ANDRÉ DE PAULA
Erram
aqueles que clamam pela volta da Ditadura Militar. Ou são loucos, ou
mentirosos, ou estão iludidos por propaganda enganosa. Vivi aqueles
tempos terríveis, onde nunca se roubou tanto, torturou, matou e se
desapareceu com pessoas, onde, inclusive, não se podia denunciar nada,
pois existia uma censura total.
Papai,
udenista e golpista de primeira hora, julgava estar prestando um
serviço à nação ao participar da ação empresarial militar, doutrinado
que foi, sempre, na Igreja Católica conservadora e nas escolas
militares, no anticomunismo doentio.
Mais
tarde, eu, minha irmã Regina Coeli e cunhado Daniel Manoel, resolvemos
nos engajar enquanto agentes de Pastoral da Igreja Católica de
Conceição do Araguaia, Sul do Pará.
Enviados
pelo Bispo para São Geraldo, onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia, nos
defrontamos com a luta pela terra, baseada em São Tomás de Aquino que
dizia que “a terra é de quem nela vive e trabalha”.
O
Governo Militar ficava sempre do lado dos grileiros e grandes
fazendeiros contra os posseiros pobres, se confrontando com a máxima de
São Tomás que se baseia no Evangelho de Cristo.
Fomos
presos e torturados após ajudarmos a organizar a luta dos posseiros, o
que levou papai a romper com o regime. Constatou ele, também, que as
torturas a nós inflingidas não era fato isolado, e sim, prática
contumaz. Não fosse ele, teríamos sido assassinados, pois nos acompanhou
de sua casa, para onde nos refugiamos após a fuga que empreendemos do
sul do Pará e onde fomos presos, até o Batalhão da PE e de lá para Belém
onde chegou, inclusive, a desacatar o General Euclides Figueiredo,
irmão do ex-Presidente e seu ex-aluno, Coronel Ernane Guimarães que
comandaram nossas torturas.
Não
parou por aí. Denunciou o nosso caso à presidência da CNBB e ao Cardeal
Eugênio do Rio de Janeiro que gozava de prestígio junto aos militares.
Pagou, inclusive, meu INSS, para que eu pudesse me aposentar. Quem iria
procurar um advogado considerado subversivo e perseguido pelo sistema?
Os escândalos envolvendo os militares foram enormes, só que abafados,
como os casos CAPEMI – CAIXA DE PECÚLIO DOS MILITARES, Coroa Brastel,
Brasilinvest, Paulipetro, Grupo Delfim, Projeto Jari, Coronel Mário
Andreaza envolvido em superfaturamento nas obras da Ponte Rio-Niterói e
rodovia Transamazônica. Além
disso, outros grandes ladrões civis cresceram protegidos pela Ditadura:
Sarney, Maluf, Antônio Carlos Magalhães, entre outros. Como esperar
moralidade de uma instituição que abrigou torturadores, estupradores,
ocultadores de cadáver, terroristas, corruptos e ladrões de toda laia.
Só de indígenas, as Forças Armadas mataram mais de 3 mil, fato ainda
pouco conhecido, mas registrado no relatório Figueiredo.
Infelizmente,
os Governos de Lula e Dilma nada fizeram para acabar com a mentalidade
golpista e fascista da maioria das Forças Armadas, principalmente, em
seu alto escalão. O General Antônio Amilton Mourão revelou que as Forças
Armadas tem um Golpe Militar preparado, sendo que, o Comandante do
Exército, Eduardo Villas Boas, Comandante do Exército, além de não punir
o militar subalterno, teceu loas à Ditadura Militar, mencionando o
famigerado artigo 142 da Constituição Federal de 1988.
As Forças Armadas nunca foram uma garantia contra o “caos”, elas foram parte fundamental do “caos”.
Imaginem
o senhor Rodrigo Maia fazendo um apelo às Forças Armadas para acabar
com o caos, baseado no artigo 142 da Constituição Federal. Outro Golpe
estaria legalizado. Só que, apesar de o “caos” estar instalado, chamar
as Forças Armadas é a pior das saídas. Organizemos o povo pobre contra a
barbárie que representa o Governo Temer ou a volta dos militares, cuja
organização conheço na pele, por dentro e por fora.
* André de Paula é advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST), membro da Anistia Internacional, jornalista e membro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa.
Da Tribuna da Imprensa Sindical