Quarta, 21 de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho

Com esta
disposição pouco faltando para se tornar anúncio de decisão tomada, Lídice
atende, secundariamente, a razões regionais, isto é, ao desejo de setores do
PSB da Bahia de que ela concorra efetivamente ao governo (mesmo que perca as
eleições, manteria mais quatro anos do seu mandato de senadora) para melhorar o
desempenho do PSB nas eleições para a Câmara dos Deputados e Assembleia
Legislativa.
Mas têm muito
mais peso as razões nacionais. O comando nacional do partido quer levar à
Câmara dos Deputados nas eleições do ano que vem uma bancada de 50 deputados.
Para isto, seria importante o lançamento de candidatos socialistas aos governos
estaduais e a senadora Lídice da Mata é uma figura óbvia nessa estratégia, que,
no entanto, naquele objetivo não se esgota.
O aumento da
bancada federal (por gravidade, de bancadas nas Assembleias Legislativas) é um
objetivo importante, mas secundário, na estratégia do comando nacional do PSB,
partido controlado pelo seu presidente e governador de Pernambuco, Eduardo
Campos.
O objetivo
principal do lançamento de candidaturas a governador nos Estados (atualmente, o
PSB tem os governadores de cinco Estados) é o de dar suporte político,
eleitoral, de campanha e logístico a uma provável candidatura do governador
Eduardo Campos a presidente da República, num desafio à tentativa do PT de
reeleger Dilma Rousseff.
Campos já foi um defensor público da
reeleição de Rousseff e há tempo andou sustentando essa tese junto ao
ex-presidente. Talvez haja visto olho comprido em Lula e queria afastar este do
jogo para, após a reeleição de Dilma, ver surgir espaço para ele mesmo, Campos.
Mas depois o governador de
Pernambuco mudou de ideia. Talvez percebendo antes que outros os primeiros
sinais de um depois concretizado declínio político-popular da presidente Dilma,
Campos a deixou com seus problemas e passou a insinuar, articular e expor cada
vez mais afirmativamente a hipótese de uma candidatura do PSB (a dele) a
presidente.
Eduardo Campos é pouco conhecido e
considerado como candidato a presidente pelos eleitores. Mas há sinais fortes
(não sei se as pesquisas já traduziram isso em estatísticas), captados por
políticos, analistas e jornalistas especializados a partir das grandes
manifestações de rua ocorridas em junho, de que a sociedade está buscando “o
novo”.
Exatamente como já buscara antes,
em 89, quando confundiu Collor de Mello com “o novo” e como o faria adiante, em
2002, quando entre Lula e Serra ia eleger Roseana Sarney (e então a Polícia
Federal de FHC-Serra encontrou aquele R$ 1,3 milhão de recursos caixa-dois de
campanha na empresa do marido de Roseana, o que derrubou a candidatura dela). Recorda-se
que então o eleitorado levantou Ciro Gomes, que não foi eleito porque o
Tribunal Superior Eleitoral, sob o influente comando de seu presidente,
ministro Nelson Jobim, mui amigo de FHC e supostamente prestando um grande
serviço à candidatura de Serra, “inventou” a arrevesada e nunca antes imaginada
pelos constituintes “verticalização das coligações”. Isto impediu politicamente
o então poderoso PFL de coligar-se com o pequeno PPS ao qual Ciro era filiado,
o que dividiu o PFL entre Ciro e Serra. Foi assim que o PSDB e o TSE entregaram
a presidência da República a Lula e ao PT nas eleições de 2002 – com a ajuda
final da maioria dos eleitores.
Então, sentindo-se “o novo” e ante
a conjuntura desfavorável para a presidente, Campos avaliaria ter chances de
chegar ao segundo turno em 2014 e, lá, de derrotar Dilma Rousseff. Mas não
chegando ou, chegando, não vencendo, ainda ficaria no lucro. Seu partido
cresceria e, mais importante, ele, com a campanha eleitoral, teria a grande
exposição, que hoje lhe falta, ao eleitorado nacional. E em 2018 voltaria a
tentar. Lídice e o PSB da Bahia são uma peça nessa engrenagem.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.