expressão do próprio Governador do Estado do Rio de Janeiro. Uma coerência que levou as Organizações Globo a combatê-lo de forma radical, mas que logo após a sua morte, com grande dose de hipocrisia, transformou-o num santo.
Pode-se comparar o procedimento das Organizações Globo ao que nos dias atuais realiza em relação ao período ditatorial do pós-64. Isto é, trata o marco negativo da história brasileira representado pelo golpe de estado que derrubou o Presidente João Goulart, como se não tivesse dado total apoio à quebra da ordem constitucional.
Mas, em fim, Leonel Brizola, quer queiram ou não as Organizações Globo, Ali Kamel e Ferreira Gullar, tem o lugar garantido na história brasileira como um político que sempre esteve ao lado do povo.

*Sergio Caldieri é jornalista, escritor, Conselheiro da ABI   e integrante do Conselho Editorial do Página 64