Domingo, 15 de setembro de 2013
Por Celso Lungaretti
Stalin saiu vitorioso da luta interna do Partido Comunista da União Soviética, na década de 1920. Mas, com seu socialismo num só país,
acabou por engendrar uma repulsiva sociedade totalitária, que tornou
execrável a imagem do comunismo e contribuiu decisivamente para o
aborto da revolução mundial, que daria um fim ao pesadelo capitalista.
Já Trotsky, o derrotado, passou à História como o profeta que, antes de
todos, vislumbrou a armadilha para a qual marchavam os bolcheviques
("primeiro o partido substitui a classe trabalhadora, depois o Comitê
Central substitui o partido e, finalmente, um tirano substitui o Comitê
Central"); como o guerreiro que resistiu com unhas e dentes ao
desvirtuamento dos ideais marxistas; e como o mártir que deu a vida em
nome do internacionalismo proletário.
Quem foi o verdadeiro vencedor? O que conquistou o poder mas, no longo
prazo, seria o principal artífice de uma derrota de proporções
catastróficas? Ou o que perdeu o poder, mas permanece até hoje como um
grande referencial da transformação revolucionária de que a humanidade
desesperadamente carece?
Foi o que levou o extraordinário historiador marxista Isaac Deutscher a discorrer sobre derrota na vitória e vitória na derrota.
Infelizmente, depois das jornadas heróicas de 1968 e anos seguintes,
grande parte da esquerda voltou ao maniqueísmo, utilitarismo e
imediatismo típicos de era stalinista.
Antes, éramos percebidos como a alternativa à absoluta amoralidade da
burguesia decadente, que nem sequer crê mais nos valores outrora
professados. Ahora, no más!
1989: o coroamento da obra de Stalin |
Os EUA chegam ao cúmulo de manter presos, em Guantánamo, coitadezas que
sua Justiça mandou soltar, sob o pretexto de que país nenhum quer
recebê-los (noutros tempos, libertaria até o próprio Bin Laden, se um
tribunal assim decidisse).
Do outro lado, Chávez introduziu o método da escalada dissimulada ao poder, subjugando pouco a pouco o Legislativo e o Judiciário com favorecimentos e intimidações, sem a integridade de uma verdadeira revolução, que proclama seus objetivos, luta abertamente por eles e deles tem orgulho.
E, mesmo no Brasil, a política foi convertida num Oeste selvagem, com o
tiroteio entre esquerda e direita passando longe de quaisquer ideais e
princípios. Só importa alvejar o inimigo, mesmo que utilizando os
mesmíssimos métodos do inimigo.
Foi como começou o mensalão:
ao invés de denunciar e combater a podridão entranhada na política
brasileira, como sempre prometeu que faria, o PT optou por comprar
apoios como os partidos à direita sempre fizeram.
É injusto que só os mensaleiros sejam punidos, quando práticas equivalentes se repetem em todos os níveis das administrações municipais, estaduais e federal, sob o manto de uma impunidade avassaladora? É.
Mas, eles são verdadeiramente inocentes? Não. E mesmo seus mais ardentes defensores, no fundo, sabem disto.
É injusto que só os mensaleiros sejam punidos, quando práticas equivalentes se repetem em todos os níveis das administrações municipais, estaduais e federal, sob o manto de uma impunidade avassaladora? É.
Mas, eles são verdadeiramente inocentes? Não. E mesmo seus mais ardentes defensores, no fundo, sabem disto.
Eles estão sendo acusados de práticas revolucionárias, que justificassem
o recebimento de solidariedade revolucionária? Não. Subornar a pior
escória da política brasileira para garantir a maldita governabilidade é
simplesmente indefensável sob o prisma revolucionário.
Então, as pessoas ditas de esquerda que querem salvá-los a qualquer
preço, enquanto o PIG martela dia e noite que poderosos nunca cumprem
pena no Brasil, o que fazem, na verdade? Matam, no cidadão comum, a
esperança de que a esquerda pudesse ser diferente do lixo que a direita
é.
Modificar a decisão de um julgamento politizadíssimo graças ao voto de
dois ministros que dele não participaram e estavam moralmente obrigados a
abster-se garante um objetivo imediato, mas será compreendido pelas
pessoas capazes de ver um palmo na frente do nariz como mera trapaça.
Virada de mesa. Uma mão ganha com dois curingas tirados da manga.
Vitórias desse tipo só nos conduzem a uma derrota tão acachapante quanto a que o stalinismo sofreu.
Existimos para despertar a consciência dos explorados, de forma que
possam tornar-se sujeitos de sua vida e da História. Não para reduzi-los
ao fanatismo obtuso dos torcedores de futebol.
Fonte: Blog Náufrago da Utopia