Terça, 21 de fevereiro de 2012
Texto publicado originalmente no Gama Livre, em 14 de fevereiro de 2010.
Lembrança
dos meus carnavais de antigamente em Salvador. Quando poucas cordas
havia nas ruas de Salvador, quando o povão pulava livremente atrás dos
trios elétricos, quando estes caminhões de som não eram submetidos aos
caprichos de blocos.
Saudades do Bloco Filhos da Pauta, o bloco dos funcionários do jornal
Tribuna da Bahia, bloco que não tinha horário certo para sair e muito
menos horário para terminar o "desfile". Bloco que teve alguns problemas
para usar o nome. A Polícia Federal, por estarmos nos anos de chumbo,
tentou convencer a direção do bloco a mudar de nome. Filhos da Pauta era
lá nome para se usar em plena ditadura? O nome sugerido pelo delegado
federal, crente que havia tido uma boa idéia, era "Os Tribunos" (de
Tribuna da Bahia). Com esse nome não haveria bloco. Nenhum filho da
pauta se considerava um tribuno. Era filho da pauta, e pronto.
Nos Filhos da Pauta, corda mesmo só na "concentração", pois nenhum dos
filhos queria pular segurando as cordas, e naquele tempo não havia essa
história de "cordeiros" (pessoas que ganham uma miséria para segurar as
cordas dos blocos de Salvador). E corda para quê?
Saudades do Carnaval em que, de mortalha e não de abadá, se ia atrás dos
trios de Dodô e Osmar, dos Novos Baianos, de trios que traziam Gal
Costa, Betânia, Gilberto Gil, Caetano, Moraes Moreira, Paulinho Boca de
Cantor, Pepeu Gomes, Baby Consuelo. De trios como o Tapajós, que
completa agora mais de meio século de carnaval.
Carnaval que não era espremido por cordas, nem por camarotes que atravancam as ruas, a festa, e que representam, infelizmente, a volta da elitização do carnaval. O carnaval de Salvador saiu dos salões e foi para as ruas. Agora, sai das ruas e volta para o salão, que, modernamente, são esses camarotes que enfeiam o carnaval da Bahia. Saudades da época que só não ia atrás do trio elétrico aquele que já havia morrido. Não era como hoje, que para se ir atrás do trio elétrico tem que se pagar uma fortuna para sair em algum bloco.
O Trio Tapajós dos velhos carnavais.

