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(Millôr Fernandes)

domingo, 22 de dezembro de 2013

DF precisa de coleta seletiva, reciclagem e fim do Lixão da Estrutural

Domingo, 22 de dezembro de 2013
O Governo do Distrito Federal deveria contextualizar os resíduos sólidos à luz da reciclagem como um projeto de desenvolvimento limpo. Os problemas ambientais resultantes do excesso de resíduos sólidos, de sua destinação final e do tratamento inadequado tornam imperativo um modelo de gerenciamento que vise a oportunidades de manejo sustentável garantidoras do controle ambiental.
A acentuada setorialização espacial do Distrito Federal assegura a produção de resíduos com predominância de determinados componentes, o que dá oportunidade para que ocorra uma gestão mais racional da organização no trabalho de coleta e reciclagem. Por outro lado, a ausência de produção industrial local força a importação de bens de consumo produzidos em outras Unidades da Federação, acarretando excesso de embalagens e sobre-embalagens, o que contribui para o aumento do percentual absoluto de determinados materiais recicláveis no lixo.
A reciclagem de resíduos é uma alternativa para a inclusão social e para a redução da quantidade de resíduos sólidos. Tornam-se urgentes cursos de treinamento que capacitem os catadores em tecnologia social de reciclagem, o que possibilitaria o desenvolvimento de novos produtos, agregação de valor aos resíduos coletados, geração de renda, criação de postos de trabalho e comercialização dos itens produzidos. Então, com a capacitação em reciclagem de resíduos, os catadores teriam uma possibilidade de saída para os seus problemas sociais.
 No DF, é muito precária a situação dos catadores, devido ainda haver pouca infraestrutura, pois muitos ainda trabalham junto às suas próprias casas, onde vendem e geram renda para a família, em ambientes muitas vezes insalubres, como o Lixão da Estrutural. Devido ao fato de os catadores não se protegerem (inclusive por falta de recursos para adquirir luvas e outros elementos necessários à proteção deles), é comum ocorrerem lesões ou infecções pelo manuseio do lixo.
Por sua vez, os atravessadores se aproveitam da frágil estrutura organizacional dos catadores e abocanham 75% do faturamento gerado pela reciclagem, enquanto os catadores ficam com apenas 25% da receita, e com todo trabalho pesado.
Por outro aspecto, a comunidade tem de envolver-se na responsabilidade compartilhada pela gestão de resíduos, pois todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto têm que ter responsabilidade pelo seu descarte adequado após o uso. Ora, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto implica o conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços de limpeza urbana, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida do produto.
Destaca-se, portanto, a responsabilidade dos consumidores, que deveriam ser instados a acondicionar adequadamente, e de forma diferenciada, os resíduos sólidos gerados e a disponibilizar os resíduos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução, sendo, então, agentes propulsores da sustentabilidade associada ao ciclo de vida dos produtos.
Como atividade econômica comercial, a reciclagem merece ser empreendida como uma gestão que ponha em relevo micro e pequenas empresas, a partir de micro e pequenos empreendimentos que se baseiem na elaboração de projetos econômicos com impacto social positivo, condutores do desenvolvimento social por intermédio da elaboração de projetos de responsabilidade social.
O aumento da geração de resíduos sólidos urbanos e os problemas decorrentes da falta de um gerenciamento adequado para seu destino final, que, na maioria dos casos, ainda é o lixão, têm ocasionado graves problemas para o Distrito Federal. A gestão do lixo é um dos problemas mais graves do DF – situação que ainda não foi resolvida adequadamente. O Lixão da Estrutural começou em 1961 e, poucos anos depois, os primeiro barracos de catadores foram montados. Ele representa uma ameaça à saúde ambiental do Distrito Federal, pois fica ao lado do Parque Nacional de Brasília, de onde vem a água que abastece mais de 500 mil pessoas.
É preciso que se faça um trabalho comunitário junto aos catadores, oferecendo um espaço adequado, salubre, com instalações sanitárias, refeitórios e um pagamento justo pelo trabalho que eles têm de juntar e aproveitar sobras, porque trabalham sem salário, sem rendimento, submetendo-se a garimpar nos monturos de lixo para ter o que comer. O Lixão da Estrutural é fonte de renda de cerca de 1.600 catadores, que recebem, em média, cerca de R$ 400 por mês.
Os catadores trabalham em baixo de chuva, em condições de insalubridade e sofrem risco de acidentes, principalmente em pontos de descarga onde as máquinas trabalham muito próximas a eles. A atividade de catação também acontece durante a noite, e muito catadores moram em barracos dentro do Lixão. São milhares de pessoas que enfrentam uma montanha malcheirosa e cheia de urubus todos os dias. Acrescente-se a isso o fato de que é um dos locais com maior concentração de exploração do trabalho de crianças e adolescentes no Distrito Federal. A maioria dos menores é formada por meninos com idade em torno de 14 anos cujo dinheiro que recebem serve para complementar a renda da família.
De acordo com determinação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Lixão da Estrutural precisa ser desativado. No Distrito Federal, a proposta é de que o governo passe a cobrar pela exploração de um aterro sanitário a ser construído, entretanto os catadores são contra - além de remuneração, eles querem garantias de que o governo vá construir galpões de reciclagem. O Lixão da Estrutural recebe diariamente mais de três mil toneladas de lixo comum e mais de cinco mil de lixo da construção civil – já está acima da cota de 40 metros de lixo e não tem mais condições técnicas de receber resíduo sólido.
Os aterros sanitários, diferentemente dos lixões a céu aberto como o da Estrutural, preparam o solo para que não haja contaminação do lençol freático e das áreas em volta do próprio aterro, assim como se monitora o ar para que sejam verificadas as emissões de gases provenientes dos resíduos ali enterrados. O gás gerado nos aterros sanitários, tratados por intermédio da queima direta, possibilita que o metanol nele contido possa ser transformado em dióxido de carbono, que possui um potencial poluidor muito menor que o do metano.
Faz-se necessário apoio da população e das autoridades para aperfeiçoar o tratamento do lixo. A sociedade e o Governo do Distrito Federal precisam conscientizar-se sobre os cuidados com o tratamento adequado dos resíduos sólidos. As pessoas estão muito preocupadas em tirar o lixo de casa e colocar na lixeira, mas não se importam para onde vai o lixo que produzem.