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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 8 de março de 2019

Bolsonaro transformou um caso meramente policial em presidencial, atacou irrefletidamente o Carnaval; Brizola, sambódromo, Linha Vermelha, Paulo Freire

Sexta, 8 de março de 2019
Por
Helio Fernandes

Brizola, sambódromo, Linha Vermelha, Paulo Freire

Ficou asilado, proscrito, sem poder vir para o seu país, durante 15 anos, de 1964 a 1979. Aí, os generais torturadores, forjaram a "anistia, ampla, geral e irrestrita". Foram os grandes beneficiários, mas tinham que libertar asilados e exilados. Brizola entre eles.

Chegou pensando na presidência da República. Objetivo e obsessão dele e de Carlos Lacerda, adversários a vida inteira. Só que Lacerda morreu de repente, em 1977, 2 anos antes da "anistia", com 63 anos. Brizola fez toda a carreira no seu estado, vereador, deputado estadual, prefeito de Porto Alegre, governador. Viu logo que não dava para disputar a presidência, se elegeu governador do Estado do Rio, em 1982.

Aí, a guinada na sua vida política, como coloquei no titulo. Em 1984 inaugurou o Sambódromo, confessou a este repórter e ao extraordinário Paulo Freire, um dos mais importantes personagens da vida brasileira: "No meu estado, não saía de casa nos dias de carnaval".

"Agora estou aqui para inaugurar a Linha Vermelha, querendo ser Presidente da Republica, com eleições marcadas, mas sempre indiretas".

Tinha esperança nas "Diretas, já", derrotadas por grandes jornais, acumpliciados pelo que se chamou de transição, com o restolho da ditadura. Houve então a indireta de 1985, isso não admitiu disputar de jeito algum. Concorreu à presidência na direta de 1989. Collor ganhou o primeiro turno, indo para o segundo com Lula, que derrotou Brizola por meio ponto. Chamou Lula de "sapo barbudo", foi para a fazenda, voltou para apoiá-lo, não tinha escolha.

PS- Como Lacerda, morreu sem ser presidente. Gostaria de ver um deles, ou os dois, (na época não havia reeleição, comprada por  FHC, com dinheiro de financiadores  interessados, em 1998), excelentes governadores. Brizola duas vezes, por estados diferentes.

PS2- Brizola é citado aqui, numa edição única, com grandes personagens, que surpreendentemente tiveram participação importante no carnaval.

PS3- Que ainda não acabou, domingo ainda tem desfile no Sambódromo. Só na segunda feira, desaparece, dá a vez aos grandes acontecimentos.

Bolsonaro transformou um caso meramente policial em presidencial, atacou irrefletidamente o Carnaval

Ele ainda não percebeu a importância e as restrições do cargo de Presidente da Republica. Com intervenção moralista e desproporcional, pegou um episódio sinuoso, pegajoso, ruinoso, que podia e devia ser punido, mas por autoridade policial, da região onde TERIA acontecido.

O destaque que dei à palavra, é que ficaria apenas isolado e desconhecido, se não fosse à projeção dada estouvadamente pelo mais alto personagem numa democracia.

Atacou a festa mais popular e democrática do país, respeitada e admirada pelo mundo. Que reagiu com enorme repercussão, negativa para Bolsonaro. Que como acontece quase sempre com ele, voltou atrás, recuou, tentou um desmentido, com fartas e insinceras reverências ao carnaval.

Devia ser punido, o presidente da Republica não tem imunidade para atacar desabridamente dezenas de milhões, em todo o pais que "pulam o carnaval", democraticamente, com alegria, satisfação, e não apenas nas brilhantíssimas e popularíssimas Escolas de Samba.

Bolsonaro cometeu o crime de GENERALIZAR. Se não tivesse sido expulso do Exército e proibido de frequentar quartéis, talvez tivesse chegado a GENERAL. Aí poderia fazer divagações tortuosas com a palavra.

Fonte: Blog Oficial do Jornal da Tribuna da Imprensa. Matéria pode ser republicada com citação do autor