Sílvio Santos é um mito da tevê.
Sílvio Santos despreza as regras da tevê quase sempre, faz e desfaz das
grades de programação a seu bel-prazer e acerta e erra de forma mítica.
Dá entrevistas onde se mostra um empresário cheio de ética, sua ética
particular, e já foi candidato a presidente mas a gente deve sempre se
lembrar que esse cara querido e simpaticão, no auge da ditadura, tinha o
minuto do presidente na sua emissora para elogiar o militar presidente
da vez e que, agora, em 2014, não foi capaz de dizer a Rachel
Sheherazade que não promover censura é diferente de salvo-conduto para
emitir opiniões ofensivas aos direitos humanos e dizer bobagens.
O SBT é seu reflexo, acerto e erros
igualmente catastróficos, nada é embalado em busca da ética, embora
possa parecer ser, somente na busca da audiência e nisso muitas vezes a
responsabilidade social ou mesmo a jurídica se vão pela janela. O acerto
nesses campos SBT sempre me parece aleatório ou a busca obstinada de
uma ou outra pessoa, não exatamente do ‘Seo Sílvio’.
E aí tivemos mais um “Casos de Família“ com
a Cristina Rocha e esse teve como tema “mulher que não gosta de
apanhar, tem que se comportar”, e espancadores de mulheres tiveram seu
palco para defender seu machismo sob aplausos talvez de boa parte da
“família brasileira”, embora a chamada do programa invoque a Lei Maria
da Penha em defesa das mulheres.
Isso me lembra o Jairo de “Em Família”
que sempre solta pérolas machistas, é grosso e mal-educado com a
Juliana e ela suporta tudo por amor (personagens do Maneco sempre
suportam tudo por amor). No entanto acho que Jairo é um personagem com
um forte recorte de classe por parte do autor da novela com fortes
traços de preconceito social demonstrado nessa oposição vida na
comunidade X vida no Leblon (sendo o segundo sempre melhor e o outro
mostrado de forma estereotipada e pior).
O traço em comum entre o personagem os
personagens da novela e os participantes do programa como a vida real no
SBT é que fica clara a cultura onde a mulher deve sempre buscar ser
feliz num relacionamento e que isso é tarefa dela, mesmo apanhando, a
culpa é dela e ela deve ou obedecer ou evitar o conflito. E é isso que a
que gente deve começar a desmitificar. Ser feliz não significa estar
num relacionamento a qualquer custo e não é unicamente da mulher o ônus
de um relacionamento feliz. E mais que tudo, violência física e verbal
não é demonstração de afeto, é inaceitável e ponto.
ps: você quer ver o programa do SBT? clique aqui (o programa foi forte em transfobia também).
ps2: cenas do Jairo e Juliana em Em Família aqui.