Terça, 13 de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho

Tenho a impressão pessoal de que
uma grande parte dos eleitores brasileiros é extremamente generosa na avaliação
de um governo.
Ou de que não entende muito do
assunto, talvez devido à qualidade (ou ausência de qualidade) da educação e
informação que recebe nas escolas, especialmente as do ensino fundamental e do
segundo grau do sistema público.
Ou de que avaliações tão bisonhas
como aquela de aprovação do governo com 65 por cento de “ótimo e bom”, apurada
em março pelo Datafolha, também resulta, em grande parte, da deficiência da
maioria da mídia, no que seria a sua tarefa de levar à sociedade, de uma
maneira objetiva e clara, as informações que realmente importam, preferindo
dedicar um tempo enorme a informar abobrinhas inúteis que tanto fascinam o
apetite de grande parte do público e não irritam o poder estatal,
superdimensionado no Brasil.
Ou se deixa – essa parte do
eleitorado que, como já disse, segundo minha impressão, não consegue avaliar
sensatamente um governo – talvez enrolar facilmente pelo marketing político e
pela propaganda mais ostensiva, ambas exploradas além de quaisquer limites,
como mostram números divulgados no último fim de semana sobre os gastos do
governo com publicidade.
Mas às vezes a generosidade na
avaliação do governo é abalada, apesar de tudo. Foi o que aconteceu depois da
pesquisa Datafolha de março até a pesquisa do mesmo instituto na primeira
semana de junho. A avaliação do governo Dilma Rousseff caíra oito por cento. E
o governo percebera o declínio antes do Datafolha divulgar sua pesquisa do
começo de junho. O governo tem pesquisas como rotina.
Percebeu o movimento negativo e
entrou em campo pisando nos cascos, com a presidente toda hora na televisão e
esforçando-se também para consolidar as alianças eleitorais com os partidos
antes que viesse a público a tendência de baixa. Mas foi aí que vieram as
manifestações populares de rua nas três últimas semanas de junho e uma queda de
27 por cento na aprovação do governo Dilma – o que resultou em 35 por cento,
quando somados àqueles oito por cento que, depois ficou claro, tanto alarmaram
o governo e seu partido, o PT.
Com os 35 por cento, houve uma
pane total nas estratégias políticas do governismo. Não digo que o fenômeno
também ocorreu no campo da oposição, porque esta não tem estratégia alguma até
agora. Pior que, além de não ter estratégia, também não tem um líder natural, a
um tempo conhecido nacionalmente, com bom conceito na sociedade e com carisma.
Talvez seja possível apontar alguém com as duas primeiras qualidades, mas
faltando a terceira e extremamente importante – o carisma. Talvez seja o caso
de Marina Silva. Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que está
ensaiando ser, mas ainda não é oposição (integram, ele e seu partido,
formalmente, a aliança governista) pode ter carisma e bom conceito (em
Pernambuco...), mas não é nacionalmente conhecido. E, por enquanto, faltam-lhe
aliados e pontos nas pesquisas.
Daí que pode ser muito importante
o que, tivessem as oposições um líder com aquelas três qualidades, seria apenas
um dado a mais a considerar. Refiro-me à recuperação de seis pontos percentuais
(a troco blá-blá-blá e que mais?) na avaliação positiva (ótimo + bom) de seu
governo. Não dá para saber ainda se a recuperação é sustentável ou não. Mas os
partidos notam essa pequena reconquista de seis por cento, enquanto são chamados,
os governistas, para conversas que antes não existiam e recebem agrados
(rapapés e dinheiro de emendas parlamentares) que antes eram negados. Do outro
lado, nota-se que as oposições não conseguiram aproveitar o grande espaço popular
aberto até o fim de junho e em sua quase totalidade ainda disponível. Pode-se
dizer até que, sem uma estratégia, com pouco poder e com o drama dos tucanos no
caso do cartel do metrô paulista, as oposições conseguiram perder espaço ao
mesmo tempo que o governo.
É ridículo.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.