Domingo, 19 de abril de 2015
O que muitos manifestantes que agora pedem
intervenção militar desconhecem é que, além de instaurarem um período de
trevas no país, os militares não entregaram o que prometeram
Os
cartazes da foto ao lado em favor da intervenção militar, vistos nas
manifestações de 15 de março e 12 de abril em várias cidades
brasileiras, exalam o bolor dos 51 anos que se passaram desde que apelos
semelhantes foram erguidos pela primeira vez, em 1964. Combater a
corrupção, derrotar o comunismo e conter a inflação eram as palavras de
ordem nos quartéis às vésperas do golpe que derrubou o presidente João
Goulart. O que muitos manifestantes de agora parecem desconhecer é que,
além de instaurarem um período de trevas no país, os militares não
entregaram o que prometeram.
A inflação, que era de 80% no governo deposto, saltou para quase 300%
no final da ditadura. O festejado “milagre econômico”, que levou o país
a alcançar taxas anuais de crescimento de até 14%, foi o momento de
maior concentração de renda da nossa história. E as relações espúrias
entre o Estado e empreiteiras agora devassadas pela Operação Lava Jato
também remontam àqueles tempos nada saudosos. Foi um decreto do governo
militar, em 1969, que fechou as portas para as construtoras
estrangeiras, catapultando empresas até então regionais – como
Odebrecht, OAS, Mendes Júnior e Camargo Corrêa – à condição de donas das
maiores obras públicas do país.