Sexta, 14 de janeiro de 2011
Por Ivan de Carvalho

O PMDB está consciente de que perdeu espaço e força na composição do governo, além de ter encolhido na Câmara dos Deputados, onde, desde que é PMDB, pela primeira vez não terá a maior bancada, mas a segunda em número de integrantes, superada pela do PT. A estratégia petista, a esta altura absolutamente óbvia, é a de desidratar o PMDB e torná-lo cada vez mais um aliado frágil e controlável. Ao tempo em que os petistas ocupam os espaços a fórceps arrancados ao PMDB.
O partido que já foi de Ulysses Guimarães está consciente de que se as coisas continuarem no rumo em que vão lhe caberá o mesmo destino que atualmente amarga o DEM (antes PFL), hoje próximo, muito próximo da extinção. Está idéia, assinala um analista ligado ao PMDB, está “fermentando no partido” e deverá produzir resultados a seu tempo.
Uma observação atenta dos fatos recentes leva à conclusão de que o comando peemedebista teve fraco desempenho na negociação com o novo governo, o que facilitou ao PT ocupar espaços que no governo Lula eram do PMDB. Michel Temer bem teria feito se renunciasse à presidência do PMDB imediatamente à proclamação de sua eleição para vice-presidente da República pelo TSE. Como vice de Dilma, ele não podia brigar por seu partido. Então deixasse a outro essa tarefa e ele se preservaria para atuar como conciliador. Mas não fez isto e, assim, prejudicou.
Na avaliação da bancada na Câmara, o líder Henrique Alves apresenta (apresenta) fraco desempenho na negociação e na batalha. O critério de avaliação é o dos resultados. Ao ensaiar uma proposta de salário mínimo bastante acima da que o governo admite, o líder teria visado principalmente a, mostrando disposição para a briga, reduzir seu desgaste junto à bancada peemedebista na Câmara. A proposta colocaria o PT na terrivelmente incômoda posição de defender um salário mínimo menor. E, na duvidosa ou improvável hipótese de o maior ser aprovado, a presidente Dilma estaria na incômoda posição de vetá-lo.
Há no PMDB o entendimento de que, a curto prazo, o partido não vai recuperar a posição confortável de que desfrutava no governo Lula (na minha opinião, o Projeto de Poder do PT entrou em novo estágio com o início do governo Dilma). Mas estima-se, no partido, que este tem experiência para, a prazo maior, recuperar espaços. “Se não recuperar, Aécio está aí mesmo”, assinala o anônimo analista já referido antes.
O tucano Aécio Neves tem, dentro do PMDB, um apelo muito forte. Se o PMDB não estiver confortável no governo Dilma, abrirá outro caminho, pois sabe que, do contrário, acabará tendo o mesmo destino do DEM – e é esta consciência que vai se firmando entre os peemedebistas.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.