Domingo, 8 de setembro de 2013
Escrito por Fátima Lacerda 
    
Mesmo admitindo que as gravíssimas denúncias de espionagem por 
agências estadunidenses (NSA e CIA), a ela e ao presidente do México, 
tinham como alvo o petróleo, até o momento a presidenta da República do 
Brasil Dilma Rousseff não aventou a possibilidade de suspender o leilão 
de Libra ou a participação das petrolíferas dos Estados Unidos no 
leilão. Ao contrário.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) preferiu burlar a lei a correr o
 risco de adiar o 1º Leilão do Contrato de Partilha, marcado para 21 de 
outubro. A notícia da confirmação do leilão pelo ministro das Minas e 
Energia, Edison Lobão, foi divulgada antes que o Tribunal de Contas da 
União (TCU) autorizasse a licitação, contrariando a legislação em 
vigor. O ministro justifica, em entrevista concedida ao jornal O Globo, 
que “o TCU não teria sugestão, observação ou crítica a fazer, portanto, 
está tudo dentro dos conformes”.
Não é o que afirmam os autores de uma representação protocolada no 
TCU em 30 de agosto e entregue em mãos ao relator do processo, ministro 
José Jorge, e ao presidente do Tribunal, Ministro Augusto Nardes. O 
documento é assinado pela Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet)
 e pelo Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro 
(Sindipetro-RJ). Em três páginas, lista várias irregularidades contidas 
no edital. Portanto, seria prematuro adiantar a posição do órgão 
fiscalizador, como fez Lobão, antes da apreciação do recurso e da 
posição oficial dos ministros.
Em síntese, são questionadas partes do contrato que estão em 
desacordo com o modelo de partilha aprovado pelo Congresso. A primeira 
objeção trata do ressarcimento do bônus de R$ 15 bilhões, pelo governo 
brasileiro, ao consórcio que vencer o leilão: “Significa que o bônus 
será abatido da parcela que o consórcio vai pagar à União, o que fere a 
Lei 12351/2010” – diz o documento.
O segundo e o terceiro questionamentos foram antecipados na semana 
passada pelo Brasil de Fato: no edital, a ANP introduz uma variação de 
percentual, determinada em função da produção e do preço do barril no 
mercado internacional, que é “altamente favorável aos consórcios e 
prejudicial à nação brasileira” – dizem os autores da denúncia. De 
qualquer forma, essas condições variáveis não estão previstas  na lei.
Terceira irregularidade: a União também terá que devolver à 
petrolífera que vencer o leilão o valor destinado ao Fundo Social, o que
 igualmente não está na lei. Ao todo, a representação da Aepet e do 
Sindipetro-RJ ao TCU lista nove razões que fundamentam a necessidade de 
se anular o edital de licitação de Libra. A íntegra do documento está 
disponível em www.apn.org.br (Razões para Anular o Leilão de Libra)
Diante disso, cabe perguntar por quê tanta pressa em garantir a data 
da licitação e a validade de um edital provavelmente negociado com as 
petrolíferas que vão concorrer ao leilão. Por que a pressa em 
entregar Libra, que teria reservas estimadas em mais de um trilhão de 
dólares e está sendo oferecido por 15 bilhões de reais, a serem 
ressarcidos em suaves parcelas ao comprador (conforme edital da ANP)? 
Por que 21 de outubro, dois dias antes do encontro marcado, nos Estados 
Unidos, entre Dilma e Obama?
Cabe a contestação do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que vai 
integrar uma comissão formada no Senado para apurar a espionagem dos 
Estados Unidos ao Brasil: se o objetivo do governo norte-americano era 
obter ilegalmente dados que pudessem favorecer suas empresas em disputas
 comerciais, o governo brasileiro deve deixar as empresas ianques fora 
de disputas, como a venda de caças ao Brasil e a concorrência pela 
exploração do Campo de Libra. 
Fátima Lacerda é jornalista da Agência Petroleira de Notícias.
 
 
 
