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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Estratégias socialistas

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Quarta, 21 de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho
A senadora Lídice da Mata, de quem se diz ou se dizia até há uns tempos, que, por gosto próprio, se manteria integrada, em 2014, na aliança liderada no estado [da Bahia] pelo governador Jaques Wagner e pelo PT, tem afirmado mais recentemente sua disposição de disputar a sucessão de Wagner pelo PSB, independente, claro, de ter o apoio do governador.

         Com esta disposição pouco faltando para se tornar anúncio de decisão tomada, Lídice atende, secundariamente, a razões regionais, isto é, ao desejo de setores do PSB da Bahia de que ela concorra efetivamente ao governo (mesmo que perca as eleições, manteria mais quatro anos do seu mandato de senadora) para melhorar o desempenho do PSB nas eleições para a Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa.

         Mas têm muito mais peso as razões nacionais. O comando nacional do partido quer levar à Câmara dos Deputados nas eleições do ano que vem uma bancada de 50 deputados. Para isto, seria importante o lançamento de candidatos socialistas aos governos estaduais e a senadora Lídice da Mata é uma figura óbvia nessa estratégia, que, no entanto, naquele objetivo não se esgota.

         O aumento da bancada federal (por gravidade, de bancadas nas Assembleias Legislativas) é um objetivo importante, mas secundário, na estratégia do comando nacional do PSB, partido controlado pelo seu presidente e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

         O objetivo principal do lançamento de candidaturas a governador nos Estados (atualmente, o PSB tem os governadores de cinco Estados) é o de dar suporte político, eleitoral, de campanha e logístico a uma provável candidatura do governador Eduardo Campos a presidente da República, num desafio à tentativa do PT de reeleger Dilma Rousseff.

Campos já foi um defensor público da reeleição de Rousseff e há tempo andou sustentando essa tese junto ao ex-presidente. Talvez haja visto olho comprido em Lula e queria afastar este do jogo para, após a reeleição de Dilma, ver surgir espaço para ele mesmo, Campos.

Mas depois o governador de Pernambuco mudou de ideia. Talvez percebendo antes que outros os primeiros sinais de um depois concretizado declínio político-popular da presidente Dilma, Campos a deixou com seus problemas e passou a insinuar, articular e expor cada vez mais afirmativamente a hipótese de uma candidatura do PSB (a dele) a presidente.

Eduardo Campos é pouco conhecido e considerado como candidato a presidente pelos eleitores. Mas há sinais fortes (não sei se as pesquisas já traduziram isso em estatísticas), captados por políticos, analistas e jornalistas especializados a partir das grandes manifestações de rua ocorridas em junho, de que a sociedade está buscando “o novo”.

Exatamente como já buscara antes, em 89, quando confundiu Collor de Mello com “o novo” e como o faria adiante, em 2002, quando entre Lula e Serra ia eleger Roseana Sarney (e então a Polícia Federal de FHC-Serra encontrou aquele R$ 1,3 milhão de recursos caixa-dois de campanha na empresa do marido de Roseana, o que derrubou a candidatura dela). Recorda-se que então o eleitorado levantou Ciro Gomes, que não foi eleito porque o Tribunal Superior Eleitoral, sob o influente comando de seu presidente, ministro Nelson Jobim, mui amigo de FHC e supostamente prestando um grande serviço à candidatura de Serra, “inventou” a arrevesada e nunca antes imaginada pelos constituintes “verticalização das coligações”. Isto impediu politicamente o então poderoso PFL de coligar-se com o pequeno PPS ao qual Ciro era filiado, o que dividiu o PFL entre Ciro e Serra. Foi assim que o PSDB e o TSE entregaram a presidência da República a Lula e ao PT nas eleições de 2002 – com a ajuda final da maioria dos eleitores.

Então, sentindo-se “o novo” e ante a conjuntura desfavorável para a presidente, Campos avaliaria ter chances de chegar ao segundo turno em 2014 e, lá, de derrotar Dilma Rousseff. Mas não chegando ou, chegando, não vencendo, ainda ficaria no lucro. Seu partido cresceria e, mais importante, ele, com a campanha eleitoral, teria a grande exposição, que hoje lhe falta, ao eleitorado nacional. E em 2018 voltaria a tentar. Lídice e o PSB da Bahia são uma peça nessa engrenagem.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.