Sexta, 25 de abril de 2014
Da PúblicaAgência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Força Nacional e se prepara para atuar na Copa do Mundo como tropa do
governo federal e convida jornalistas a acompanhar treinamento para
contenção de tumultos
“É a primeira vez que você anda com batedor sem estar sendo preso
hein?”, brinca atrás de mim um fotógrafo, se dirigindo a um colega de
profissão que estava ao seu lado no ônibus.
O comentário desata uma gargalhada geral só interrompida por uma
freada brusca do motorista – um policial militar de farda camuflada, que
dirige cercado de batedores da Força Nacional para evitar o trânsito.
Os cerca de quarenta passageiros são todos jornalistas, de diversos
Estados, convidados a participar do seminário “Cobertura Jornalística em
Ações de Segurança Pública”, ministrado pelo Ministério da Justiça e
pela Força Nacional de Segurança Pública. Durante dois dias – 28 e 29 de
março – ficaríamos hospedados na base da FSN, no Gama (DF) para
“promover a troca de informações entre profissionais de comunicação e de
segurança pública sobre aspectos relativos às atividades operacionais
de ambos”, como dizia o convite para o curso, no site do Ministério da
Justiça.
Na base, que reúne contingente de policiais militares de diversos
Estados, recebemos a primeira instrução: “Desçam lá e façam o trabalho
dos senhores, como os senhores estão acostumados a fazer”. Fomos então
cobrir a “manifestação” simulada pela tropa, com combatentes e oponentes
– representados por militares mascarados atrás de uma barricada,
encoberta por fumaça preta.
A encenação, levada a sério, acaba com um ferido real: um dos falsos
manifestantes arremessou um tijolo que acertou em cheio a boca do
companheiro de farda. O policial teve que passar por uma cirurgia e
levou pontos no lábio superior. Um acontecimento de rotina, segundo nos
disseram diversas vezes durante o curso.
Regularmente, a Força treina durante três semanas policiais
militares, bombeiros, policiais civis e peritos criminais vinculados às
secretarias de segurança pública dos estados conveniados, que depois
retornam aos seus estados de origem. Aqueles que tiverem obtido um conceito “muito bom” nos testes da Força, passam a integrá-la.
Segundo o Boletim de 2013 da Força Nacional de Segurança Pública, mais
de 10 mil homens compõem o efetivo do programa; e 142 operações em 23
unidades da federação foram executadas desde 2004.