João
Villaverde - O Estado de S. Paulo
Senador
do PSOL deve se candidatar ao governo do Amapá; Luciana Genro (RS), que era
cotada para vice, deve ser a substituta
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) não é mais
pré-candidato à Presidência da República e deve se candidatar ao governo do
Amapá. Em seu lugar, o PSOL decidiu lançar Luciana Genro (RS), filha do
governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). Inicialmente, Luciana seria
candidata à vice na chapa "puro sangue".
Em nota oficial, o presidente nacional do Partido Socialismo
e Liberdade (PSOL), Luiz Araújo, assinala que a desistência de Randolfe está
"vinculada à necessidade de construir uma alternativa política contra o
retorno das forças conservadoras no Estado do Amapá".
A decisão começou a ser costurada na quinta-feira, em
reunião de lideranças nacionais do PSOL, como Marcelo Freixo (RJ), o deputado
Ivan Valente (SP), o presidente Araújo e a própria Luciana Genro. Ficou
decidido, então, que Luciana seria a indicada pela direção nacional do partido
para a convenção nacional, que ocorre em Brasília nos dias 21 e 22.
"Agindo assim, o PSOL manterá a campanha no mesmo rumo
que vínhamos trilhando e permitirá ao povo brasileiro o direito de escolher uma
real alternativa de esquerda e socialista nestas eleições", afirmou o
partido, em nota.
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Leia a carta de Randolfe:
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Leia a carta de Randolfe:
Carta aos Militantes do Psol e à Direção do Partido
O Brasil vive uma grave ofensiva
conservadora. Cada vez mais forças sociais unificadas em torno de
personalidades e discursos estão empenhadas em fazer retroceder direitos
e colocar o Brasil na via expressa do neoliberalismo, agora com um viés
abertamente de direita, sem o verniz social-democrata de antes.
As forças sociais progressistas,
divididas em diferentes plataformas e organizações, sem uma liderança
comum e agregadora e sem uma compreensão compartilhada do contexto e das
tarefas necessárias para fazer o Brasil avançar, mostram-se frágeis
frente ao avanço conservador. A sociedade se divide entre a justa
indignação pela ampliação de conquistas e uma agenda de demandas difusas
à procura de uma bandeira que as unifique.
A atual Presidente da República se
demonstrou incapaz de estar à altura da tarefa de unificar o país em
torno de uma proposta de avanços sociais combinados com desenvolvimento
econômico, ousadia na conquista dos direitos civis, reforma urbana nas
cidades, ganhar corações e mentes da nação brasileira e recuperar a
credibilidade do país diante do mundo.
A candidatura de Aécio Neves se tornou
herdeira da pauta conservadora, alijada do poder desde a saída de
Fernando Henrique, o que o tornou incapaz de apresentar ao país nada
mais do que as proposições oposicionistas requentadas do passado. É um
novo ecoando as velhas propostas elitistas, incapazes de responder aos
novos dilemas nacionais e de alçar a condição de amálgama nacional que o
momento exige.
A candidatura de Eduardo Campos, que
despontava como terceira via em uma disputa tensionada entre PT e PSDB,
frustra o país, mostrando-se claudicante em palavras e atos
contraditórios em declarações cada vez mais desencontradas, não dando à
população a segurança necessária para ser identificada como uma efetiva
quebra na bipolarização entre petistas e tucanos.
Num contexto de acirrado debate não em
torno de ideias, mas em torno de vitupérios e acusações mútuas
cumulativas, o país se prepara para uma campanha eleitoral sem líderes e
sem ideias.
Percebendo o vazio, a nação vai se
sentindo órfã, e essa orfandade vai aprofundando um sentimento de
abandono que dá acolhida ao desespero e com ele, a propostas de corte
fascista, como da pena de morte, panaceia direitista para a violência,
que se alastra não apenas na falta de políticas públicas voltadas a
minimizar o choque de interesses entre ricos e pobres, mas sobretudo na
falta de autoridade, que não é dada pelas armas e pelos blindados do
choque que violenta os jovens que protestam por direitos nas ruas, mas
pela condução moral e intelectual que só uma liderança legítima pode
oferecer a nação brasileira.
Lamentavelmente o ódio e a intolerância
estão se tornando a matéria prima na caça ao voto em 2014. Por que isso
acontece? Porque falta ao processo eleitoral lideranças capazes de
falarem nome da nação, e falta à esquerda a capacidade de se renovar e
estar a altura das tarefas que o Brasil exige.
A leitura incorreta do sentimento das
massas e da indignação que explodiu nas jornadas de junho de 2013, levou
a esquerda programática a acreditar que estávamos diante de uma
“avenida de oportunidades”. É necessário neste momento ter humildade
para fazer a autocrítica. Os modelos tradicionais da política estão em
xeque, como também estão em xeque as direções, partidos e movimentos que
não conseguiram se atualizar e abriram espaço para a pauta
conservadora.
O Psol tem que estar a altura dos seus
grandes desafios. Acredito que a principal figura de nosso partido neste
momento, o Deputado Estadual Marcelo Freixo, deveria assumir a
responsabilidade de liderar um processo de renovação da política
brasileira em 2014.
Saio da pré-campanha presidencial para
retomar em plenitude minhas tarefas como Senador e a importante função
de representante do Amapá, empenhando-me em melhorar cada vez mais as
condições de vida do meu povo e a qualidade da política em meu estado.
Quero agradecer o carinho de militantes
que defenderam a nossa candidatura durante o 3º. Congresso Nacional do
Psol no último 1º de dezembro em Luziânia em Goiás, e da mesma forma
agradecer o esforço de companheiros por todo o país na construção não
somente desta candidatura, mas também no sonho de uma sociedade livre,
democrática e socialista.
Agradeço de igual forma a companheira
Luciana Genro e acredito que se for à vontade do Partido a definição do
nome dela como candidata, ela estará a altura do ponto de vista
intelectual, político e moral. E para isso contará com o meu
engajamento. Desejo à Luciana, minha companheira destes últimos meses,
uma boa luta.
Tenho Fé e Esperança no Psol e no seu
Destino! Acredito em um partido que esteja à altura do Brasil e do
desafio geracional de construir uma esquerda para as novas gerações
neste século XXI.
Senador Randolfe Rodrigues