Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 19 de abril de 2014

Petróleo e corrupção

Sábado, 19 de abril de 2014

Petróleo e corrupção

Uma indústria financiada pela guerra

Wladmir Coelho
Controlar estoques e produção de petróleo não é tarefa fácil e  tradicionalmente aparece associado a corrupção, guerras, golpes de Estado, assassinatos e outras modalidades criminosas. Nos anos 30, por exemplo, Bolívia e Paraguai entravam em guerra e dois trustes aproveitavam para resolver uma antiga disputa comercial e esclarecer qual roubava mais petróleo  através de dutos clandestinos ao sul do continente.
Neste conflito, conhecido por Guerra do Chaco, as empresas petrolíferas determinaram os rumos dos acontecimentos tendo a Standard Oil negado o abastecimento de combustível às tropas bolivianas em combate quando entendeu satisfeitos os seus interesses comerciais na região encerrando assim a disputa militar.  
Nas linhas abaixo selecionei 3 acontecimentos recentes para mostrar o quanto os métodos ainda permanecem obscuros quando o tema é controle de áreas com presença de petróleo.  
Petróleo e violações dos Direitos Humanos
Em Mianmar os recursos do Fundo Soberano da Noruega encontram-se aplicados em empreendimentos que utilizam mão de obra escrava, praticam grilagem de terras e promovem assassinatos. A denuncia partiu do Earth Rights International e envolve a participação do Fundo norueguês em projetos de petróleo e gás através das empresas Total e Chevron.
Presidente do Azerbaijão acusa BP de chantagem
Os telegramas das embaixadas dos EUA em poder do  Wikileaks revelaram o oportunismo da BP durante uma crise de abastecimento de gás no rigoroso inverno de 2007. A petrolífera inglesa – durante reunião no gabinete presidencial – condicionou a normalização do abastecimento a modificações nos contratos para aumento dos lucros da empresa e permissão para explorar reservas de gás no Mar Cáspio.
Ministros de Uganda tornam-se corretores da ENI
Esta revelação também surgiu do Wikileaks e registra os ministros da Energia e Defesa de Uganda atuando em favor da petrolífera ENI que pretendia comprar – fato não concretizado – os ativos da Heritage Oil naquele país por U$ 1.5 bilhão em 2009.
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PETRÓLEO E CORRUPÇÃO II 

Uma indústria financiada pela guerra
Wladmir Coelho
Do http://politicaeconomicadopetroleo.blogspot.com.br
 
Standard Oil, Shell e Anglo Persian Oil Company (atual British Petroleum) constituem a base da atual indústria petrolífera. Este quadro decorre de um acordo firmado em 1928 quando representantes destas empresas reuniram-se em um castelo escocês e dividiram o controle das áreas com potencial petrolífero em todo o mundo.
Posteriormente, com as sucessivas divisões da Standard Oil para escapar das leis antitrustes dos Estados Unidos, ao grupo foram acrescentadas mais quatro companhias formando as chamadas SETE IRMÃS.
Cinco empresas sediadas nos Estados Unidos e duas europeias –  estas diretamente subordinadas ao império britânico – controlavam o petróleo mundial e apesar do acordo de 1928 em diferentes regiões surgiam conflitos.
Na América do Sul a disputa entre a Standard Oil e Shell resultou na chamada Guerra do Chaco que durou de 1932 a 1935. Antecipando aos governantes dos países em conflito as duas empresas realizaram um “acordo de paz” e continuaram contrabandeando o petróleo boliviano enquanto morriam 100 mil inocentes.
Quando não precisava mais da guerra a Standard Oil negou ao exército boliviano o fornecimento do petróleo extraído naquele país. Este fato contribuiu para a revolta popular e criação da primeira empresa controlada pelo estado para a exploração petrolífera.
Em 1941 outra disputa entre Shell e Satandard Oil resultou em guerra desta vez envolvendo o controle da bacia amazônica área de litígio entre Equador e Peru. A região era disputada desde o final do século XIX, todavia a presença de petróleo envolveu  os interesses dos oligopólios. 
O acordo de paz, Protocolo do Rio de Janeiro, foi assinado em função de forte pressão dos Estados Unidos entregando ao Peru parcela significativa do território equatoriano. Segundo o antropólogo canadense Wade Davies em seu livro El Rio este acordo atendeu aos interesses da Standard Oil que recebeu do governo peruano a concessão para exploração do território em disputa derrotando a Shell.