Quinta, 1º de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho

E até aqui
parece que de nada valeu. Até dois fatos que se poderia até presumir que
poderiam ajudar o governo muito mais o atrapalharam. Um deles foi a Copa das
Confederações, um dos principais alvos dos protestos. O governo não se
beneficiou nem um pouco com a gloriosa conquista da Copa das Confederações pela
seleção brasileira, pois esta foi brasileira e de Felipão, mas não do governo.
Do governo
foram os estádios, os reformados e os reconstruídos a um custo altíssimo e, em
alguns casos, com uma incompetência capaz de provocar mais riso que ira. Não
vou entrar aqui na questão de custos financeiros, pois se trata de assunto
adequado somente a especialistas, cabendo ao cidadão leigo e mesmo ao
jornalista político apenas uma compreensão que não pode ser mais que
superficial, ainda que possa ser, em muitos casos, desabonadora.
Mas a Copa
das Confederações valeria, como espera o governo que valha a Copa do Mundo,
porque projetaria no exterior uma agradável imagem do país, capaz de construir
bem, de organizar (não confundir com desorganizar) bem, de festejar as obras
faraônicas gestadas nas mentes de seus governantes. E, no entanto, que ironia,
a Copa das Confederações serviu para reunir aqui equipes de trabalho da mídia
mundial e chamar a atenção para o rolo que se passava do Oiapoque ao Chuí –
enormes manifestações de protesto nas ruas, por causa do estado degradado e
degradante de serviços públicos como os de saúde, segurança pública, educação e
transporte coletivo urbano, por causa da corrupção endêmica e epidêmica (sim, o
Brasil tem sido capaz de produzir este dueto infernal).
Ah, o tiro
saiu pela culatra. Quem sabe, tudo se repete na Copa do Mundo e aí as coisas
adquirem um aspecto ainda mais assustado para os governantes e o governismo
(até levando de roldão as oposições, se elas não souberem, daqui para lá,
executar uma estratégia que lhes permita sair da linha de tiro).
Mas a
população se mostrou refratária a recompensar a oferta do circo que com seu
dinheiro lhe ofereceram, quando poderiam tê-lo empregado em hospitais, postos
médicos, ambulatórios, equipamentos, medicamentos e pessoal da área de saúde,
para não detalhar os demais setores levados às ruas pelos manifestantes, como
escolas, transporte coletivo e segurança pública, uma das mais gritantes
vergonhas nacionais.
Também deu sinais de que o “pão”
representado por programas como o Bolsa Família e as sempre rachadas casas do
programa Minha Casa Minha Vida – que lembram as cisternas de polietileno
deformadas pelo calor do semiárido e até incendiadas, os trilhos moles da
importante Ferrovia Norte-Sul e o grande risco de serem iguais, já que também
chineses, os da igualmente importante Ferrovia Oeste Leste (Fiol) – e coisas
mirabulosas (ou mirabolantes?) como um trem-bala e a Ponte João Ubaldo Ribeiro
já não fazem a cabeça de muita gente.
Se fizessem, não haveria essa
aflição toda no Palácio do Planalto, a presidente Dilma não faria a descortesia
de cansar mais ainda um Francisco cansado “puxando” de algum lugar um papelório
com um discurso protocolar (!) de meia hora. Nem estariam propondo atabalhoadamente
“Constituinte exclusiva restrita” para desistir no dia seguinte, nem plebiscito
inviável para as “vitais” diretrizes programáticas do PT do financiamento
público das campanhas eleitorais “deles” – que se virem – nem do voto em lista,
que só à cúpula do PT interessa e retira do eleitor o direito e a liberdade de
votar no candidato a parlamentar que quiser.
Incrível, mas é com esse tipo de
ofertas e mais o aborto, a liderança, no Brasil, do que o papa Francisco chamou
de “lobby gay”, o “controle social da mídia” rebatizado – porque “controle não
soava bem” – de “democratização da mídia”, é com isso que o PT e seu governo
esperam escalar as paredes do profundo poço em que hoje estão. Isso é bem
aquela filosofia de que, quem não tem cão, caça com gato. Ou até com rato.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.