Terça, 12 de julho de 2011
Nathalie Drumond e Rodolfo Mohr*
No último período, uma combinação rara
de acontecimentos até então inéditos indica que estamos vivendo apenas o
começo de uma nova etapa. O próximo Congresso da UNE vai acontecer numa
conjuntura especial. Três elementos, para nós, parecem fundamentais: a
nova situação que se abre no mundo, o crescimento inegável da esquerda
nas principais universidades brasileiras e a postura defensiva da UJS no
debate político atual.
O lugar da Oposição de
Esquerda nesse processo, como sujeito ativo, é fundamental. Neste breve
artigo, queremos expor algumas de nossas visões. Sobretudo, queremos
compartilhar propostas para iniciar um diálogo fraterno entre o
conjunto da oposição. De uma coisa estamos convencidos: Tahrir, Puerta
del Sol e Syntagma demonstram que o tempo das ruas está de volta. A
tarefa da esquerda estudantil brasileira é organizar-se, construindo
amplo lastro nas universidades e escolas, para construir a principal
arma de barganha desses novos tempos: as barricadas.
A juventude e a nova “onda” de mobilizações no mundo
Nas últimas duas
décadas, a ofensiva ideológica do capital atingiu em cheio a juventude. O
individualismo parecia ser a principal saída para seus dilemas. Apesar
de importantes inflexões como a mobilização da juventude de Seattle
(1999) e o movimento antiglobalização, a ação juvenil coletiva não deu a
tônica nos grandes temas sociais ao longo dos “duros” anos do auge do
neoliberalismo.
O ano de 2011, no
entanto, trouxe uma nova geração para a luta política e social. A
autoimolação de um jovem graduado de 26 anos foi o que desatou a
revolução dos Jasmins na Tunísia. A juventude tomou as ruas e os perfis
das redes sociais para derrubar Mubarak no Egito. Jovens agora tomam as
ruas contra a crise européia. Na Espanha, são os “indignados”. Em
Portugal, a “geração à rasca” e, na Grécia, os “aganaktismeni”.
Em 14 de julho, quando
estiver começando o 52° CONUNE, num sinal dos tempos, milhares de
estudantes chilenos promoverão uma intensa jornada de greve e
mobilização, dando prosseguimento ao conjunto de lutas estudantis que
atravessa o país contra a precarização da educação. A mobilização do
Chile, somada à luta estudantil no sul do Peru, é fundamental. Trata-se
da primeira expressão no continente latino-americano das lutas de jovens
que vemos tomar os continentes europeu e africano.
No Brasil, ainda que não
tenhamos, por enquanto, um novo cenário, já é possível sentir um “novo
clima”. Ele esteve presente nas manifestações recentes como a “Marcha da
Liberdade”. Pudemos senti-lo nas lutas por tarefas democráticas, como
por exemplo a que os estudantes da UFCSPA travaram contra a corrupção da
reitora ou aquela travada pelos estudantes da PUC/RS e de tantas outras
universidades contra as máfias estudantis que controlam DCEs. A enorme
onda em prol dos direitos das mulheres e o fortalecimento, entre os
jovens, da luta LGBT também são frutos desse novo período.
Uma das últimas capas da
revista Carta Capital esteve bastante sintonizada com esse momento ao
destacar a relação entre a luta juvenil, o uso das redes sociais, as
lutas na Europa e a expressão que tomou a revolução no mundo árabe. O
título não poderia ser mais sugestivo: Proteste. As próximas lutas
estudantis por mais verbas, assistência estudantil ou democracia
certamente serão impactadas por esse novo momento. Se o CONUNE vai
acontecer numa onda de frio que assola o país, podemos esperar uma
primavera estudantil quente do ponto de vista das lutas.
*Nathalie Drumond (diretora do DCE-Livre da USP) e Rodolfo Mohr (diretor do DCE da UFRGS) são militantes do Juntos