Sábado, 21 de outubro de 2017
Especialistas em saúde e nutrição criticam "ração humana" do prefeito de São Paulo
Do Jornal do Brasil
O jornal britânico The Guardian desta sexta-feira (20)
publicou uma matéria repercutindo o controverso caso da farinata,
suplemento alimentar que o prefeito de São Paulo João Doria lançou mão
para para alimentar os pobres e estudantes do sistema público.
Guardian
destaca que a questão é a qualidade deste alimento, que será feito a
partir de alimentos processados perto de seu prazo de validade. Os
críticos descreveram o composto de como "ração humana".
O
vespertino acrescenta que João Doria e o cardeal católico da cidade, Dom
Odilo Scherer, disseram que o produto ajudará a aliviar a fome sem
nenhum custo para o governo.
Promotores exigiram mais informações
sobre o conteúdo nutricional dos alimentos e mais testes, após
preocupações levantadas pelo Conselho Regional de Nutricionistas e
outros órgãos.
"Há incerteza sobre o valor nutricional deste
alimento", disse José Bonilha, procurador do estado de São Paulo. "Quais
foram os testes e documentos que autorizaram sua introdução?"
Lançando o
programa na quarta-feira, ele descreveu a farinata como "suplemento
alimentar" e disse que era "feito para combater a fome e também
complementar a nutrição das pessoas".
"Estou ofendido quando as
pessoas dizem que são alimentos para animais de estimação", disse o
cardeal Scherer no mesmo evento. "A preocupação é lembrar a comida dos
restaurantes que estão prontos para uso e colocá-lo com segurança na
mesa daqueles com fome em vez de serem jogados fora".
Rosana
Perrotti, fundadora da Synergy Platform, a organização católica que
desenvolveu o farinata, disse que a farinha mostrada é composta por
alimentos como macarrão e mandioca. O site da organização diz que
recebeu uma benção de Papa Francisco.
"Nós apenas processamos boa
comida, seguindo técnicas que sempre foram aplicadas na indústria",
disse ela. "No Brasil, podemos prolongar sua vida útil em pelo menos
dois anos".
A pobreza, falta de moradia e o desemprego ocorreram
nos últimos anos, já que o Brasil tem lutado com uma recessão
debilitante. Mas os nutricionistas atacaram o plano, argumentando que
ninguém sabe exatamente de que é feita a farinata - nem se é seguro.
"Não
é comida, é um produto super processado", disse Marly Cardoso,
professora de saúde pública e nutrição da Universidade Federal de São
Paulo. "Você não sabe o que está nele".
Cardoso disse que, dada a
epidemia de obesidade no Brasil - causada em parte por fast food barata e
agressivamente comercializada - a cidade deveria fazer mais para
incentivar as pessoas a escolherem uma dieta saudável.
Cardoso
também criticou uma lei sancionada pelo prefeito que oferece incentivos
fiscais às empresas doando alimentos como parte da política de
erradicação do imposto.
"A prefeitura está tentando resolver os
problemas dessas empresas à procura de um uso para este alimento que
eles não podem vender?", Disse ela.
"É uma situação de constrangimento coletivo".
Vivian
Zollar, nutricionista e membro do Conselho Regional de Nutricionistas
dos estados de São Paulo e Minas Gerais, disse que estava preocupada com
os planos reportados na mídia local para dar aos alunos crianças em
idade escolar porque o conselho não pôde confirmar que a O produto tinha
sido submetido legalmente e com testes nutricionais exigia refeições
para a escola.
"Precisamos saber se este produto é seguro se puder
ser oferecido", disse ela. "Sem essa informação, é muito difícil ter
certeza".
A Plataforma de Sinergia, os fabricantes de farinata,
não respondeu às perguntas do Guardião sobre a composição nutricional do
produto, que as empresas doaram alimentos e que tipo de testes foram
realizados.
Mas em uma declaração, a empresa disse: "A composição
nutricional dos vários tipos de farinata possível dependerá do excesso
de alimentos não vendidos".
Ele acrescentou que a farinata foi
testada para "composição nutricional, isenção de microorganismos,
bactérias e toxinas. Esses testes são realizados por entidades com
grande reputação".
Perguntado se a farinata tinha sido devidamente
testada, nem o gabinete do prefeito, nem o secretariado de educação da
cidade de São Paulo, nem o departamento de saúde responsável pelo teste
de novos alimentos, responderam imediatamente.