Sábado, 10 de agosto de 2013
Como o esquema de desvios de recursos
do metrô operou na capital federal. Delator da Siemens diz que os
ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda receberam propina. A
comissão de Roriz era de R$ 700 mil por mês, segundo a denúncia
Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e
Sérgio Pardellas
Revista IstoÉ, edição 2282
A máfia do trem, que operou sem
constrangimentos nos governos tucanos de São Paulo durante as gestões
Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, desenvolveu tentáculos em
Brasília. Na última semana, ISTOÉ teve acesso a novos trechos das
denúncias feitas por um ex-funcionário do conglomerado alemão Siemens ao
ombudsman da companhia em 2008 e ao Ministério Público. Nelas, o
denunciante revela que, na capital federal, o esquema para a manutenção
do metrô do Distrito Federal faturou ilegalmente com o consentimento de
secretários e políticos do alto escalão. Como em São Paulo, o esquema
também era mantido à base de distribuição de propina. Entre os
corrompidos, contou o ex-executivo da Siemens, estariam os
ex-governadores Joaquim Roriz (PMDB) e José Roberto Arruda (ex-DEM). A
líder do cartel era a Alstom, conglomerado francês que impôs aos
contratos um valor capaz de resultar num lucro de fazer inveja a
qualquer ramo: margens líquidas acima dos 50%. Em contratos usuais, esse
valor varia entre 10% e 15%. Não à toa, dirigentes do mercado de
transportes sobre trilhos se referiam ao projeto como a “galinha dos
ovos de ouro da Alstom.”
Para a dinheirama trafegar livremente, as companhias responsáveis
pela manutenção do metrô do Distrito Federal tiveram de pagar propinas
de mais de 10% do valor líquido dos contratos a políticos e servidores. A
comissão, assegurou o delator, foi repassada em 2001 ao então
governador Joaquim Roriz, ao seu chefe de gabinete, Valério Neves, ao
ex-presidente do metrô de Brasília Paulo Victor Rezende e ao ex-diretor
de operações do metrô Antônio Manoel Soares, a quem o denunciante chama
de “Baiano”. Também integrava o propinoduto, segundo o ex-funcionário da
Siemens, o atual vice-governador de Brasília e, na época, secretário
estadual de Infraestrutura, Tadeu Filippelli (PMDB). O então governador
Joaquim Roriz, segundo o relato do denunciante, era o maior beneficiário
do propinoduto em Brasília. Independentemente do valor dos contratos,
ele recebia das companhias uma mesada fixa de R$ 700 mil em troca do
aval ao golpe. “A comissão paga mensalmente ao governador Roriz era da
ordem de R$ 700 mil”, disse o ex-funcionário da Siemens.