Domingo, 4 de agosto de 2013
Alex Rodrigues, repórter da Agência Brasil
Brasília – A notícia da morte de
Edivan da Lima Silva, 48 anos, fez crescer o medo entre os moradores de
rua que costumam passar os dias na praça do Guará I (DF) onde, na
madrugada da última quinta-feira (1), Silva teve o corpo incendiado.
Comerciantes e vizinhos da praça onde Silva dormia junto com outros
três moradores de rua lamentaram o crime. Eles disseram que a vítima
vivia no local há muito tempo, era conhecida de todos e não tinha
inimigos.
“Isso é macabro. Foi uma covardia o que fizeram com ele [Silva]”,
disse a Agência Brasil o corretor de seguros Roberto dos Santos e Silva.
Disse que conhecia o morador de rua desde que se mudou para o prédio em
frente ao quiosque onde o crime ocorreu e onde ainda é possível ver as
marcas das chamas na parede. Silva é a sexta vítima da violência
praticada contra moradores de rua do Distrito Federal este ano.
De acordo com o corretor, é difícil encontrar na vizinhança quem
tivesse queixas sérias sobre a presença do grupo que há anos se reúne e
vive na praça, sem, segundo ele, causar transtornos a ninguém. Opinião
compartilhada pela dona de casa Conceição Passos Puccini, que há 12 anos
mora em uma casa em frente à praça.
“Eles são tranquilos, não mexem com ninguém. Está vendo esta praça
neste estado, precisando de reparos, de ser limpa? Pois só não está pior
porque eles ajudam a cuidar dela. Às vezes, algum de nós [vizinhos] dá
pra eles um dinheirinho qualquer para que recolham os papéis, arranquem o
mato, tirem o lixo”, contou a dona de casa, lembrando que, na véspera
de sua morte, Silva pediu a ela “um punhado” de arroz cru. “Eu disse que
tinha um pouco cozido, mas ele disse que preferia cru porque queria
cozinhar para os amigos. Ele era muito tranquilo”.
Já o comerciante Antonio Batista de Oliveira, que há 13 anos mantém
um bar funcionando em plena praça, Silva era muito conhecido e
requisitado por moradores do bairro que precisavam de alguns pequenos
serviços. “Todo mundo aqui gostava dele e muitos já o conheciam quando
ele ainda tinha um barraco lá pra baixo [do Guará I]. Ele era
carroceiro. Bebia a pinguinha dele, mas, que soubéssemos, não usava mais
nada e não arrumava confusão”.
Pessoas ouvidas pela reportagem contaram ter ouvido do próprio Silva a
história de que ele passou a viver nas ruas após ter sido despejado de
um barraco que teria construído e ocupado por muito tempo, em uma área
pública próxima à praça. Segundo essas pessoas, sem família no Distrito
Federal e sem ter para onde ir, Silva passou então a viver no local onde
foi atacado. A versão inicial das testemunhas, segundo a Polícia Civil,
é que três homens encapuzados se aproximaram do local onde os quatro
moradores de rua dormiam, jogaram algum tipo de material inflamável que
atingiu principalmente Silva, atearam fogo e fugiram.
Alguns entrevistados também relataram que, poucos dias antes do
crime, alguns dos integrantes do grupo que vive na praça onde Silva foi
incendiado teriam brigado com moradores de rua que se concentram em
outro local. Fato que, se confirmado, pode reforçar a principal suspeita
da Polícia Civil. Responsável pelo caso, o delegado Jeferson Lisboa
Gimenes disse, no mesmo dia do crime, que a principal hipótese a ser
investigada é que o crime tenha sido motivado por uma briga entre
moradores de rua, mas que o alvo não era Silva, e sim um outro homem que
conseguiu fugir.
Temendo a exposição, os oito moradores de rua com quem a reportagem
conversou pediram que seus nomes não fossem divulgados. A maioria disse
não ter suspeitas sobre quem pode ter ateado fogo em Silva, mas todos
disseram temer que os responsáveis voltem. Um dos que presenciaram o
crime lembrou que, após conseguir apagar as chamas, Silva dizia que
tinha sede e pedia que não lhe deixassem morrer.