Sábado, 17 de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho

Não espere
de mim o leitor detalhes e análises profundas. Não sou jornalista especializado
em economia, muito menos analista econômico. Apenas há coisas que, por muito notórias,
não conseguem passar despercebidas, ainda que este pudesse ser um desejo do
governo.
Em
princípios desta semana o noticiário deu conta de que havia entre os
responsáveis pela gestão econômica no governo federal um sentimento quase
feliz, pois o IBGE estava mostrando que o segundo trimestre deste ano foi
melhor que o primeiro, indicando até mesmo uma elevação animadora da atividade
econômica – animadora pelo menos para quem vem transitando ao rés do chão.
Retraimento da inflação (em grande
parte, sazonal, mas quem não tem cão caça com gato e para quem está perdido,
todo mato é caminho) e um microprogresso no desempenho do Produto Interno
Bruto. Também vale referir o início de uma recuperação da economia na “zona do
euro” e na União Européia em geral, o que, apesar dos “furos” ainda existentes
nesse início de recuperação, é beleza pura – a União Européia é grande parceira
comercial do Brasil e nossas exportações para lá tendem a aumentar.
Ora, se no noticiário o segundo trimestre foi
melhor que o primeiro, o terceiro – e como não?! – seria melhor que o segundo e
o quarto melhor que o terceiro e vamos que vamos. E o governo, que já vem
aumentando, sem parar, seus gastos nos piores momentos, mais os aumentaria nos
bons momentos que virão e dona Dilma voltará a arrepiar nas pesquisas de
opinião pública.

Primeiro espírito de porco. Apesar
das duas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio na tentativa de
evitar a disparada do dólar, esta moeda à vista (referência para as negociações
no mercado financeiro) fechou ontem em alta de 1,54 em relação ao real, cotado
a R$ 2,375 na venda. É o maior valor desde março de 2009, quando a cotação
chegou a R$ 2,378. O dólar comercial, usado no comércio exterior, chegou a R$
2,396. O “mercado” já tem a expectativa de cotação do dólar a R$ 2,70 no fim do
ano. Entre muitas coisas, a disparada do dólar exerce pressão inflacionária.
Segundo espírito de porco. Dirigentes
da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao
Crédito emporcalham dados divulgados pelo IBGE, segundo os quais o volume de
vendas no varejo em junho último teve crescimento de 1,7 em relação ao de junho
do ano passado. Pois a CNDL e o SPC acreditam que o aumento do consumo de
combustíveis e lubrificantes, item responsável por quase metade (48%) do volume
de vendas do comércio em junho deste ano, “camuflou o cenário atual” que o
comércio varejista experimenta. Os dados do IBGE mostram desaceleração do
crescimento em cinco dos oito setores avaliados pela pesquisa desse instituto
estatal. Desacelerações maiores sobretudo em quatro: vestuário, móveis,
papelaria e supermercados. Não fosse o setor de combustíveis e lubrificantes,
“o crescimento teria caído pela metade”, diz o presidente da CNDL, Roque
Junior.
Terceiro espírito de porco. O
banco de investimentos J.P. Morgan revisou para baixo, radicalmente, sua
estimativa para o Produto Interno Bruto brasileiro no terceiro trimestre deste
ano. A expectativa anterior dos analistas do banco era de uma expansão de 1,5
por cento do PIB no período julho-agosto-setembro em comparação com o segundo
trimestre. Pois agora, ao invés de expansão, essa estimativa é de uma contração
de 0,3 por cento. Há previsão de uma recuperação moderada em seguida. Para
2013, a estimativa foi mantida em 2 por cento. A estimativa de crescimento do
PIB para 2014 foi rebaixada pelo J. P. Morgan de 2,7 para 2,4 por cento.
- - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.